Atração disputada em palcos de todo o país, Belo passou cerca de quatro anos afastado das multidões, preso por associação ao tráfico. Em documentário lançado nesta quinta-feira (28) pelo Globoplay, o cantor relembra a condenação que recebeu no início dos anos 2000 e outros problemas que teve com a Justiça.
— O que eu vivi foi muito ruim, muito triste. Eu tinha tudo e, do dia para a noite, não tinha mais nada. Você se ver encarcerado em um local de 10 metros, sem poder sair. Isso é horroroso, não desejo nem para o meu pior inimigo — desabafa Belo.
O cantor foi condenado a oito anos de prisão por realizar negociações com o traficante Vado, então chefe da favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro (RJ). Ele chegou a cumprir pena em regime fechado entre 2004 e 2007, tendo depois evoluído ao regime semiaberto.
O envolvimento do artista com o tráfico foi comprovado por meio de uma gravação telefônica, que traz Belo encomendando um fuzil AR-15 do chefe do Jacarezinho. Em outra ligação, Vado pede ao cantor a quantia de R$ 10 mil, que seria utilizada na compra de um carregamento de cocaína. Em troca, ele receberia o fuzil que desejava.
— Ter falado no telefone um minuto e alguns segundos com esse cara com certeza foi o maior erro que eu cometi na minha vida — comenta Belo no documentário.
A produção, intitulada Belo: Perto Demais da Luz, reúne depoimentos de autoridades, amigos do artista e personalidades da mídia que ajudam a desvendar o caso. Não há, contudo, um depoimento contundente do artista sobre a questão. O relato de Belo imprime arrependimento e expõe as dificuldades vivenciadas na cadeia, mas não esclarece os pormenores do contato com o traficante.
Os detalhes sobre o que levou o artista à prisão são dados por fontes como Jorge Hamilton, ex-empresário do Soweto que comenta o fascínio do cantor por armas:
— Ele passou a ser amado pelas mulheres, pelos homens, pelo malandro, pelo traficante, pelo bandido, por todos. E aí, qual era o presente que ele gostava? De arma. Quando ele foi envolvido, ele tinha mais de 50 armas em casa.
Hamilton e outras fontes próximas ao cantor revelam que ele desejava comprar um fuzil AR-15 para "pendurar na parede da sala". Diversos depoimentos recolhidos pela produção do Globoplay apontam certa inocência do artista, que à época parecia não ter noção da gravidade das negociações em que estava se envolvendo, segundo os amigos.
Quando recebeu a condenação, em 2004, após negar qualquer vínculo com o mundo do crime, Belo ficou foragido da Justiça. Ele foi pego pelas autoridades tempo depois, escondido em um cômodo secreto montado em sua própria residência. A ideia teria partido do produtor Stenio Madeira, que confirma a versão e dá detalhes da confecção do esconderijo em depoimento ao documentário. Para as autoridades entrevistadas na produção, ações inconsequentes como esta, além de uma estratégia de defesa "atabalhoada", acabaram por prejudicar o cantor.
O documentário também traz entendimentos distintos sobre o caso. Representantes das forças policiais divergem de opinião: para alguns, a condenação de Belo foi justa, enquanto outros apontam a pena como "exagerada" e definem que o cantor estava "no lugar errado, na hora errada". Personalidades da mídia também são ouvidas, atribuindo o episódio ao "racismo estrutural".
A produção acerta em trazer diferentes pontos de vista e humanizar a figura de Belo sem "passar pano" para os problemas do cantor com a lei. Ainda assim, fica claro que as polêmicas jamais foram maiores do que o legado musical dele.
— Eu criava passarinhos. Quando aconteceu esse problema comigo, a primeira coisa que eu fiz foi abrir a gaiola e soltar tudo. Nunca mais eu deixo um passarinho cantar preso (...) Passarinho nasceu para cantar livre. É isso que eu sentia — reflete Belo.