"Não é nada disso que você tá pensando", "eu posso explicar". Essa sequência de frases é bem comum nos folhetins, assim como a situação que as envolve. Sim, o famoso flagra de traição, clichê exibido em muitas novelas. Em Família é Tudo, Tom (Renato Góes) e Vênus (Nathalia Dill) foram vítima de uma armação criada por Brenda (Lucy Ramos) e Brenda (Alexandra Richter). O problema é que o mesmo tipo de flagrante foi arquitetado anos atrás, na primeira separação do casal.
Ao forçar o público a engolir a mesma história duas vezes, o autor Daniel Ortiz peca pelo exagero. Se em outros núcleos os casais – ou possíveis casais – vivem situações diversas, Tom e Vênus parecem não sair do lugar. Não é possível que a história dos dois gire apenas em torno de um flagrante armado e do trauma da moça a respeito da “traição”. A mãe e a ex-mulher do mocinho parecem aqueles vilões de desenho animado, com zero criatividade na hora de aprontar. É complicado de acreditar que uma mulher tão madura e bem resolvida como Vênus se deixe levar por situações tão bobas. Brenda, falsa até o último fio de cabelo, engana a moça com qualquer historinha, sem causar qualquer desconfiança.
Perfeitos demais
Talvez falte a Tom e Vênus alguns defeitinhos a mais, já que são modelos de generosidade, romantismo e bom caráter, sem nada que os desabone. O rapaz é tão perfeito, sempre disposto a ajudar a quem precisa, que chega a ser ingênuo. Vênus é tão boazinha que só podia ser dona de uma ONG que atende jovens carentes. Faltam camadas que tornem os personagens menos divinos e mais humanos, passíveis de errar como qualquer pessoa.