Correndo por fora do enredo central de Terra e Paixão, Rainer Cadete é um dos grandes destaques da novela das 21h da Globo até aqui. A trama de Walcyr Carrasco chega ao capítulo cem neste mês tendo Luigi, interpretado por Cadete, e Anely, personagem de Tata Werneck, como os protagonistas que o público escolheu.
Fugindo do estereótipo de mocinho, Luigi é um golpista (supostamente) italiano que entra no enredo de Terra e Paixão a partir de seu relacionamento com Petra (Débora Ozório), filha do ricaço Antônio La Selva (Tony Ramos), que ele conheceu pela internet e se aproximou na intenção de dar o "golpe do baú". Apesar de estar casado com a herdeira, é ao lado da igualmente controversa Anely que o italiano vem começando a descobrir o amor.
A dupla de trambiqueiros rouba a cena toda vez que surge na novela, garantindo um alívio cômico para quem já está fadigado do arco dos mocinhos Aline (Barbara Reis) e Caio (Cauã Reymond) — que está cada vez mais enrolado. Na segunda metade da trama, porém, o tempo deve fechar para os golpistas mais queridos de Terra e Paixão.
Em entrevista a GZH, Rainer Cadete fala sobre o futuro de Luigi e Anely, a parceria com Tata Werneck e os desafios de conciliar o trabalho e a vida pessoal, contando detalhes de sua relação com o filho, o adolescente Pietro, de 16 anos. Confira.
O Luigi, ao lado da Anely, está roubando a cena na novela. Quando começou a trabalhar no personagem, você imaginou que ele viraria esse fenômeno?
Eu sempre me dedico ao máximo para deixar os personagens mais complexos possíveis e esperando que sejam bem aceitos pelo público! Quando comecei a pensar no Luigi, sabia que ele era muito denso, que transitava bastante entre o humor e o drama. Mas realmente o sucesso dele superou minhas expectativas.
O Luigi pode ser considerado um vilão ou é somente um trambiqueiro? Como você definiria esse personagem?
Ele é realmente um trambiqueiro, um ladrão. Não posso passar pano para isso (risos). Mas, ao mesmo tempo, ele é muito galanteador, muito carismático, e tem um grande coração também. E isso torna ele real, porque todos nós somos complexos da mesma forma. Não consigo colocá-lo em uma caixinha somente.
Qual é a sua maior dificuldade para interpretá-lo?
Com certeza minha maior dificuldade foi equilibrar o português com o italiano. Eu falo fluentemente italiano, mas tive que moldá-lo para que o Brasil inteiro consiga entender. Eu criei quase uma terceira língua, um "portuliano" (risos).
Qual a sua relação com a Itália?
Quando eu tinha 11 anos, eu fui morar na Itália. Minha mãe se casou com o Raffaele, um italiano, e fomos morar lá. Estudei em uma escola tradicional em Roma, onde eu tinha que aprender inglês, francês, espanhol e latim, tudo em italiano, que eu sequer falava. Mas, depois de uns meses, eu já estava fluente no italiano e respirando aquela cultura que tanto amo. Hoje, sempre que tenho um tempinho, tento voltar, ainda tenho muitos amigos na Itália. Já fiz uma residência artística em um grupo de teatro de lá e também atuei em um filme italiano, chamado Il traditore, do diretor Marco Bellocchio. Gosto tanto que homenageei a Itália dando o nome do meu filho de Pietro.
Como tem sido trabalhar com a Tata Werneck?
Para mim, a Tata é uma das pessoas mais engraçadas do mundo, e o dia-a-dia com ela tem sido mágico. Eu e ela já tínhamos feito uma novela juntos, Amor à Vida. Mas, agora, pude conhecê-la melhor e ver como ela tem uma alma gigante, é uma pessoa iluminada, muito generosa, que sempre muda a energia do ambiente. Já chorei muito de rir com ela. Quero levar pra vida toda!
Sabemos que nos próximos capítulos o tempo vai fechar para essa dupla, mas ainda há muita novela pela frente. Qual a sua aposta para o desfecho deles?
Estamos chegando na metade da novela e com certeza muitas águas vão rolar, vai ter muito conflito ainda (risos). Podemos esperar tudo deles. Eu sigo na expectativa junto com o público, porque à medida que os capítulos vão chegando, eu vou os conhecendo mais e mais.
O Luigi surgiu na vida da Petra através de um aplicativo de relacionamentos - disse ser um milionário, mas na verdade é um golpista. Apesar de muito hilário, esse personagem serve para um alerta importante, não é?
Sim! O Walcyr Carrasco consegue trazer brilhantemente assuntos complexos para o debate através do humor. Com o meu personagem, alertamos sobre os riscos de se relacionar com uma pessoa através das redes sociais sem conhecer de fato quem está do outro lado e quais são as suas intenções. Depois, com o envolvimento do Luigi com a Petra, conhecemos essa personagem viciada em remédios e que tem um processo de compulsão muito sério. Então, a novela tem essa função de fazer refletir além de entreter.
Você já utilizou aplicativos de relacionamentos? Já passou por alguma situação difícil ou inusitada por conta disso?
Eu entrei em um desses aplicativos por causa do Luigi, para entender melhor essa dinâmica. Eu não sabia, por exemplo, que dava para colocar uma foto que não é sua. Então, quando fui falar com a outra pessoa, ela não acreditou que era eu. Fui xingado e bloqueado (risos). Entendi que esses aplicativos não são pra mim. Eu, particularmente, sou um pouco à moda antiga. Gosto de conhecer pessoalmente e de olhar no olho.
Você mora com o seu filho. Como tem sido conciliar a rotina intensa de gravar uma novela das nove com a paternidade?
Antes do Pietro morar comigo, nós já tínhamos uma relação muito próxima. Sempre tive o cuidado de passar para ele que estar presente não precisa ser necessariamente físico. Então, apesar da minha rotina pesada, ele sabe que nosso amor é concreto, real, e que sempre estaremos juntos.
Como é a sua relação com o Pietro?
Eu e Pietro celebramos muito a vida juntos, temos uma relação de amizade muito forte que foi construída com muita transparência e dedicação. Sou muito atento e comprometido com o desenvolvimento dele como pessoa e acho isso fundamental como pai. Ele sabe que estarei presente em qualquer situação que ele precisar. Sinto muito orgulho de vê-lo desabrochando e se tornando um homem focado, consciente e militante.
Você acredita que ele irá seguir os passos dos pais na carreira artística?
Eu acredito. Ele é um garoto muito sensível, poroso e atento. Para mim, ele já é um poeta. Ele já está estudando teatro, música, inglês, francês, capoeira. Ele é muito interessado em se desenvolver intelectualmente. O que ele escolher como profissão eu vou apoiá-lo, mas sinto que ele tem uma veia artística muito forte.
E o que o Pietro acha do Luigi?
Ele sabe que o Luigi traz lembranças muito gostosas da minha infância, que faz reviver momentos muito bons. E sempre que estou fazendo um personagem, estou totalmente mergulhado no seu universo, estudando formas de deixá-lo com mais camadas. Então, o Pietro vê bastante esse meu processo criativo. Em casa, brincamos muito com o sotaque italiano do Luigi, são muito grazie milles, mamma mias, bambinos e por aí vai (risos). É uma diversão.