O dia dos gaúchos começa cedo, às 6h da manhã, com o Bom Dia Rio Grande. Já o finzinho chega logo depois das 19h, quando sobe a vinheta do RBS Notícias. É assim há 40 anos, quando os dois ícones do jornalismo do Rio Grande do Sul estrearam na RBS TV. Muita coisa mudou na televisão de lá para cá. A própria televisão, aliás, tornou-se cada vez mais compacta, a ponto de caber em um aparelho celular. O que não mudou foi a importância dos dois telejornais nascidos em 3 de janeiro de 1983.
Os programas surgiram após um movimento iniciado pela TV Globo, que propôs às afiliadas a implantação de telejornais locais. A sucursal do Rio Grande do Sul, que passava pela transição de TV Gaúcha para RBS TV, aceitou o desafio. À época, certamente, não se previa que os recém-nascidos se tornariam dois gigantes do jornalismo gaúcho, cada um com seu formato e sua linguagem. O Bom Dia saúda os gaúchos com foco nas informações mais quentes somadas a conteúdos de serviço para ajudar o público a projetar seu dia. Já o RBS Notícias traz o que foi mais relevante no dia do Estado, com análise e informações exclusivas.
As respostas para explicar o sucesso podem ser muitas. Para Mariana Pessin, editora-chefe do Bom Dia Rio Grande, no caso do matinal, a receita leva como ingrediente principal a capacidade que o telejornal tem de se fazer relevante para o seu público e a leveza com que busca transmitir as notícias para ele.
– O diferencial do Bom Dia Rio Grande é o horário, que acompanha tanto quem trabalha de madrugada e está chegando, quanto quem acorda cedo para trabalhar ou preparar os filhos. Isso faz com que o nosso conteúdo também seja diferente, porque pensamos nesse público ao planejá-lo – avalia a editora-chefe.
Pessin ainda explica a fórmula:
– Nosso foco é preparar o espectador para o dia, seja contando o que aconteceu na madrugada ou informando aquilo que ele precisa saber antes de sair de casa. Tentamos fazer isso de forma leve, pois o jornal marca o início do dia das pessoas. É um desafio, porque no factual da madrugada, por exemplo, o que mais ocorre são acidentes e crimes. Por isso, sempre tentamos mesclar essas notícias pesadas com conteúdos mais leves.
O ponto de vista é compartilhado pela apresentadora Simone Lazzari, que divide a bancada com o jornalista Léo Saballa Jr. Com oito anos de Bom Dia Rio Grande no currículo, Simone está entre os apresentadores mais longevos que já passaram pelo programa. Esteve presente em diferentes momentos da história do telejornal e, sobre os que não participou, descobriu detalhes conversando com antigos apresentadores e editores para uma reportagem especial que irá ao ar na sexta-feira (6), integrando a programação de aniversário.
Ela garante: muita coisa mudou, mas o compromisso com o que é importante na vida das pessoas acompanha o programa desde a sua gênese. A diferença é que agora, com o avanço da tecnologia, tem sido mais fácil selecionar o que de fato é importante para o público. Um desses facilitadores é o WhatsApp, que a apresentadora viu ser implementado como canal direto de comunicação entre os espectadores e a equipe do Bom Dia Rio Grande, seja para compartilhar fotos de momentos especiais ou denunciar problemas que merecem destaque no telejornal.
– Tiramos muitas pautas dessa interação. Acho muito legal, porque o jornalismo tem que estar atento ao que está acontecendo. Todo mundo, não importa a função que desenvolva, tem que ser repórter. Só que a gente não consegue estar de olho em tudo o tempo todo, então é muito positivo poder contar com essa troca. Fora que, se a pessoa manda mensagem nos contando um problema que está enfrentando, é porque ela confia na gente, reconhece na gente alguém que vai dar valor para isso – afirma a apresentadora.
Semana especial
O agradecimento do jornal aos espectadores será dado ao longo da semana, que contará com diversos conteúdos especiais alusivos ao aniversário.
De segunda a sexta, uma série de cinco reportagens relembrará os fatos marcantes cobertos pelo programa nas diferentes regiões do Estado ao longo dos últimos 40 anos, com uma reportagem para cada região. De segunda a quinta (5), outra série de reportagens mostra os assuntos mais importantes em cada década do Bom Dia — a partir do relato de quem viveu e de quem apresentou os fatos.
Fechando a semana, na sexta, um programa especial de aniversário trará repórteres ao vivo em pontos da cidade que são tradicionais na cobertura, com antigos apresentadores do tempo e do trânsito. Também na sexta-feira, três reportagens vão contar como o programa cobre os assuntos mais importantes do jornal — tempo, trânsito e emprego — na voz de apresentadores, produtores, repórteres e instituições parceiras nesses conteúdos, como o Sine.
Para encerrar, serão exibidos o bate-papo de Simone Lazzari com os ex-integrantes do Bom Dia e uma reportagem mostrando a rotina de apresentadores, editores, produtores, equipes de reportagens e editores de imagem do programa desde a hora em que acordam até o fim do telejornal. Este último conteúdo é uma espécie de presente para os espectadores, segundo a editora-chefe:
As pessoas têm curiosidade de saber como funciona a TV, mas, no caso do Bom Dia, elas também têm curiosidade de conhecer a rotina de quem trabalha nele, por conta do horário extremo
MARIANA PESSIN
editora-chefe
– As pessoas têm curiosidade de saber como funciona a TV, mas, no caso do Bom Dia, elas também têm curiosidade de conhecer a rotina de quem trabalha nele, por conta do horário extremo. O espectador quer saber a que hora os apresentadores acordam para estar no ar às 6h, como se organizam para dormir cedo, essas coisas.
De olho no futuro
O público do RBS Notícias, o segundo aniversariante do dia 3 de janeiro, também ganhará presente. Já está ganhando, na verdade. Da última terça-feira (27) até esta, o telejornal noturno vem apresentando uma série de reportagens que propõem projetar o futuro do Estado em suas cinco regiões, nas mais diferentes áreas.
Conforme o apresentador e editor-chefe Elói Zorzetto, que divide a bancada com Daniela Ungaretti, o RBS Notícias não queria fazer somente uma retrospectiva de sua história: queria entregar algo para as pessoas. E daí surgiu o projeto.
– O RBS Notícias sempre foi um jornal estruturante, por isso imaginamos que esta seria a melhor forma de celebrar os seus 40 anos. Entendemos que seria mais interessante para os espectadores ouvir de pessoas importantes quais são as suas perspectivas de futuro para o Estado do que relembrar coisas que eles já viram – explica o âncora. – Nesta série de reportagens, estamos retratando todas as regiões do Estado com uma visão do que elas preveem para as próximas quatro décadas. Isso entra no espectro da economia, da inovação, da pesquisa, da educação, do desenvolvimento rural e do desenvolvimento industrial, de acordo com as características de cada região – detalha.
As pessoas têm cada vez mais facilidade em acessar notícias, mas há coisas que só a investigação jornalística aguçada pode trazer
ELÓI ZORZETTO
Apresentador e editor-chefe
O material tem tudo a ver com a proposta do telejornal, caracterizado por ir além do informativo e trazer contextualização e análise para os fatos.
Com o desenvolvimento da tecnologia, que leva informação para a palma da mão de todos via celular, esta busca de profundidade também aumentou: dar o contexto, explicar os fatos e antecipar o que vai acontecer é cada vez mais importante para o público da televisão. Que segue convencido disso: há 40 anos, o telejornal mantém-se líder de audiência no horário.
– O telejornalismo continua o mesmo, o que mudou foi a tecnologia, a tela e a forma como as pessoas o consomem. Hoje em dia, não sofremos tanto na produção das notícias, porque a tecnologia facilitou muita coisa. Em contrapartida, temos investido ainda mais no jornalismo investigativo e de profundidade. As pessoas têm cada vez mais facilidade em acessar os fatos, mas há coisas que só a investigação jornalística aguçada pode trazer – analisa Elói.