Retratando o passado e debatendo o futuro de um dos movimentos mais importantes da cultura gaúcha, a série documental 50 Anos de Nativismo estreia nesta terça-feira (22), às 21h30min, na TVE-RS. Com direção de Henrique de Freitas Lima (Concerto Campestre e Lua de Outubro), a atração totaliza nove episódios, que serão exibidos semanalmente, de 26 minutos. Haverá reprises nas quartas, às 17h30min.
A série aborda desde os precursores da música regionalista — como Pedro Raymundo, Irmãos Bertussi, Gildo de Freitas e Teixeirinha —, recupera a construção da 1ª edição da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, chegando até a discussão sobre os rumos do nativismo. Em cada episódio, há depoimentos de músicos e especialistas, além de vídeos de apresentações e material iconográfico.
Freitas conta que foi convidado para realizar a parte audiovisual do projeto pelos produtores João Bosco Ayala e Luci Caminha, que organizaram o espetáculo 50 Anos de Nativismo — Tempo em Movimento. O objetivo original era celebrar, em 2021, o cinquentenário da 1ª Califórnia da Canção Nativa, que é apontada como marco do movimento. Aliás, no segundo episódio, o compositor e escritor Luiz Coronel define o festival como "a Semana de Arte de 1922 do Rio Grande do Sul", pois é esse evento que "propõe a modernidade da música gaúcha".
— Tivemos muitas dificuldades, mas estou muito contente com o resultado. Não conseguimos captar recursos expressivos, a maior parte foi financiada pela minha família — atesta Freitas.
Com o projeto, o diretor também homenageia o seu pai, Henrique Dias de Freitas Lima (1932-2005), o primeiro presidente da Califórnia, apontado como um dos responsáveis pelo êxito do evento e, consequentemente, do nativismo. Segundo Freitas, ele foi "um líder inconteste do grupo de voluntários, que começou o movimento sem a mínima ideia do que viria a seguir".
O diretor frisa que procurou construir uma série para o país inteiro, visando a ser exibida na TV Brasil, não de gaúchos para gaúchos. Ao longo dos episódios, 50 Anos de Nativismo mostra que, com a consolidação da Califórnia, uma nova classe de artistas passa a ter seu espaço e, ao mesmo tempo, um novo público começa a consumir a canção regional gaúcha. O movimento vive seu apogeu nos anos 1980, com a multiplicação de festivais e músicos, além do uso da bombacha e o hábito do chimarrão invadindo os centros urbanos.
No nono e último episódio, a série propõe uma avaliação geral dos 50 anos do movimento, refletindo sobre os rumos do nativismo para o futuro. Para Freitas, há uma necessidade de reinvenção, de melhor aproveitamento das novas tecnologias, além da mudança "na essência da maior parte dos eventos, priorizando a mostra e não a competição".
— Na década de 1970, havia poucos artistas de qualidade no gênero com repertório para segurar shows. Hoje, são muito — explica. — E é unânime a percepção de que as canções, especialmente as letras, perderam qualidade. Mas, para compensar, há uma legião de instrumentistas e novos talentos. Entre esses, curiosamente, a maior parte é formada pelas mulheres.
Portanto, um futuro feminino se vislumbra. Talvez um dos primeiros depoimentos no episódio inicial da série, do músico Ernesto Fagundes, já dê o tom: "Nativismo é um sentimento. Para ter esse sentimento de amor à terra, não precisa ser um tradicionalista".