"A vida pode ser resumida a uma gota no oceano, mas só quem conhece a profundidade do mar sabe que a resposta não está na superfície". Nesse trecho do livro Mar Calmo Não Faz Bom Marinheiro (Insígnia Editorial, R$ 69,90, preço médio), Max Fercondini, 37 anos, resume como tem sido sua experiência de vida nos últimos cinco anos. A bordo de um veleiro, ele já completou três travessias oceânicas, somando mais de 20 mil milhas navegadas, chegando a ficar 40 dias em alto-mar. Mas a aventura marítima não foi a primeira e, certamente, não será a última da vida do ator. Tudo começou em 2013, época em que fez sua última novela na Globo, Flor do Caribe. Sem trabalhos no horizonte, embarcou em outro sonho: cruzar o Brasil pilotando um avião. Não satisfeito, percorreu a América do Sul em um motor home, em mais de 21 mil quilômetros de estradas. Faltava ainda a experiência de velejar por mares, enfrentar tempestades, tormentas e, sobretudo, a solidão.
— No mar, eu aprendi que se tem uma pessoa responsável pelo seu sucesso ou fracasso, essa pessoa é você — reflete Max, que atualmente está atracado na costa da Europa.
O ator, aventureiro e escritor conta um pouco de suas façanhas por céu, terra e mar.
O que te motivou a viver esse tempo em um veleiro?
Eu decidi mudar de vida. A ideia nunca foi viver no mar, acabei me apaixonado por essa vida, mas o objetivo era fazer as expedições, seja pelo céu, pela terra ou pelo mar, para poder comunicar o que eu gostaria, que é mostrar as belezas naturais, os projetos sociais e socioambientais. Acabei me apaixonando por esse estilo de vida. A ideia inicial era ficar um ano e meio e, agora, já estou há cinco anos vivendo no veleiro.
Qual foi o principal aprendizado que a vida no mar te trouxe?
Estando no mar, você aprende a superar o medo, a lidar com a solitude, conhece a si mesmo, vive experiências novas todo o tempo. Não é possível resumir em um aprendizado, é uma vivência completa que te ensina todo o tempo.
O que é mais difícil na vida em alto-mar? O que só tem em terra firme que faz mais falta?
São inúmeros desafios. Na condução do veleiro, no oceano, nos ventos, cada instante é um desafio diferente. Sinto saudade da família e dos amigos, mas, hoje em dia, temos facilidade de comunicação pela internet. Quando estou navegando pela costa das cidades, geralmente tenho acesso a internet por uns quatro minutos, então mantemos contato sempre.
E qual é a melhor coisa de estar no meio do oceano, sem amarras?
É justamente a liberdade de estar, viver o dia a dia, sem a correria que estar em sociedade nos traz.
Entre o seu primeiro livro, América do Sul sobre Rodas (Novo Conceito, 79,90), e o mais recente, passaram-se cinco anos. O que mais mudou na sua essência de lá para cá?
A essência é a mesma, mas, nesses cinco anos, eu vivi bastante, conheci novos lugares e culturas. Com isso, tolerância e percepção de vida se expandem. E me encantei por velejar, tenho explorado esse universo náutico cada vez mais e sigo ansioso pelas próximas expedições que virão.
Você sente falta de trabalhar como ator? Ou sente que este é um ciclo que já ficou para trás na sua vida?
Costumo dizer que estou vivendo coisas incríveis hoje. Claro que sinto falta dos meus amigos, dos colegas, do ambiente, mas minha vida está tão preenchida por tantas outras coisas fantásticas, que me trazem tanta realização, que eu acho difícil ter vontade de interpretar algum outro personagem que não seja eu mesmo: Max aventureiro, Max velejador, Max piloto. E esse personagem tem sido muito divertido viver.
Teve algum perrengue mais sério nesse período no mar? O que passou pela sua cabeça na hora?
Olha, só de estar em um barco, por 20 dias, já é um risco muito grande. Costumam perguntar de ondas: a maior que peguei foi de seis metros de altura durante a travessia do Atlântico. Já peguei ventos que chegaram a danificar o cabo da vela, eu não conseguia recolher a vela, já passei por uma situação em que o motor do veleiro de auxílio, para entrar e sair da marina, parou. Tive que entrar na marina velejando sem freio, onde precisei controlar as velas de maneira a chegar no píer lentamente e atracar na marina. Cruzando o Atlântico, sem o piloto automático, gera muito cansaço. E o cansaço traz muito risco: de escorregar, cair, abre margem para erro. Enfim, passei por diversas situações dessas e falo mais sobre cada uma e como me senti no livro.
Depois de desbravar céu, terra e mar, o que ainda falta na sua trajetória? Que aventuras tem em mente para o futuro?
Como próximo projeto, minha ideia agora é voltar ao Mediterrâneo, navegando pelo Norte, passando pelos países da Europa, gravando programas que quero contar sobre história, gastronomia e cultura, por volta de dois anos, com destino final na Turquia, que pretendo lançar por streaming ou na TV aberta.