Seria a personagem de Selena Gomez uma assassina? Eis o ponto de partida da segunda temporada de Only Murders in the Building, que estreou na terça-feira (28) na plataforma de streaming Star+. Misturando mistério com drama e, principalmente, comédia, a série acompanha um trio de aficionados por podcasts sobre crimes reais que, de repente, têm a chance de investigar um assassinato em primeira mão.
Selena, 29 anos, não é o único nome de sucesso nos créditos da atração. Ela, na verdade, divide os holofotes com duas lendas de Hollywoood: Steve Martin, 76, e Martin Short, 72, que já trabalharam juntos no passado em filmes como Três Amigos! (1986) e O Pai da Noiva (1991). No que parece uma piada dos roteiristas em relação ao público mais jovem, que talvez chegue na série apenas devido à participação de Selena (ela, afinal, conta com 331 milhões de seguidores somente no Instagram), os dois atores que somam décadas de fama no cinema e na televisão vivem aqui artistas em decadência.
Martin é Charles-Haden, um ator que fez sucesso na juventude como o canastrão detetive Brazzos, em uma série de televisão homônima, cuja existência é lembrada apenas pelos personagens com cabelos brancos, e depois nunca mais emplacou outro papel. Já Short interpreta Oliver, um diretor da Broadway que não tem um musical de sucesso há anos, após uma montagem desastrosa que ainda o assombra.
Não que Mabel — a personagem de Selena — não tenha sua coleção de agravos: usualmente vestida em tons de laranja (peças azuis entram para o guarda-roupa dela na segunda temporada) e com botas cheias de estilo, como nota um dos personagens, por dentro ela é uma jovem millennial traumatizada, depois de ter dois de seus melhores amigos de infância assassinados e o terceiro preso injustamente por um dos homicídios.
O que une esse trio ímpar é, primeiramente, o endereço: os três vivem no peculiar edifício Arconia, um antigo condomínio gigantesco no Upper West Side de Nova York, que mantém certas glórias do passado em seu estilo que remete mais à renascença italiana do que aos EUA. Dominado por figuras marcantes — de astros do rock (Sting) a estrelas de televisão (Amy Schumer) —, o Arconia não é um mero cenário para os crimes de Only Murders in the Building (cuja tradução é, literalmente, "apenas assassinatos no prédio"), como também um quarto protagonista para a história, com suas passagens secretas e calabouços, tal qual o castelo assombrado de um romance gótico.
E, por falar em romances góticos, há outro traço importante que liga os três protagonistas: todos são obcecados por podcasts true crime. Uma mistura de radionovela com romances policiais, nesses programas, podcasters investigam crimes reais e narram o passo a passo de suas aventuras em áudio, em um formato para lá de bem-sucedido nos Estados Unidos (o primeiro grande sucesso do gênero, Serial, lançado em 2014, é creditado como a principal força na popularização de podcasts naquele país na última década, por exemplo, depois de registrar milhões de downloads por capítulo).
Mabel, Charles e Oliver são fascinados por essas histórias, esperando fanaticamente os episódios semanais dos programas de Cinda Canning (Tina Fey). Logo, quando o Arconia é palco de um misterioso homicídio, nada mais natural para os três do que promover uma investigação paralela sobre o caso — e produzir e publicar um podcast em que revelam seus achados.
Há um certo surrealismo em Only Murders in the Building, que torna possível acreditar que sim, claro que esse trio de amadores será capaz não apenas de investigar um assassinato, como também de prender um criminoso e alcançar um sucesso inimaginável com seu podcast. A primeira temporada, com 10 episódios de cerca de 30 minutos cada, é quase como uma história de Scooby-Doo, com os três colecionando pistas, indo atrás de suspeitos e, quase sem querer, desmascarando os vilões.
É notável também a abordagem única que a série adota, com o humor frequentemente recorrendo a elementos de metalinguagem (os novos episódios têm mais de uma piada sobre a dificuldade de fazer a segunda temporada de um programa de sucesso). É algo visível desde o material de divulgação da temporada anterior, quando a primeira vítima da série, Tim (Julian Cihi), entra em um elevador com os protagonistas, olha diretamente para a câmera e avisa o público: "Daqui a cerca de 12 minutos vou ser assassinado".
Como em todo bom podcast true crime, essas frases de efeito durante a narração, cheias de cliffhangers (ou ganchos, recursos que prendem a atenção do espectador), são lugar comum na série. Ajuda que, de tanto em tanto, quando uma delas é pronunciada, um dos personagens exclame: "Você vai ter que repetir essa frase, eu não estava gravando!". Foi justamente em um desses cliffhangers que a primeira temporada da série chegou ao fim, em outubro do ano passado, com Mabel ensanguentada, segurando a arma do crime ao lado de uma nova pessoa assassinada no Arconia, afirmando: "Não é o que vocês estão pensando".
Os novos episódios retomam a trama exatamente desse ponto em diante, com os protagonistas passando de investigadores a investigados. A reviravolta é ainda mais irônica por um pequeno detalhe: além da polícia, une-se à investigação uma podcaster. E é ninguém menos do que a heroína dos três, Cinda Canning, que agora deseja condená-los.
Com lançamento semanal no catálogo do Star+, sempre às terças-feiras, Only Murders in the Building segue no ar até 23 de agosto. Criada pelo próprio Steve Martin, em parceria com John Hoffman, a obra tem produção executiva de Dan Fogelman, de This is Us. Ainda não há informações sobre uma terceira temporada.