Dia a dia na escola, conflitos familiares, inseguranças, primeiro amor, descoberta da sexualidade. Esses são só alguns dos tópicos que perpassam uma das fases mais marcantes da vida: a adolescência. Nas telas, muitas produções dão conta de traduzir os altos e baixos do período juvenil, mas engana-se quem pensa que elas só fazem sucesso entre quem está vivenciando as situações retratadas nos seriados naquele momento.
Séries adolescentes como a inglesa Sex Education, que estreou sua terceira temporada na Netflix nesta sexta-feira (17), romperam a bolha e viraram queridinhas também dos espectadores que já superaram os dramas juvenis há um bom tempo — em 2019, seu ano de estreia, a produção foi a quinta mais assistida pelo público brasileiro na plataforma. Elite, também da Netflix, e Euphoria, da HBO Max, são outros bons exemplos de produções teen que fizeram sucesso entre os mais crescidos.
Mas, afinal, por que os adultos se interessam por esse tipo de história? GZH reuniu pontos que podem ajudar a entender o motivo de as séries juvenis estarem cada vez mais em alta.
"Comfort series"
Sabe aqueles dias em que você está cansado das obrigações da vida adulta e só quer assistir algo leve no streaming para desopilar, sem ter que pensar muito? As séries com temáticas adolescentes são perfeitas para isso — e parece que muita gente já descobriu isso.
Produções do gênero são ótimas candidatas ao título de "comfort series", conceito que engloba seriados capazes de despertar uma sensação de conforto no espectador. Aí, o leque pode conter produções com tramas fáceis e divertidas — como Sex Education e Eu Nunca, duas queridinhas da Netflix nos últimos anos — ou aquelas que já ocupam um lugar especial no coração de muita gente — como os clássicos teen do início dos anos 2000 The O.C: Um Estranho no Paraíso e One Tree Hill: Lances da Vida, ambas disponíveis no Globoplay.
Nostalgia e identificação
Mas não é só pela historinha divertida que as tramas originalmente pensadas para o público juvenil tem virado o conforto cultural dos adultos. Parte disso tem a ver com dois sentimentos importantes quando o assunto é fisgar o espectador: a nostalgia e a identificação.
Afinal, como o nome já sugere, quem nunca viveu um amor platônico e se sentiu meio Devi, de Eu Nunca? Ou então teve problemas no relacionamento com a mãe, aos moldes de Ginny de Ginny e Georgia (Netflix)? E as aventuras e desventuras da descoberta da sexualidade, como aquelas vividas por diversos personagens de Sex Education?
O fato é que assistir a esses enredos comuns da fase pré-adulta na tela pode transportar o espectador para uma outra época de sua vida, mexendo assim com a memória afetiva. É fácil se identificar com algumas das questões mostradas nas séries teen e até sentir saudade do período em que tudo parecia mais fácil, e se sair bem no primeiro beijo era uma preocupação digna de deixar os cabelos em pé.
Temas relevantes
Mas apesar das amenidades, cada vez mais há espaço para temas bastante sensíveis nas produções teen — o que provavelmente também vem contribuindo para que as tramas deixem de atingir apenas seu público-alvo. Está aí Euphoria, da HBO Max, que não deixa mentir.
Abuso de drogas, transtornos psicológicos, violência doméstica e LGBTfobia são apenas algumas das questões abordadas na série, que tornou-se um verdadeiro fenômeno. Alguns temas são tão fortes que o seriado protagonizado por Zendaya chegou a ser alvo de manifestações de associações de pais de adolescentes, que questionavam se a trama poderia ser destinada ao público juvenil.
Outros bons exemplos são as séries que contribuem para a superação de determinados estereótipos e podem chamar a atenção de espectadores de todas as idades. É o caso de Atypical, cujo protagonista está no espectro autista, e Special, focada em um adolescente com paralisia cerebral que compartilha das mesmas questões comuns a qualquer outro jovem da sua faixa etária (ambas da Netflix).
Já a nacional Sintonia — terceira série mais assistida pelos brasileiros na Netflix em 2019, entre produções lançadas naquele ano —, traz um "outro lado" da vida dos jovens de regiões de periferia, focando não apenas em questões que passam pela criminalidade desses espaços.
Adaptáveis para vários gêneros
E, além dos assuntos diversos, há espaço para todo tipo de trama se desenvolver entre as agruras da adolescência. Para a Netflix, plataforma que vem investindo cada vez mais nesse tipo de produção, a versatilidade está entre os principais fatores para o sucesso das criações entre diferentes públicos.
— Uma razão da popularidade desse tipo de série talvez seja a universalidade inerente aos temas que exploram, não importa sua idade — disse o vice-presidente de séries originais para jovens da plataforma, Brian Wright, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Pretty Little Liars (HBO Max), Elite e Riverdale (Netflix), por exemplo, dão conta de abordar os bastidores do Ensino Médio agradando também quem curte suspenses policiais — esta última, ainda com uma boa dose de surrealismo.
Já On My Block e I Am Not Okay With This mandam bem na comédia dramática, enquanto Julie and the Phantoms e a clássica e premiada Glee entregam tudo e mais um pouco para os apaixonados por musicais. Quando a preferência é drama, Sangue e Água, Gatunas, Young Royals e The Society são boas opções (todas disponíveis na Netflix).
Algumas são tão bem-sucedidas em seus gêneros, que é até possível que alguém esqueça que está assistindo a um seriado teen. É o caso de Stranger Things, ficcção científica que conquistou espectadores por todo o mundo e consagrou-se como uma das poucas produções juvenis a concorrer nas categorias principais do Emmy — Glee e Euphoria também integram a lista seleta. Mas, não se engane, lá no fundo, elas são séries adolescentes (e não há nada de errado nisso).