Quem viveu no Rio de Janeiro no começo dos anos 2000 ouviu falar de Pedro Dom. A história estampou os mais diversos jornais e ganhou horas de repercussão em noticiários nacionais. Era um jovem de classe média, dependente químico, filho de um policial e que se tornou líder de uma quadrilha especializada em assaltar edifícios de luxo.
Porém, na visão do pai do rapaz, o já falecido Victor Dantas, a trajetória de Pedro Dom, carregada de violência, sofrimento e que culminou em um desfecho trágico, nunca foi contada da maneira "correta" pela imprensa. Apesar de saber todos os crimes de seu filho, ele queria que a "história verdadeira" fosse levada ao público. Por isso, há 12 anos, procurou o cineasta Breno Silveira (de 2 Filhos de Francisco) e pediu para que a vida do jovem fosse contada por ele.
Após anos de amadurecimento, Silveira decidiu que era hora de Pedro Dom ser trazido de volta ao grande público como forma de reflexão sobre como o combate às drogas é ineficaz no país, visto que o problema segue — e cresce — através das décadas. O cineasta acabou apresentando o projeto da série Dom para o Amazon Prime Video, que embarcou na ideia e, a partir desta sexta (4), vai levá-la para diferentes países.
— No começo, fiquei com medo de contar essa história, achava que era muito pesada. Com o passar do tempo, fui conhecendo melhor o sofrimento do Victor e percebi que ele era um pai querendo mostrar que o seu filho não era o monstro retratado pelos jornais da época. Essa jornada, em que ambos foram vítimas, é de tocar a alma e mostra onde estamos como sociedade — disse o cineasta em entrevista coletiva.
Na mesma ocasião, Malu Miranda, head de Conteúdo Original para o Brasil do Amazon Studios, explicou que o talento de Silveira para desenvolver personagens e a conexão que ele tinha com a história foram essenciais para a aprovação do projeto, que recebeu alto investimento.
— O Amazon Studios está no jogo da qualidade, e não do volume. Priorizamos contar histórias sempre em um nível altíssimo. A força do storytelling do Brasil é muito forte, e acreditamos que Dom será um sucesso — garantiu Malu.
Essa atenção à qualidade citada por Malu é perceptível no decorrer dos episódios. Com um elenco composto por 180 atores, além de 3 mil figurantes em 164 locações, Dom traz reconstituições de duas épocas distintas: os anos 1970 e o começo dos 2000. O resultado do trabalho do design de produção é primoroso, e a série não fica devendo em nada para grandes produções hollywoodianas.
Revivendo a história
Apesar de ser um competente thriller policial, Dom também é uma história de amor de um pai por um filho. Para que fosse possível contar essas duas visões sobre o protagonista — de criminoso e de filho amado por pais que nunca desistiram dele —, o desempenho dos atores foi essencial. Uma decisão técnica também foi importante para contar essa história: a série foi gravada em ordem cronológica, o que não é comum em grandes produções, uma vez que dificulta e encarece o processo.
Com essa vantagem narrativa, os atores envolvidos foram vivendo os dramas da história conforme foram ocorrendo. Desde o primeiro episódio, é possível notar a química entre os protagonistas, que entregam performances viscerais desde os minutos iniciais da série.
Durante a coletiva de imprensa, os atores Gabriel Leone e Flavio Tolezani, que vivem, respectivamente, Pedro Dom e Victor Dantas, comentaram que Breno Silveira tinha uma visão muito consolidada sobre como contar a história, pelo contato próximo com o pai do personagem que inspirou o projeto, e que isso ajudou na hora da preparação para os papéis. Além disso, intensos ensaios entre os atores foram realizados para a construção sólida da relação entre eles, embasada em um roteiro poderoso.
— Queríamos mostrar que, apesar de tudo, havia amor, amizade e carinho entre pai e filho, que seguiam mantendo os laços. Um nunca perdeu o outro, mesmo com eles vivendo de lados opostos — contou Leone.
Para Tolezani, é importante a história ir a público da maneira como está sendo contada em Dom, para ajudar a refletir sobre o tema da dependência química. Segundo ele, os episódios se desenrolam sem julgamentos e colocam o espectador para entender o problema de dentro:
— O nosso grande serviço é expor tudo isso sem apontar dedos. A série está ali para mostrar o efeito destruidor das drogas, mas também que pai e filho nunca perderam a sua conexão. Victor queria dizer "meu filho não foi só um marginal" e acredito que conseguimos mostrar isso.
Veja o trailer: