Lutar contra a rejeição da família levou Mário (Daniel Rocha) para longe de Nova Petrópolis (RS). Após quatro anos felizes vivendo no Rio de Janeiro com o namorado, Fernando (Felipe Abib), ele volta para a cidade natal a fim de contar a verdade sobre a sua vida para o pai, Antonio (Zé Victor Castiel). O dilema de enfrentar a homofobia e o machismo do patriarca é somente o início de Quem Vai Ficar com Mário?, comédia que estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas brasileiros.
Ao chegar ao local, Mário precisará rever seus planos ao constatar que a cervejaria administrada pelo pai está sob um turbilhão de mudanças. Uma coach, Ana (Letícia Lima), contratada para alavancar o negócio, gera em Mário uma paixonite inesperada, e o irmão mais velho dele, Vicente (Rômulo Arantes Neto), é obrigado a abandonar a gerência da fábrica ao assumir que também é gay. Eis o início de uma intensa batalha em busca da felicidade.
— A gente só consegue isso se aceitando e aceitando o outro, independentemente da orientação sexual. É tão triste quando se vê alguém que foi rejeitado pela família ou pelos amigos por causa disso. Não se ganha nada com a rejeição, com o ódio. A gente só ganha por meio do amor e da empatia — afirma Daniel Rocha.
Cidade poética e romântica
Como pano de fundo, cenários de Nova Petrópolis como o pórtico da cidade e as ruas Rio Branco e 7 de Setembro foram utilizados para ambientar o espectador. A equipe técnica do longa-metragem esteve na cidade entre maio e junho de 2019, durante uma semana, com parte dos atores. Outras cinco semanas de gravações foram realizadas na região serrana do Rio de Janeiro, onde foram reproduzidos os cenários gaúchos por uma questão de orçamento.
O diretor Hsu Chien Hsin conta que ficou deslumbrado com a delicadeza da cidade, que complementou o clima necessário para representar o drama vivido por Mário.
– Nova Petrópolis é muito poética e romântica, o que era muito importante, porque Mário se reconecta com ela depois de um tempo. O visual conseguiu trazer o lúdico recuperando a infância e a adolescência dele, que era o que eu tanto precisava – explica Hsu Chien, que já trabalhou em filmes como Ninguém Entra, Ninguém Sai (2017), Minha Mãe É uma Peça (2013) e De Pernas pro Ar (2010).
Reflexão é bandeira do filme
Apesar da ambientação na cidade gaúcha de 21 mil habitantes, a sensação é de que a cenografia caberia em qualquer local do interior brasileiro. A preocupação em contrapor o conservadorismo e a aceitação dos LGBTs é algo presente em todo o país, de acordo com Zé Victor Castiel.
— O Rio Grande do Sul é um Estado extremamente discriminador e ainda muito escravagista, mas não é da minha alçada contestar ideias. Apesar disso, acredito que o meu personagem seria igual no interior de Bahia, Goiás, Amazonas, por exemplo. Isso tudo não tem a ver com o Rio Grande do Sul, existem Antonios pelo Brasil inteiro — diz o ator gaúcho.
A reflexão é uma bandeira forte de Quem Vai Ficar com Mário?. O filme conta com a transexual Nany People, que vive Lana, uma amiga do protagonista que aparece em Nova Petrópolis após perceber a instabilidade do romance entre Mário e Fernando. Segundo Hsu Chien, Nany também contribuiu com o roteiro na construção dos personagens e das falas.
— Logo que entrei no projeto, eu disse que não queria trabalhar com um retrato caricato. Atualizamos o tema, porque não é mais aceitável aquele tipo de olhar hoje em dia. Eu tinha que poder acreditar que os gays ali retratados eram pessoas reais — reforça o cineasta.
Coragem de ser feliz
O filme desenvolve os dramas dos personagens sem deixar o humor de lado. Para Castiel, este é um dos grandes méritos da produção:
— Conseguimos escancarar, por meio da risada, que a discriminação no século 21 é a maior babaquice da história da humanidade. O cara que consegue ser assim ainda é um verdadeiro babaca, que não vê que a fila andou.
Para completar, o longa chega aos cinemas na semana do Dia dos Namorados (comemorado neste sábado) e no mês do orgulho LGBT+. Assim, Quem Vai Ficar com Mario? é um bom exemplo na constante luta por representatividade e aceitação de todos os gêneros.
— Nos meus filmes anteriores com a temática, escalei atores e atrizes trans, travestis, gays. Agora, voltei a incluir esses profissionais, mas me cerquei de atores que compartilhassem comigo a mensagem de ter coragem de ser feliz. É como diria Mário: "Amamos pessoas, não gêneros" — finaliza Hsu Chien.