Quando não se entende o passado, sempre se comete os mesmos erros. A frase dita por Rodolfo (Alejandro Nones), o filho mais velho da família Lazcano, em um dos episódios inéditos de Quem Matou Sara?, define bem a ousadia dos roteiristas de sua segunda temporada. A série mexicana ganha oito episódios nesta quarta-feira (19), na Netflix.
Lançada em março deste ano, a primeira temporada ficou por vários dias entre as 10 mais vistas do Brasil e alcançou 55 milhões de assinantes da plataforma em todo o mundo. Os episódios com tramas rápidas ajudaram a segurar o espectador para desvendar o mistério do assassinato de Sara (Ximena Lamadrid), que morreu em um incidente com um paraquedas na casa de campo da família Lazcano, dona de um poderoso cassino na Cidade do México.
Quem assistiu à primeira fase lembra que Alex (Manolo Cardona) foi incriminado injustamente pela morte e ficou preso por 18 anos. O ponto de partida foi seu plano de vingança contra a poderosa família, cujas ações seguem cheias de subtramas inesperadas na segunda temporada. Como visto na fase inicial, o irmão de Sara liderou um plano contra o império de César (Ginés Garcia Millan) com a ajuda da filha do empresário, Elisa (Carolina Miranda).
Atenção: spoilers a partir daqui.
A segunda temporada capricha na criatividade e consegue desenvolver mais reviravoltas. Conforme os três episódios iniciais, liberados à imprensa, Alex conseguirá dar passos largos em seu plano contra o assassino da irmã, sobre quem (o assassino) insiste em não revelar a verdade, mesmo quando questionado por Elisa e Rodolfo. O problema é que o passado, tão nebuloso para todos os personagens, terá total influência nesta fase, com direito à reaparição de personagens tidos como mortos.
Logo no início, o espectador descobrirá que Sara sofria de bipolaridade. O romance anterior dela com Rodolfo, que parecia sólido mesmo sob as ameaças de Elroy (Héctor Jiménez), ficará duvidoso com novas descobertas. As relações dela com o pai (até então pouco comentadas) e com a ex-melhor amiga Marifer (Ela Velden) se mostram fundamentais para a solução do crime. Alex irá conectar isso, principalmente, com o corpo que foi encontrado no jardim de sua casa.
Família
As outras subtramas devem provocar ainda mais ansiedade nos espectadores. Quem assistiu La Casa de Las Flores, acompanhando as personalidades dúbias da família De La Mora, vai achar que está vendo uma formação semelhante em Quem Matou Sara? com os Lazcanos. Cada membro terá sua própria provação nesta nova temporada: algumas delas até soam inverossímeis.
Rodolfo, após ter descoberto a traição da esposa com o próprio sogro, fica mais expressivo nesta temporada, dando-se conta sobre o quanto os erros do passado são irreversíveis. Finalmente, o primeiro na linha dos herdeiros passa a enfrentar o pai e a mãe por suas ações duvidosas e cresce na história.
Já Chema (Eugenio Siller), filho do meio dos Lazcanos, vive uma dualidade inusitada. Em crise no seu casamento com Lorenzo (Luis Roberto Guzmán), ele se aproxima ainda mais de Clara (Fátima Molina), que topou ser a barriga de aluguel do casal gay. A mulher, inclusive, tem uma relação direta com a trama principal de Sara e, talvez, esta seja a maior reviravolta de toda a história.
Por isso, quando menos se espera, a nova fase de Quem Matou Sara? consegue mover os personagens como se fossem peças em um tabuleiro. Personagens que não pareciam ser relevantes ganham força, se movimentam e devem deixar ainda mais agoniado o espectador, que facilmente terá vontade de maratonar a temporada do início ao fim, sem pausas.
O único porém, ao contrário do xadrez, é que não sabemos quem será o grande vitorioso deste jogo. Mesmo que seus personagens tomem decisões de certa forma dúbias, Quem Matou Sara? cativa graças a Manolo Cardona, que segue dando consistência para Alex. Pode até ser que ele não complete sua vingança, com o surgimento de novas incógnitas, mas a sua jornada já valeu a nossa atenção.