Reality show que estreia sua quinta temporada nesta terça-feira (11), logo após a novela Império, na RBS TV, o No Limite já teve uma representante gaúcha. A empresária Patrícia Diniz, que ficou conhecida no país pelo apelido de Pipa, foi a vice-campeã da primeira temporada do programa de sobrevivência. Em entrevista a GZH, a ex-participante relembrou os maiores desafios na competição, revelou seus aprendizados e contou o segredo para ir à final do programa, que contará com apresentação de André Marques e elenco formado por ex-BBBs.
Hoje com 50 anos, mãe e proprietária de uma cafeteria no bairro Auxiliadora, em Porto Alegre, Pipa recorda que participou de todo o processo seletivo para o programa sem saber o que era a atração. Segundo a gaúcha, foram cerca de dois meses de testes, dinâmicas e entrevistas totalmente no escuro. Ela, que à época trabalhava como atriz, acreditou estar participando da seleção para algum trabalho relacionado à dramaturgia.
A descoberta de que estaria em No Limite, primeiro reality show de sobrevivência do país, só veio às vésperas das gravações, quando chegou ao Ceará. Aventureira, Pipa garante que o susto não foi tão grande assim:
— Foi maravilhoso porque eu sempre fui uma pessoa muito aventureira. Claro, tive um certo desconforto porque estava indo buscar uma oportunidade como atriz e, de repente, me vi em um reality show. Mas, quando entendi que seria o primeiro, que era um fenômeno mundial sendo gravado pela primeira vez no Brasil, porque a gente já ouvia falar do sucesso do Survivor, foi muito legal.
E ela se deu muito bem por lá. Pipa chegou à final ao lado da cabeleireira Elaine de Melo, que acabou levando a melhor. Ao longo do programa, emagreceu 12 quilos, enfrentou o calor, a falta de comida, dormiu no chão e precisou comer alimentos inimagináveis, como os oito olhos de cabra que ingeriu para garantir um sabonete para sua equipe. O segredo, segundo ela, está no preparo psicológico.
Confira a entrevista completa:
Qual foi o teu maior desafio dentro do programa?
Acredito que a convivência social. Porque no momento em que tu luta com as tuas angústias, com os teus fantasmas, que tu abre as tuas gavetinhas, é um autoconhecimento. Mas tu precisar fazer esse autoconhecimento sob pressão, com pessoas totalmente desconhecidas, com certeza fez com que o maior desafio fosse o convívio social.
Como era a questão de precisar lidar com calor, chuva, muitas vezes sem ter abrigo?
Muito difícil. Isso deu um ensinamento muito grande de valorizar as coisas que a gente têm. Hoje, fazendo um paradoxo com a pandemia, a gente vê tantas pessoas precisando de comida e outros realities aí com tanta fartura. Nós, lá, realmente passamos fome. Eu emagreci 12 quilos, em função de realmente não ter.
Quando saí daqui, lembro que em julho, eu levei uma camisa de manga comprida e uma calça, porque estava saindo do rigor do inverno para ir para um lugar onde fazia 45°C. A produção disponibilizava protetor solar, própolis, que a gente tomava todos os dias para manter a glicose, e era isso. Se tivesse alguma dor, ofereciam um analgésico.
Fora isso, vocês precisavam se virar sozinhos?
Sozinhos, abandonados (risos). Sabe que isso até é interessante. Porque, assim, era um programa de televisão. Então, nós nos sentíamos sozinhos e abandonados, mas a gente nunca estava realmente sozinho. Teve uma noite em que estávamos dormindo, e dormindo tipo bicho, no chão e sem colchão, sem saco de dormir, sem barraca, sem nada, e o Tiago começou a gritar que alguma coisa tinha picado ele. Nós, na escuridão da noite, pensamos que nunca íamos saber o que foi, né!?
Imediatamente, começaram a sair soldados camuflados, com pintura de guerra, de trás das moitas. Acho que eram uns seis ou oito. Resgataram o Tiago, levaram ele e devolveram no outro dia. Ninguém falou nada, porque nós não podíamos falar nada. Mas, ali, nos deu uma certa tranquilidade por cair a ficha de que a gente nunca estava sozinho, de que era um programa de televisão e nada iria nos acontecer.
O fato de vocês estarem juntos acabava tornando um pouco mais possível essa experiência?
É exatamente isso. E olha só o paradoxo: o que era mais difícil, que era o convívio social, tornava-se a coisa mais importante, porque sozinhos a gente não conseguiria. Tanto que lá na última prova, já eu e a Elaine, quando estávamos a uma noite da final e eles separaram nós duas, eu perdi as minhas forças. Ali eu me desestabilizei porque sou uma pessoa que não gosta de solidão. Eu não administro bem o silêncio, preciso de gente, preciso de afeto, preciso de toque e, de repente, me colocaram sozinha. Ali eu pirei. Enquanto nós éramos grupo, estava tudo sob controle.
Ou seja, é para aprender a valorizar as pequenas coisas mesmo?
Sim. Isso é algo que a gente sempre conversa no nosso grupo (de WhatsApp, com participantes da edição). A grande mensagem do programa é a de a gente não ter desperdício, de acreditar no valor das pessoas e das amizades, de saber partilhar e de dar valor às coisas que a gente têm. Às vezes a gente tem tantas coisas na nossa volta e, mesmo assim, reclama tanto.
E como foi a tua vida pós-reality? Tu chagaste a vivenciar a fama?
Está durando até hoje (risos). Se tornou uma coisa que faz parte da minha história. Para as pessoas foi um programa de televisão e para os participantes é história de vida, a gente viveu aquilo. No meu caso é muito interessante porque, como aqui no Sul somos bastante bairristas, as pessoas têm muito respeito pela Pipa e apreciaram a forma como conduzi a minha participação. Depois fiz muitos trabalhos, tive a oportunidade de fazer um programa chamado Aventura na RBS TV. Na verdade, criou-se essa personagem de aventureira, de supermulher, que eu nem sabia que eu era. Mas, de verdade, brinquei de até hoje estarmos conversando, mas nunca pensei que isso iria durar tanto tempo.
E como está a tua vida hoje?
Tenho um café que se chama Cactus Café e fica na Felipe Neri, aqui no bairro Auxiliadora. Na verdade, assim, quando saí do programa eu acabei montando uma creperia francesa no Moinhos de Vento, e ficamos ali seis anos. Depois, eu engravidei e acabei fazendo gestão de pessoas, creio que pela experiência de conviver em grupo que tive no programa. Aí, trabalhei em grandes restaurantes de Porto Alegre, trabalhei em grandes lojas de moda nacionais.
Só que há dois anos, eu resolvi mudar tudo, resolvi mudar a minha vida. Não queria mais trabalhar com gestão, trabalhar com metas, trabalhar em shopping e nós reativamos essa oportunidade de ter uma empresa e montamos o café. Agora estou me especializando na confeitaria, então alguns doces que têm lá sou eu que faço.
Com a função da pandemia a gente precisou dispensar os funcionários, então estou lá trabalhando diariamente, servindo café, lavando louça. Às vezes as pessoas dizem: “Ai, a Pipa tem um café. Ai, tá milionária” (risos). Não, eu estou trabalhando em um café, que é meu, e estou muito feliz com tudo isso.
Estamos agora no aquecimento para uma nova edição de No Limite. O que tu diria que uma pessoa precisa ter para se dar bem no programa?
Paciência (risos). Paciência porque é difícil, realmente as pessoas vão ao limite e acho que elas têm de aproveitar essa oportunidade de autoconhecimento e têm de se desarmar. Eu lembro que, na época, teve um amigo que me disse uma coisa significativa que eu uso até hoje: “Quando pensar em desistir, deixa para o outro dia”. Porque quando a gente têm um problema, ele parece tão maior, né? Então calma, deixa para amanhã. As pessoas que vão com muita sede ao pote se perdem.
E acredito que o pessoal do Big Brother não têm a mínima ideia do que está esperando por eles. Eu lembro de uma vez que nós ficamos seis horas na beira da praia, cavando um buraco para achar uma urna e, dentro da urna, tinha um sanduíche de pão de forma para dividir entre seis pessoas, depois de seis horas sem comer. Então, assim, eu não tenho ideia de como serão as provas agora, mas é isso.
O que é mais importante para um participante, o preparo físico ou o psicológico?
Psicológico. Não tem nada a ver com preparo físico. Está aí a grande campeã Elaine (da primeira edição), que tinha sobrepeso, para provar. Sem falar que tivemos quatro mulheres na semifinal, para veres que a força masculina é maior e não foi isso que levou alguém adiante. Talvez, no início, até seja uma união dos dois, mas depois as pessoas vão sendo eliminadas por outras coisas. Então, realmente, as pessoas que ficam mais próximas da final são as que têm um controle emocional maior.
Hoje tu encararia essa experiência novamente?
Como aventura, sim, com certeza. É muito legal, como ser humano, tu poder ser elevado ao teu limite, poder se conhecer. É claro que hoje a gente têm outras formas de fazer isso, as pessoas não precisam ir para um No Limite. Mas é muito corajoso tu buscar te conhecer.