Após ser eliminado do Big Brother Brasil 21 com 50,48% dos votos, Rodolffo encontrou duas realidades ao deixar o reality show: por um lado, sua imagem está bastante desgastada por conta de suas manifestações apontadas como machistas, homofóbicas e racistas dentro da casa; por outro, sua base de fãs segue fortalecida e a música Batom de Cereja, que ele canta com seu parceiro Israel está em alta nas paradas musicais.
Ao longo de sua participação, Rodolffo acumulou momentos que foram criticados pelos espectadores do BBB 21. Uma dessas polêmicas foi quando ele indicou Carla Diaz ao paredão, em 7 de março. Em sua justificativa, o cantor sertanejo chamou indiretamente a atriz de "desleal", baseando-se em uma crítica considerada machista de que a sister não poderia pensar somente em si, mas deveria considerar seu então companheiro, Arthur.
— Vou usar duas palavras que, para mim, são os princípios básicos para jogar o game BBB: coerência e lealdade. Essa pessoa, por diversas vezes, por alguns outros participantes, vem sido comentada e vem realizando ações e palavras incoerentes na visão de muitos aqui de dentro. E a outra palavra, que é a lealdade, isso (imunização de Arthur a Projota) resume — explicou Rodolffo na ocasião.
Quando Lucas Penteado beijou Gilberto, Rodolffo expressou desconforto com a situação. Ele chegou a comentar que os dois não podiam ficar de "ti-ti-ti ou eles iriam ver". Mais tarde, o cantor apertou o botão do confessionário para Lucas sair do programa, episódio lembrado até hoje pelo público.
Na noite do dia 20 de março, Rodolffo debochou do figurino de Fiuk, deixando o brother visivelmente constrangido.
— Olha lá, mandaram um vestido para o Fiuk — disse Rodolffo.
— Não zoa, não, que eu gosto de vestido. Não brinca com isso aí, não — pediu Fiuk.
Na sequência, o brother saiu do quarto. Rodolffo seguiu comentando sobre o traje:
— Como é que leva esse menino de vestido para as boates lá em Goiânia, ô Sarah?
O episódio que foi derradeiro para a queda de Rodolffo ocorreu após ele receber o castigo do monstro de Fiuk e Gilberto. No último sábado (3), o cantor disse que o cabelo da fantasia de homem das cavernas era semelhante ao de João. A situação gerou bastante tristeza e desconforto para João. No jogo da discórdia da última segunda (5), o professor de geografia expressou sua dor, mas Rodolffo não assumiu o erro e continuou alegando que via semelhança. Chegou a afirmar que seu cabelo é crespo, que seu pai já usou o mesmo penteado que João. Sua rejeição nas redes sociais só aumentou.
Após ser eliminado do programa, Rodolffo justificou a situação em entrevista ao programa Mais Você, nesta quarta-feira (7), citando falha pessoal, de não ter se aprofundado no assunto, e seu histórico familiar.
— A minha família por parte de pai também é negra, mas a leveza que eles sempre levaram a cor da pele e o cabelo nunca foi problema. Felizmente, meu pai nunca se sentiu incomodado com ataques, algum preconceito — alegou. — Foi falha minha de não pesquisar. É uma obrigação de todo mundo. Pretendo me aprofundar para adquirir mais conhecimento, pois acredito que Brasil e o mundo precisam se aprofundar em relação a coisas que magoam e machucam.
Por fim, o cantor acrescentou:
— Eu aprendi no programa também que não se fala escolha sexual, e sim algo que vem desde que nasce. O programa me ensinou muita coisa, acredito que tive uma oportunidade de evolução, foi uma faculdade de BBB.
Sucesso fora da casa
A dupla Israel & Rodolffo, da qual o brother faz parte, gravou o DVD Aqui e Agora em novembro de 2020, antes de o cantor ser convidado para o BBB. O projeto foi divulgado na semana que o programa começou, fazendo com que a dupla disparasse nas plataformas digitais. Principalmente pelo hit chiclete Batom de Cereja.
Uma amostra pode se ter no serviço de streaming Deezer: Israel & Rodolffo cresceram 223% em número de ouvintes na plataforma desde o anúncio da participação do brother no reality. Para se ter uma ideia, o canal da dupla no YouTube aumentou em 2.700% a média diária de visualizações. O crescimento foi de 50% no número de inscritos, chegando a 1,5 milhão de fãs. Na terça, o clipe da música de Batom de Cereja passou a marca de 100 milhões de visualizações no YouTube.
Enquanto Rodolffo estava na casa, a coreografia dos participantes do BBB para Batom de Cereja viralizou no aplicativo TikTok e no Instagram Reels. A música se consolidou no topo da lista das mais tocadas no Brasil pelo Spotify, acumulando mais de 50 milhões de plays. A canção ainda chegou à lista Global 200 da Billboard, na posição 72.
Segundo levantamento do jornal O Globo, no final de março, o hit teria arrecadado cerca de R$ 850 mil reais em faturamento apenas no YouTube e Spotify. Vale lembrar que o prêmio para o vencedor do BBB é de R$ 1,5 milhão.
Apesar da rejeição, a base de fãs se manteve aquecida. Rodolffo saltou de 1,4 milhão de seguidores no Instagram para cerca de 6 milhões. Ainda saiu em um paredão ligeiramente apertado. Muitos cantores sertanejos seguiram apoiando ele mesmo nos momentos mais críticos — como Maiara, da dupla com Maraisa, e Fernando, da dupla com Sorocaba.
Depois que o paredão toca
Polianne Merie Espindola, professora de Relações Públicas e coordenadora da Especialização em Cultura Digital e Redes Sociais da Unisinos, destaca que há triangulação entre questões culturais, sociais e econômicas envolvidas na imagem e reputação do artista.
— A música bombar nas rádios ou em serviços de streaming no país não pode ser vinculada diretamente aos episódios de homofobia e racismo do cantor. E é justamente isso que a música estar em alta quer dizer. O artista da dupla Israel & Rodolffo não foi julgado, mas o Rodolffo como pessoa física sim — explica.
Ela lembra que a dupla não foi sacrificada em razão da postura de uma das partes. No caso, há uma separação do cancelamento do artista versus o integrante do programa, diferentemente do que ocorreu na saída de Karol Conká.
Diego Wander da Silva, professor de Relações Públicas na PUCRS, observa que Rodolffo encontrou projeção e visibilidade no BBB, cujos resultados foram positivos para o cantor. Além do sucesso musical, ele ganhou mais seguidores. Porém, há o aspecto de sua imagem, que precisaria ser retrabalhada.
— Ainda que suas atitudes sejam acolhidas por parte da população com naturalidade ou mesmo ignoradas, há uma parcela expressiva da sociedade que, com razão, aponta os erros do artista e o vincula a questões muito sérias, como homofobia e racismo. No programa, Rodolffo demonstrou não compreender quão ofensivos foram os seus atos. Inclusive, o cantor teve ótimas oportunidades de reduzir os impactos das suas falas, mas optou por narrativas inadequadas e com tom defensivo — analisa Wander.
Polianne avalia que, no final das contas, o impacto do BBB foi positivo para a dupla sertaneja. No entanto, a imagem de Rodolffo enquanto indivíduo terá de passar por um reposicionamento.
— Um apagamento de posturas inadequadas, um reforço positivo de sua persona e essas ações serão vistas nos próximos dias. Mas como a questão é mais profunda do que ações (podem resolver), nada vai se sustentar se não houver uma mudança de mentalidade e postura — sublinha a professora de Relações Públicas da Unisinos.
Wander lembra que a narrativa já vem mudando após a saída de Rodolffo:
— A recomendação técnica é que ele assuma com convicção seus erros, que não tente justificá-los. Que estude, que busque aprender com pessoas consistentes e legítimas nas pautas com as quais foi negativamente associado. Concomitantemente, que assuma uma postura ativa no combate a falas e comportamentos que não podem ser tolerados e reproduzidos.
Polianne destaca que sempre aconteceram episódios de racismo, homofobia, machismo, maus exemplos de relacionamentos abusivos e outros tensionamentos sociais no BBB, mas a importância se esvaía com o passar dos dias. No entanto, a visibilidade hoje é maior.
— Em tempos de empoderamento feminino, discussões de racismo e debates de respeito de gênero, melhor debatidas socialmente de dois anos para cá, a discrepância de opiniões ficou mais evidente e a tolerância a erros ficou menor. Afinal de contas, quanto maior o debate e a exposição aos temas, menor deveria ser o desconhecimento do quanto reproduzir discursos alheios às causas será aceito — diz a professora. — Não precisa ser negro para respeitar e combater discursos racistas. Não precisa ser gay para também lutar contra a homofobia. Não precisa ser mulher para entender que a alteridade é o caminho.
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