Mesa cheia, domingo de sol e todo mundo falando ao mesmo tempo. Aquele clima de festa e Lineu (Marco Nanini) começa a fazer a chamada para ver se tem alguém faltando: Nenê, Tuco, Lurdinha, Paulão, Floriano, Agostinho, Bebel, couve, repolho, paio e... o que é isso? O tradicional cozido de dona Nenê (Marieta Severo) está diferente e eis que começa o caos na casa.
Este cenário abre o último episódio de A Grande Família, série da Globo que completa 20 anos nesta segunda-feira (29) e é o fiel resumo do enredo da família suburbana brasileira. Sucesso na TV aberta entre 2001 e 2014, a confusão semanal dos Silva sempre foi sinônimo de boas risadas e identificação. Os episódios seguem sendo reprisados no ar no canal Viva, de segunda a sábado, às 22h15min.
— Família é um assunto universal. Como era uma época anterior ao boom das redes sociais, as pessoas ficavam mais interessadas na história, nos personagens, e não no que a gente fazia na vida real. Éramos felizes dentro e fora de cena, e sabíamos disso — afirma Lúcio Mauro Filho, o intérprete de Tuco, em entrevista por e-mail a GZH.
Mais de uma década no ar com episódios inéditos comprovou o carinho do público com o seriado, a segunda versão do texto da década de 1970 de Oduvaldo Vianna Filho (o Vianinha), Armando Costa e Paulo Pontes. O roteiro ágil, que sempre oscilava, colocando atenção especial em algum personagem específico por um período, ajudava a manter a atenção dos espectadores, na visão de Marco Nanini.
— Nós discutíamos sempre muito o caminho deles, entre nós, porque eram personagens icônicos e estavam lutando com o tempo. Eles iam ter que morrer um dia né? Uma vez, pulamos um grande período e me perguntava: "Quando vou fazer o fantasma do Lineu?" (risos). Aí veio o bom senso de fazer esse encerramento — conta Nanini.
Parceria
A identificação foi fundamental para a repercussão. Sendo o chefe da família, Nanini lembra que optou por interpretar um Lineu mais careta, sem excessos – o que fez muita gente reconhecer o próprio pai na telinha. Lúcio Mauro Filho passou por diferentes fases, como um garotão em amadurecimento e depois um inconsequente jovem que aprende com os erros.
— O Tuco me ensinou que a gente tem sempre que tentar. Errando ou acertando. Hoje ele estaria por aí fazendo lives o tempo todo — define Mauro Filho.
O clima de união na relação dos personagens também permeava os bastidores. Tanto Nanini quanto Mauro Filho lembram do falecimento do ator Rogério Cardoso, o Seu Floriano, em 2003, como um exemplo do quanto se tratavam como uma grande família, literalmente. Naquele dia, uma pequena homenagem foi exibida logo após o capítulo semanal do seriado, comovendo o país.
— Quando tocou o telefone em casa, eu sabia que não era boa coisa. Eu e o Rogério adorávamos aprontar nos estúdios, brincando com as louças da Nenê e seus cozidos. Nos entendíamos pelo olhar, e isso fez toda a diferença para a nossa família, incluindo todos os nossos personagens serem tão amados — finaliza Nanini.
Três perguntas para Marco Nanini
Nenê e Lineu eram o eixo emocional de toda a história com suas brigas e reconciliações divertidas. Como foram essas gravações e o que mantinha a força desse relacionamento do casal, na sua opinião?
Era para ser só seis ou oito episódios, mas o sucesso da série foi grande e ganhamos espaço fixo na grade depois de um tempo. Estávamos bem ansiosos de fazer um texto do Vianinha, mas deu certo. Ninguém sabe o por quê, mas o público se conectou muito também com essa relação do Lineu com a Nenê. A história deles era muito baseada no companheirismo, na lealdade e isso garante um caminho longo, com pilares fortes. A família era meio complicada (risos), mas a gente sempre fazia algo para mantê-la.
A maior qualidade do Lineu era se preocupar em garantir o melhor de todos...
Exato, ele sempre queria o melhor de cada um, algo bem da cultura brasileira. Nunca botei nada da minha vida para interpretar ele, porque gosto de viajar no temperamento dos personagens que faço. Ele era meio careta, mas acessível para muitos assuntos.
Gostaria de reviver A Grande Família? Como seria um retorno assim?
Com o nosso elenco, não mais, porque foram 14 anos e todos estamos bem assim. Eu teria que fazer um fantasma do Lineu (risos), ele ia acabar avançando. O que fica gravado tão forte no coração não vale repetir. A pandemia renderia história, mas não seria uma comédia, está tudo muito trágico.