Desde que emplacou o drama médico Grey's Anatomy, a produtora Shonda Rhimes viu seu nome decolar, colecionando sucessos pelos últimos 15 anos, de Scandal a How to Get Away With Murder.
Agora, no 10º programa de ShondaLand — sua empresa —, ela provou que não precisa nem da parceria com a American Broadcasting Company (a ABC, responsável por transmitir suas séries nos Estados Unidos até aqui) para continuar criando hits. O drama histórico fantasioso Bridgerton, primeiro título de um acordo com a Netflix, já é o quinto maior lançamentos original do serviço de streaming, menos de um mês após sua estreia.
O que seria uma história fenomenal para qualquer pessoa ganha contornos históricos quando alcançado por uma mulher negra em uma indústria dominada por homens brancos. Para se ter uma ideia, em 2017, a revista Variety noticiou que dos 42 produtores de novos programas nas cinco grandes emissoras dos Estados Unidos (ABC, FOX, CBS, NBC e The CW), 90% eram brancos e 71% eram homens.
Mas Rhimes não apenas prosperou nesse cenário desigual, como o contrapôs transformando a diversidade em uma das marcas de seu trabalho. Seja em hospitais, na Casa Branca ou na Inglaterra da Era Regencial, suas obras são lar para personagens de diferentes raças, orientações sexuais, crenças e religiões. No mundo de Shondaland, até a rainha da Inglaterra pode ser negra — e ninguém deve ter um problema com isso.
Foi um longo caminho desde a primeira temporada de Grey's Anatomy, é claro. Lá, o casalzinho principal do drama médico eram a loira de olhos verdes (Ellen Pompeo) e o moreno de olhos azuis (Patrick Dempsey). Oficialmente, ao menos, uma vez que era comum para Cristina Yang (Sandra Oh) ou Miranda Bailey (Chandra Wilson) roubarem a cena na série.
O sucesso estrondoso garantiu mais liberdade a Shonda a partir dali. Nasceram, então, as duas outras pontas do seu trio de ouro na televisão: Scandal, em 2012, sobre uma brilhante gerenciadora de crises em Washington; e How to Get Away with Murder, em 2014, com Viola Davis como uma renomada advogada e professora de Direito.
Ambas repetiram a repercussão positiva de Grey's Anatomy e garantiram que as noites de quinta-feira na ABC fossem dedicadas apenas a Shonda Rhimes. Os elencos multirraciais, contudo, seguiram dando o que falar entre o público e a crítica.
“Eu acho que é triste e bizarro e estranho que isso ainda esteja em discussão”, declarou a produtora ao The New York Times, ainda em 2013, logo após Scandal tornar Kerry Washington a primeira protagonista afro-americana de uma série de drama na televisão aberta do país em quase 40 anos. “As pessoas precisam seguir em frente. E, a propósito, funciona. Em termos de audiência, funciona muito bem”, completou Shonda.
Ela está certa. Diversidade em frente e atrás das telas paga bem, como mostrou o estudo Beyond Checking A Box: A Lack of Authentically Inclusive Representation Has Costs at the Box Office (Além do Cumprimento de Uma Meta: Falta de Representação Autenticamente Inclusiva Tem Impacto na Bilheteria, em tradução livre), da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Focada nos lançamentos de cinema entre 2016 e 2019, a pesquisa mostrou que filmes sem uma representatividade real de minorias podem esperar prejuízos de até US$130 milhões em suas bilheterias frente aos outros lançamentos.
É uma lição que Rhimes ensinou na prática para o resto do mundo e segue dando bons frutos, com Grey's Anatomy em sua 17ª temporada e Station 19 (spin-off da primeira) na quarta — com uma provável renovação a caminho para ambas—, além de mais sete produções de ShondaLand anunciadas pela Netflix para os próximos anos. Tudo isso com a promessa de um futuro bem menos branco para a televisão, e muito mais feminino.