Um trecho do documentário alemão O Fórum viralizou na internet mostrando, nos bastidores do Fórum Econômico Mundial, que ocorreu em 2019, em Davos, na Suíça, um diálogo sobre a Amazônia entre o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, reconhecido ativista ambiental.
O episódio colocou a série The Office como um dos principais assuntos do Twitter. Usuários da plataforma compararam a situação constrangedora vivida por Bolsonaro como uma cena digna Michael Scott, personagem interpretado por Steve Carell que redefiniu na ficção a situação de vergonha alheia.
É mais um elemento a comprovar que The Office (2005–2013), com nove temporadas e 201 episódios, segue repercutindo entre seus devotados fãs e renovando seu público. Trata-se aqui da versão americana da série inglesa criada e protagoniza por Ricky Gervais, com 14 episódios exibidos entre 2001 e 2003.
A adaptação segue a fórmula do falso documentário, que acompanha o dia a dia dos empregados da Dunder Mifflin Paper Company, cujo chefe é o bonachão e inconveniente Michael Scott. Entre o pastelão e o humor ácido, The Office é lembrada por suas cenas embaraçosas, cuja fidelidade faz o público não apenas rir, mas se identificar, e não apenas os que frequentam um ambiente corporativo. “Nossa, conheço alguém assim” ou "esse (ou essa) sou eu" são reações comuns diante do dia a dia na Dunder Mifflin.
Sete anos após seu encerramento, The Office envelheceu bem: segundo dados divulgados pela empresa de dados 7Park Data e divulgados pela revista Variety, a série esteve na lista das atrações mais vista nas plataformas de streaming dos Estados Unidos entre junho (3º lugar) e julho (7º). E liderou em junho o ranking de atração que o público passa mais horas assistindo – ficou em terceiro no mês seguinte. É um sucesso na pandemia.
Em 2019, The Office passou Friends e se tornou a série mais vista na Netflix nos Estados Unidos — no Brasil, pode ser vista nas plataformas Amazon Prime Video e Globoplay e no canal por assinatura Comedy Central. Segundo ranking divulgado pelo estrategista de mídia da Netflix, durante conferência global de tecnologia do The Wall Street Journal, The Office havia acumulado um total de 52,98 bilhões de minutos assistidos, contra 32,6 milhões de Friends.
Em fevereiro deste ano, a Netflix lançou um recurso para seus assinantes descobrirem quais são os 10 filmes e 10 séries mais assistidos. Conforme informações da Forbes, The Office entrou em agosto para o top 10 anual do catálogo americano (a lista é liderada por A Máfia dos Tigres, que estreou este ano). Outra marca realçada pela publicação é que a sitcom apareceu mais vezes no Top 10 diário dos EUA do que qualquer outro programa: em 102 oportunidades. .
Curiosamente, The Office não chegou a ser um grande sucesso de audiência quando foi exibido nos EUA pela rede. O programa quase foi cancelado após sua segunda temporada — foi salvo por suas boas vendas no iTunes.
Mas por que The Office segue sendo tão assistida e cultuada? Além da qualidade do texto e do elenco — destaque para, além do Michael Scott de Carell, a tríade de funcionários Dwight (Rainn Wilson), Jim (John Krasinski) e Pam (Jenna Fischer) — em situação de humor ácido em torno de temas como abuso moral, intrigas, flertes, bajulação e humilhações variadas impostas por Scott a seus funcionários – mas sempre no intuito de se mostrar um chefe justo e exemplar —, um fator para a longevidade da série está na internet. A produção se tornou onipresente nas redes sociais por meio de GIFs de suas cenas, que são utilizadas para as mais diferentes reações — dos chiliques de Scott às caras e bocas dos demais personagens. A sitcom criou uma linguagem própria nas redes. E segue gerando conteúdo na web com piadas antigas.
The Office foi adotada por uma nova geração, encabeçada por fãs como a cantora Billie Eilish (que usou um trecho da série na música My Strange Addiction) e o ator Timothée Chalamet. Um dos produtores da série, Kent Zbornak avaliou em entrevista ao jornal The Washington Post que os jovens podem estar relacionando o programa aos seus chefes: “Essa diferença entre jovem e velho, bobo e sério, imaturo e maduro ressoa fortemente entre os alunos de Ensino Médio e universitários, que estão passando por essa fase da transição. Estão começando a deixar sua infância para entrar no mundo adulto, trabalhar em seu próprio escritório”.
Em março, o ator e diretor John Krasinski, que interpreta o sensato Jim, contraponto ao sem noção Scott, lançou um telejornal apenas com pautas positivas para tempos de pandemia, intitulado Some Good News. No programa veiculado no YouTube, ele já entrevistou Steve Carell e reuniu o elenco da série para um casamento virtual de fãs. Ex-integrantes da série, as atrizes Jenna Fischer (Pam) e Angela Kinsey (Angela) têm gravado o podcast Office Ladies, que analisa cada episódio da atração. Já o ator Leslie David Baker (Stanley) abriu um financiamento coletivo para realizar uma atração derivada com e seu personagem, chamada Uncle Stan: Coming Out of Retirement. A campanha atingiu rapidamente a meta de US$ 300 mil. Ou seja, mais The Office à vista.
Onde assistir: Amazon Prime Video e Globoplay (streaming). Na TV a cabo, pelo canal Comedy Central.