Neste sábado (15), às 6h50min, na RBS TV, o Galpão Crioulo será especial. É o dia em que Neto Fagundes celebra 57 anos de idade e 20 no comando do programa. Até 2012, ele dividiu a apresentação com seu tio Antônio Augusto Fagundes (1934–2015), o Nico — e, a partir daquele ano, com Shana Müller, sua atual parceria.
A atração, com reprise no domingo, às 6h30min, contará com histórias de lembranças de Neto, convidados especiais e muitas surpresas para comemorar a data. Segundo a produção do Galpão Crioulo, entre as homenagem a Neto, estão depoimentos de seus pais (Bagre Fagundes e Marlene), madrinha (Laura), esposa (Cristina) e filhos (Marina e Matheus).
Nesta entrevista, ele relembra momentos importantes de sua trajetória no Galpão, da parceria com Nico Fagundes e do papel que o programa cumpre ao dar espaço para artistas do Estado.
Qual teu sentimento de completar 20 anos à frente do Galpão Crioulo?
Eu sempre sonhei em participar do Galpão, como artista. Quando ainda morava em Alegrete, em 1982, veio o convite para que eu, o pai (Bagre), o Ernesto e o Paulinho (irmãos) fizéssemos uma apresentação no Galpão, a gente criança, começando nossa história. Aí, tive noção da importância que as pessoas davam para o programa. Na segunda-feira, cheguei em Alegrete, fui para a aula e todo mundo me aplaudiu, meus colegas estavam emocionados porque eu tinha participado do programa. Aquilo me passou uma credencial muito importante, fazendo parte do Galpão como artista, me colocando, a partir dali, na estrada, me deu visualização. Aparecer na TV, naquela época, era uma coisa muito difícil, não tinha muitos espaços.
E, no ano 2000, lá está o Neto, começando a trilhar seu caminho de apresentador do Galpão.
Foi tudo meio às pressas. Em 2000, o tio Nico (que comandou o programa de 1982 até 2012), adoeceu e o Galpão tinha uma gravação naquele meio de semana, com o Tchê Guri, em São Leopoldo. Tocou meu telefone, eu abalado porque meu tio estava doente, e era a Alice Urbim (ex-diretora da RBS TV), me dizendo que tinha conversado com o tio Nico e que ele achava que eu deveria comandar o Galpão naquele período, por três, quatro meses. “Tu estás pronto, tá no meio, conhece os artistas”, me disse ela. Então, fui ao hospital, para pedir a opinião do Nico. E ele disse: “Cara, é tudo contigo!”. Depois de gravar, voltei ao hospital e fui falar com ele, saber se ele tinha visto. E ele falou (Neto emposta a voz, lembrando os tons de Nico Fagundes): “Vi, sim, tava assustadoramente bom. Os caras não vão te largar nunca mais”.
Naquele mesmo ano, veio um dos grandes momentos da tua história no Galpão, comandando o programa com Nico. Como foi isso para ti?
Foi em uma gravação em Santo Antônio da Patrulha. Sem que o público soubesse, aquele era o programa da volta do Nico. Quando eu o chamei ao palco, foi uma grande emoção, as pessoas estavam com saudade dele. Então, dali em diante, me convidaram para fazer a dupla com ele, ficar em definitivo. Imagina, estar junto com o cara que é uma enciclopédia da cultura gaúcha? Até hoje, eu uso muito do que aprendi, me sinto muito honrado de ter convivido com ele. Fui muito parceiro dele, cantando junto com ele, antes do Galpão, parcerias dele com o pai, como Origens, Canto Alegretense e Escravo de Saladeiro, músicas que defendi nos festivais e que fazem parte da minha história.
Então, chegamos em 2012, quando ele se despede do programa e passa o bastão para ti...
Foi muito emocionante, naquela gravação, em Venâncio Aires. Dali em diante, o Galpão toma outra forma, fiquei sozinho. Mas, logo em seguida (no mesmo ano), veio a Shana Müller, que traz a presença da mulher gaúcha ao programa. E o formato foi mudando, quadros foram entrando, como o da roda de chimarrão, do café da manhã, dando espaço para que as pessoas que estavam fora do Rio Grande do Sul e do país mandassem suas mensagens, pessoas que sabem da importância do Galpão.
O Galpão sempre foi um palco democrático, que dá espaço para artistas consagrados e novas caras. Como vês teu papel?
Quando cheguei no Galpão, eu era um dos caras novos, e já tinha um timaço, como Leonardo (1938-2010) José Cláudio Machado (1948-2011) e Os Serranos. Todos caras que eram referência para mim, e eu estava cantando junto com eles. Ao mesmo tempo, como apresentador, tive a oportunidade de comandar o programa com o Thomas Machado (vencedor do The Voice Kids em 2017) ao lado do Gaúcho da Fronteira. Imagina, duas gerações tão diferentes, fazendo a nossa música se renovar. O Galpão sempre teve essa coisa de dar oportunidade ao novo artista.
E neste momento de pandemia, como estás vendo a função do Galpão?
Nesse formato, de gravar a distância, não deixamos de pensar nos artistas que estão fazendo seus clipes e que precisam mostrar sua música. Temos que dar os parabéns para a direção e para a produção, não é fácil conseguir manter o programa no ar, com diversificação. Fico honrado de fazer parte dessa história, de poder dar para outros artistas a mesma oportunidade que recebi. Como diria o tio Nico: “O Galpão é redondo, ele é sem lado pra chegar, pra musica fandangueira, pra musica gaúcha”. Eu me sinto muito honrado de ser o apresentador do Galpão, de aprender com esta geração que vem chegando. Trabalho com gente de 25 anos. Passa um filme na cabeça, de acreditar que ali está uma semente muito importante, plantada pelo tico Nico, e ele sempre nos dizia: “O artista só morre quando deixam de falar nele”. Essa é a proposta do Galpão: “Nunca deixar morrer. É a frase do tio Nico (trecho de Origens, tema de abertura do Galpão até hoje): “Eu sei que não vou morrer, porque de mim vai ficar, o mundo que eu construí, o meu Rio Grande, o meu lar”.