Uma novela é uma obra aberta, ou seja, é possível ser modificada enquanto está em andamento, mesmo que o final já esteja sacramentado. Esse é um recurso muito utilizado por autores para alterar as tramas em caso de quedas de audiência ou até de incompreensão das histórias por parte do público.
Ao longo dos anos, a dificuldade para assimilar elementos do enredo levou vários folhetins a passar por situações de rejeição. Dessa forma, novelas que estrearam como inovadoras ao trazer novas linguagens e recursos ou que se excederam no número de personagens acabaram caindo no desgosto dos telespectadores.
Pensando nisso, GaúchaZH selecionou cinco novelas que deram um nó na cabeça do público:
Anastácia, a Mulher sem Destino (1967)
Nas décadas de 1960 e 1970, era comum tramas internacionais em novelas. Um dos exemplos é Anastácia, a Mulher sem Destino, que apresentou uma história muito longe da realidade do público da época. Baseado em um conto francês, o folhetim se passava na França do século XVIII, trazendo uma história de guerras, prisões, separações e muitos personagens envolvidos, o que gerou reclamações dos telespectadores.
Pelos baixos índices de audiência, o autor Emiliano Queiróz foi afastado e substituído por Janete Clair, que emplacou seu primeiro trabalho na Globo. Para tentar salvar a novela e eliminar o excesso de pessoas em cena, a autora tomou duas atitudes drásticas: provocou uma passagem no tempo de 20 anos e um terremoto, que matou cem personagens de uma vez só.
O enredo de Anastácia, então, foi ajustado com os personagens sobreviventes. Mesmo com a mudança, a novela não foi um sucesso de audiência, mas serviu para abrir as portas para Janete Clair começar a se transformar em um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira.
As Filhas da Mãe (2001)
O elenco de peso da novela, com nomes como Fernanda Montenegro, Raul Cortez e Claudia Raia, não foi suficiente para salvar a história de As Filhas da Mãe. O público não entendeu as letras de rap para cada personagem, recursos "diferentões" usados para marcar passagens de tempo, unir os núcleos e dar mais fluidez à trama.
A novela também contou com citações teatrais, televisivas e cinematográficas, mas que não foram captadas pelos telespectadores. De inovadora e fora do padrão, As Filhas da Mãe passou a ser rejeitada.
Em entrevistas, o autor Silvio de Abreu afirmou que o folhetim não foi recebido pelo público como uma comédia, mas sim como um drama. E citou acontecimentos do ano de 2001, como o sequestro da filha de Silvio Santos e os atentados às Torres Gêmeas, como gatilhos para que telespectadores deixassem de assistir à novela por um período e focassem em programas jornalísticos, o que "atrapalhou" o acompanhamento do folhetim.
Kubanacan (2003)
O autor Carlos Lombardi queria emplacar no horário das 19h mais uma novela com temática selvagem e de aventura, na expectativa de superar o sucesso de Uga Uga (2000), também de sua autoria. Porém, parte do plano não saiu como esperado.
Kubacanan é uma daquelas novelas consideradas imperdíveis. Isso porque, se você deixasse de assistir a um episódio, já estaria totalmente fora da história. Marcos Pasquim interpretou um mocinho/vilão com amnésia e que assumia várias personalidades diferentes - quem lembra do “pescador parrudo”? Ao final, ele recupera a memória, descobre quem realmente é e que tudo começou com uma viagem no tempo.
Difícil de acompanhar, o enredo causou estranheza. Muita gente não entende o final da novela até hoje. Kubanacan também deu um nó com trocas de casais constantes (nesse bolo, estavam Vladimir Brichta, Danielle Winnits, Adriana Esteves e Carolina Ferraz), além da saída repentina de atores como Ângela Vieira, que não gostou do andamento do seu personagem. Por outro lado, a novela acabou exaltada entre o público por conta dos vários homens sem camisa em cena.
Bang Bang (2005)
Com uma mistura de faroeste, dramas latinos e referências ao cinema cult, Bang Bang estreou com uma trama inovadora, mas que se transformou em arriscada. A produção foi alvo de reclamações por ser lenta e exagerar em nomes gringos.
Entre os exemplos, estão Ben Silver (Bruno Garcia), Diana Bullock (personagem de estreia de Fernanda Lima em novelas), John MacGold (Tarcísio Meira) e Jeff Wall Street (Guilherme Fontes). O público também não entendeu a proposta da novela de não ter mocinhos muito bons ou vilões muito maus, perfis clássicos da dramaturgia.
Além do Horizonte (2013)
Ousada, Além do Horizonte chegou na faixa das 19h com o objetivo de trazer mais mistério e aventura para o horário, conhecido por ser o espaço das comédias. A novela tinha um ar de série norte-americana, com um enredo que lembrou o de Lost. Mas a história de três jovens que se lançam à floresta para procurar pessoas que desapareceram sem explicações acabou não entendida pelo público, bem como o final do clássico seriado, ainda questionável por parte dos fãs.
Com o desagrado dos telespectadores, os autores Carlos Gregório e Marcos Bernstein tiveram de fazer modificações na novela, mudando o foco para o romance entre os personagens e para o humor. A trama, assim, acabou chamando mais atenção do público na reta final.