Uma crônica contemporânea com as mulheres e o amor no centro das atenções. Assim foi Mulheres Apaixonadas, novela de 2003 que volta ao ar nessa segunda-feira (24), às 23h, no canal de TV por assinatura Viva. Clássico folhetim de Manoel Carlos, a história foi ambientada no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, ao som de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Mas a história também evidenciou assuntos polêmicos, além daqueles com a leveza praiana e a paixão.
Embora seja ficção, Mulheres Apaixonadas serviu de espelho para temas da vida real, como alcoolismo, violência contra a mulher e desarmamento. A abordagem, apesar de chocante para o público da época, ficou marcada na história na televisão brasileira, com grande repercussão e envolvimento do público.
Entre os rostos que deram vida às histórias, estão Christiane Torloni, Tony Ramos, Vera Holtz, Bruna Marquezine, Helena Ranaldi e Regiane Alves.
Relembre como os assuntos foram abordados na novela:
Alcoolismo
Um dos papéis mais lembrados de Vera Holtz na dramaturgia é o de Santana. A dependência alcoólica da professora comoveu o público. Em uma das cenas mais marcantes da novela, Santana toma perfume por não ter bebida em casa. A personagem levantou discussão sobre alcoolismo e a vontade de superá-lo.
Violência contra a mulher
O drama envolvendo Raquel (Helena Ranaldi) e Marcos (Dan Stulbach) chocou os telespectadores e acendeu o debate sobre violência doméstica. A professora de educação física se muda para o Rio de Janeiro para fugir do marido, que acaba a encontrando. Agressivo, controlador e possessivo, Marcos começou a agredir Raquel de várias formas, entre elas, com uma raquete de tênis.
A professora até chega a denunciar o marido para a polícia, mas pouca coisa é feita. Após a cena ir ao ar, a delegacia do Centro do Rio registrou um aumento de mais de 40% na denúncia de casos de violência doméstica.
Na época, Mulheres Apaixonadas quis denunciar a fragilidade do sistema de amparo à mulher no Brasil. Desde então, redes de apoio e canais de denúncia foram criados ou modernizados para ajudar as vítimas. No mesmo ano de exibição da novela, uma lei instaurou o Ligue 180, canal telefônico destinado exclusivamente para denúncias de violência doméstica.
Relação abusiva
Outro relacionamento abusivo mostrado na novela foi o do casal Heloísa (Giulia Gam) e Sérgio (Marcello Antony). Ela tinha rompantes de ciúmes do marido com crises descontroladas. Ao longo da trama, Heloísa passou a frequentar reuniões de um grupo de apoio chamado de Mulheres que Amam Demais Anônimas (Mada), especializado em tratar esses casos.
Maus tratos
A história dos avós Flora (Carmem Silva) e Leopoldo (Oswaldo Louzada) foi uma das que mais mobilizou os telespectadores. Artistas aposentados, o casal divide a casa com a família do filho Carlão (Marcos Caruso).
Grosseira e antipática, Dóris (Regiane Alves) enxergava os avós como um peso. Frequentemente os maltratava e até roubava dinheiro deles. Uma das cenas mais comentadas pelo público foi quando Carlão deu uma surra de cinto na filha por conta das atitudes de desrespeito aos avós.
Bala perdida
Enquanto o Brasil discutia a elaboração do Estatuto do Desarmamento, que mudou as regras de porte e posse de armas em 2003, a novela se engajou na campanha após a morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli). A mãe da pequena Salete (Bruna Marquezine) foi vítima de bala perdida durante um tiroteio e morreu no hospital. Na ocasião, Téo (Tony Ramos) também foi baleado.
A cena foi uma das mais trabalhosas do folhetim, envolvendo 400 profissionais. Foram usados 500 tiros de festim para simular o tiroteio e necessários cinco dias de ensaios e gravações, até fechar a sequência que marcou a trama.
Casal lésbico
Mulheres Apaixonadas abordou o preconceito com o público LGBT+ por meio das personagens Clara Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli). As jovens estudantes formaram um casal na trama, mas o romance passou por entraves por conta dos pais de Clara, que não aceitavam o relacionamento.
Parte do preconceito também veio dos próprios telespectadores, que se colocaram contra a exibição deu uma cena de beijo entre as jovens, em pesquisas feitas na época. No último capítulo, Manoel Carlos colocou as personagens trocando um toque de lábios em uma encenação do clássico Romeu e Julieta, com as duas nos papéis principais.