Quando 2-5499 Ocupado, a primeira novela diária da televisão brasileira, foi exibida, em 1963, pela extinta TV Excelsior, o público se encantou por um casal da vida real que se tornaria a partir dali um dos mais icônicos da ficção: Tarcísio Meira e Glória Menezes. Os atores tinham se casado um ano antes, em 1962, depois de se conhecerem na TV Tupi, quando fizeram o teleteatro Uma Pires Camargo.
Nestes quase 60 anos de vida em comum, eles protagonizaram dezenas de outros pares românticos principalmente em novelas, mas também em séries. Para revisitar toda essa obra conjunta, o Viva exibe no próximo sábado (6) o programa especial Os Casais que Amamos - Tarcísio Meira e Glória Menezes.
— Eles simbolizam a história da teledramaturgia brasileira. Desde a primeira novela, eles já criaram uma empatia com o público de uma forma impressionante. Eu tinha quatro anos quando essa novela foi ao ar, não lembro de todos os capítulos, mas me lembro bem do fenômeno. Quando dava o horário de passar a trama, minha mãe, minha avó, todos ficavam com vontade de ver. E todo o mundo falava do casal, eles passaram a ser a grande referência — afirma Hermes Frederico, idealizador e roteirista da atração.
Em entrevista ao especial, Tarcísio Meira conta que, em princípio, ele e Glória não estavam muito à vontade fazendo a novela, mas tiveram que encarar a produção porque eram contratados da emissora.
— Na Excelsior, havia alguns diretores argentinos, e eles insistiam que fizéssemos novelas. A gente reagia contra, porque não era teatro, era uma coisa nova, diferente. E nos espantamos ao ver que, dias depois da estreia, a novela era um sucesso — lembra o ator.
Na história, adaptada de uma produção Argentina, Larry, papel vivido por Tarcísio, se apaixona pela voz de Emily, personagem de Glória, após ela ligar por engano para o número que dá nome à novela. O que ele não sabia é que ela era uma presidiária que trabalhava como telefonista do presídio.
— O público confundia muito o ator com o personagem. Lembro de uma vez de um compromisso que tínhamos, mas eu não pude ir, e ele (Tarcísio) foi sozinho. Quando ele chegou e disse que eu não pude ir, falaram assim: "Mas é claro, ela está no presídio" — recorda Glória.
Sucesso na Globo
Depois de estrelarem outras novelas na Excelsior, Tarcísio e Glória foram para a Globo em 1968. Na emissora, que ainda não era a líder de audiência no país nem tinha muitos recursos, os dois já estrearam com sucesso em Sangue e Areia, adaptação de Janete Clair com direção de Daniel Filho.
— Foi com eles nesta trama que a TV Globo em São Paulo ultrapassou os 20 pontos de audiência — diz Hermes Frederico, ao ressaltar que o índice era considerado muito bom para o canal na época.
No enredo, Meira faz o papel do toureiro Juan, e Glória interpreta a sofisticada Doña Sol, que chega a arrancar os próprios olhos como prova do seu amor pelo galã.
— Sangue e Areia foi feita com pouco recurso. Minha roupa de toureiro era muito bonita. Quando tínhamos que gravar, íamos para o terraço da emissora e improvisava-se uma arena para eu tourear — diz o ator.
No especial, o casal fala também de outros grandes sucessos na carreira deles, como a primeira versão de Irmãos Coragem (1970).
— Na novela eu fiz três papéis, Lara, Diana e Márcia. Era uma loucura, porque se você já troca muito de roupa com um personagem, imagina com três — recorda Glória.
Já Tarcísio interpretava João Coragem.
O programa tem ainda depoimentos de outras personalidades, como do escritor Silvio de Abreu.
— Tarcísio Meira e Glória Menezes não são apenas o primeiro casal a fazer sucesso na telenovela brasileira, eles são a própria telenovela brasileira. Foi através do talento deles que outros casais apareceram, e através do talento deles que tivemos novelas impressionantemente boas e muito populares — afirma.
A última novela dos atores em que eles formaram um casal foi em A Favorita (2008-2009), quando viveram Irene e Copola. A trama pode ser revista desde o dia 25 de maio, quando o folhetim foi disponibilizado no Globoplay. Tarcísio e Glória tiveram um filho, o também ator, Tarcísio Filho.
Inicialmente, a proposta do programa Casais que Amamos era abordar a cada episódio um casal marcante da teledramaturgia brasileira. Com a quarentena, o projeto teve de ser suspenso, mas a ideia, diz Hermes Frederico, é que ele possa ser retomado após o período de isolamento social.
— Uma semana antes das medidas de isolamento social, conseguimos gravar Tarcísio e a Glória. Foi uma maravilha.