Parte de uma onda de renovação do humor na Globo levada a cabo na última década (e que inclui o repaginado e mais político Zorra), Tá no Ar: a TV na TV encerrou seu ciclo no ano passado. Mas os órfãos da atração vão poder encontrar muitos dos mesmos protagonistas, tanto à frente como atrás das câmeras, em um novo programa que estreia nesta terça-feira (21), depois do Big Brother Brasil, na RBS TV: Fora de Hora, estrelado e roteirizado por boa parte da mesma trupe.
A proposta é substituir o olhar panorâmico pela sátira imediata. Se Tá no Ar... funcionava como comentário aos códigos e formatos recorrentes da TV como mídia, seu sucessor foca em um único modelo: um telejornal fictício fazendo humor com assuntos da pauta da semana.
– O Tá no Ar... era um programa sobre a televisão. A ideia era reproduzir a visão de uma pessoa trocando de canal. E, no caso do Fora de Hora, é como se a gente tivesse entrado a fundo numa esquete do Tá no Ar... E, a partir daí, entramos em um mundo novo – resume a atriz Renata Gaspar, que interpreta uma das âncoras do telejornal (fazendo par com Paulo Vieira, vindo do elenco da Zorra).
Além de Renata (leia entrevista completa aqui), que já fazia parte da equipe de Tá no Ar..., voltam outros destaques da atração anterior, inclusive a principal dupla de criação, Marcelo Adnet e Marcius Melhem, além de Luana Martau. Também dão as caras rostos de outros núcleos ligados ao humor na Globo, como Julia Rabelo e Luís Lobianco (que se tornaram populares originalmente nos vídeos do Porta dos Fundos), e o redator e humorista Caito Mainier, o "Rogerinho do Ingá" do fenômeno da internet Choque de Cultura.
Elenco
– Acho que o grande diferencial do Fora de Hora é o elenco do programa. É de um tamanho e importância muito grandes. Quando os humoristas se reúnem numa espécie de trupe para a gente tentar realmente construir um discurso de engajamento, de preocupações que são também da sociedade, acho que todo mundo ganha – comenta Lilian Amarante, diretora artística do programa, após quatro temporadas à frente do talk-show Lady Night, com Tatá Werneck.
Fora de Hora se estrutura em um formato com longa tradição no humor brasileiro: o noticiário fictício que, por meio de notas e entrevistas absurdas, faz uma sátira social e política do país. Chico Anysio, na pele do personagem Lobo Filho, apresentava o Jornal do Lobo, em seu programa Chico City, nos anos 1970. Jô Soares e Paulo Silvino, no Jornal do Gordo, veiculavam uma visão ácida sobre os autoproclamados feitos da ditadura militar. Luís Fernando Guimarães e Regina Casé viviam o Casal Telejornal na TV Pirata dos anos 1980. O Casseta & Planeta também explorou o formato a partir dos anos 1990.
– Nosso programa é mais jornalístico do que o TV Pirata foi em qualquer momento. Porque concentra o olhar no formato jornalístico propriamente dito. O TV Pirata tinha um espectro de assuntos mais amplos, esquetes, falava das novelas – comenta Lilian.
O que Fora de Hora promete oferecer, para além dessa venerável lista de predecessores, é um sentido de urgência semelhante ao de um telejornal de verdade, com um olho no fato e outro no prazo final. A equipe de roteiristas chegou a fazer uma oficina com a área de telejornalismo da Globo para “escrever com deadline”, criando piadas sobre o noticiário do dia.
– Vamos falar sobre notícias quentes da semana, e isso é o que é mais legal. A gente vai focar em notícias reais, muita coisa que está acontecendo na semana – afirma Renata.