Revelada ao grande público há 10 anos, com a série da MTV Descolados, misto de drama e romance sobre os dilemas contemporâneos de jovens urbanos na faixa dos 20 anos, Renata Gaspar engatou na sequência várias participações em programas cômicos de maior ou menor sucesso. Ela esteve na versão brasileira do consagrado programa americano Saturday Night Life, que teve vida curta, em 2012, e participou da breve série A Vida de Rafinha Bastos, projeto do humorista com o canal FX, em 2013.
Foi a partir de 2014 que a atriz emplacou em um programa de grande visibilidade, com a trupe que criou as seis temporadas de Tá no Ar: a TV na TV, programa que trazia em seu elenco nomes como Marcelo Adnet, Marcius Melhem e Danton Mello, entre outros, em um programa que fazia esquetes satirizando padrões e clichês dos formatos televisivos. Agora que Tá no Ar foi encerrado, boa parte da equipe, inclusive Renata, embarca em um novo projeto, o telejornal satírico Fora de Hora, com estreia marcada para esta terça-feira, depois do Big Brother Brasil.
No programa, Renata divide com Paulo Vieira a bancada de um telejornal fictício no qual serão apresentados comentários e reportagens satirizando notícias reais da semana. O elenco da atração conta, além dos dois, com veteranos do Tá no Ar, como Adnet e Melhem; com Júlia Rabello e Luís Lobianco, que se transferiram do Porta dos Fundos para a Globo há alguns anos, e com Caito Mainier, o "Rogerinho do Ingá" do Choque de Cultura. Renata falou a ZH por telefone sobre a nova atração.
Fora de Hora vem sendo apresentado como um "herdeiro" do Tá no Ar: a TV na TV. Você vê e o resto do elenco veem dessa forma?
Primeiro, tem a ver com a equipe. Uma boa parte da equipe do Tá no Ar, roteiristas e atores, está no Fora de Hora, inclusive eu. Já quanto ao programa em si: o Tá no Ar era um programa sobre a televisão. Tudo o que a gente fazia estava dentro de um formato televisivo, a ideia era reproduzir a visão de uma pessoa trocando de canal. E no caso do Fora de Hora é como se a gente tivesse entrado a fundo numa esquete do Tá no Ar. A gente pegou um programa de notícias e focou nele. E a partir daí, entramos em um mundo novo que não é o Tá no Ar. Mas é como se a gente tivesse aprofundado uma vertente. Como a equipe tem muitas semelhanças, a gente mantém o humor crítico.
E quais são as principais diferenças entre os dois programas?
Vamos falar sobre notícias quentes daquela semana, e isso é o que é mais legal desse programa e mais diverso do Tá no Ar. A gente vai focar em notícias reais, muita coisa que está acontecendo na semana, mas teremos algumas coisas gravadas antes, as "notícias frias", como a gente chama, coisas mais generalizadas que a gente inventa, brincando com o humor nonsense. Ele tem mais espaço para falar de coisas que estão acontecendo no momento do que o Tá no Ar. A gente nem tinha tanta frente para falar de coisas mais imediatas. Eu me lembro que a gente tinha um nível de produção muito maior. Era uma grande produção para esquetes muito curtas. A gente tinha de ir para um sítio longe, ou imitar a estrutura de um filme, algo assim. A produção era muito mais difícil do que a deste formato, que é o de jornalistas indo a diferentes locais para realizar entrevistas. Então acabou simplificando por um lado mas trazendo essa possibilidade de abordar temais mais frescos.
Qual é o desafio de lidar com um projeto em que a sátira aborda o noticiário semanal, e que, portanto, trabalha com uma noção de prazo de algum modo correlata à de um telejornal de verdade?
Eu e o Paulo acabamos ido um pouco para o roteiro para entender nossa dinâmica, saber o que estávamos falando, então assistimos a uma semana em que a equipe de roteiristas estava passando por uma oficina para treinar escrever humor com velocidade. Tipo: recebemos hoje esta notícia, vocês têm de escrever uma piada a respeito, o prazo de entrega é tal, o que você faria? Eles foram treinados, estão com uma equipe muito atualizada, pronta e apta a fazer isso com rapidez. É realmente difícil ter um corpo de roteiristas rápido assim.
Vocês no Tá no Ar já haviam passado por situações em que, pela polarização política atual, alguns esquetes ou piadas foram alvo de críticas em massa. Como vocês estão preparados para fazer uma paródia de um telejornal em um momento polarizado em que o establishment político, até mesmo o presidente elegeu a imprensa como uma adversária direta?
Acho que estamos mais preparados agora. A questão das fake news está mais exposta hoje. E a gente vai falar de tudo abertamente, tanto das notícias reais quanto das fake news, fazendo piada sobre isso. A gente está sabendo disso, e para o programa, hoje, é até bom. A gente expôr coisas que podem ficar mais nebulosas. O legal é que no programa vamos pôr tudo à tona. É interessante que as pessoas fiquem informadas e riam disso ao mesmo tempo. Elas vão ver um programa de humor, mas sobre uma notícia que saiu naquela semana mesmo. Isso é bom porque coloca todo mundo no mesmo lugar, independentemente de partido.