— Olhando de janeiro para hoje, acho que foi o melhor ano da minha vida.
Se tem uma pessoa que está terminando 2019 com um sorriso de orelha a orelha, essa pessoa é Fábio Porchat. E não é só pelo seu jeito descontraído. Para além do humorista que já conhecemos, Porchat se revelou um contador e ouvinte de histórias ao comandar o
Que História é Essa, Porchat?, sucesso de audiência e eleito, nesta segunda-feira (9), o melhor programa de TV do ano pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).
Por último, mas não menos importante, ganhou o Emmy Internacional, considerado o "Oscar da TV", junto com o humorístico Porta dos Fundos.
Em uma papo por telefone, o apresentador admitiu que, nem no mais otimista dos seus sonhos, poderia imaginar, lá em janeiro, que sua vida profissional ia dar uma guinada. Pouca gente sabe, no entanto, que tudo isso começou após ele sentir um certo... cansaço.
— Está todo mundo dando opinião sobre tudo na vida.
É ótimo a gente poder ter espaço, mas eu comecei a sentir que todo mundo estava tentando lacrar o tempo todo. Não necessariamente quando eu estou assistindo um programa eu quero saber a opinião da pessoa sobre o presidente, sobre a Amazônia. Às vezes a gente só quer descansar um pouquinho — diz Porchat.
O humorista, então, se espelhou no Programa do Jô, o mais lendário talk show brasileiro, para desconstruir o formato tradicional desse tipo de programa.
— O "filé mignon" do talk show são as histórias. O que a gente lembra do dia seguinte do Jô era aquele cara que contava aquela história engraçada, diferente. E foi nesse lugar que eu apostei. Tentar ouvir, em um momento em que todo mundo está querendo falar, e deixar as histórias comandarem.
Assim surgiu o "Que História é Essa, Porchat?", um programa onde famosos e anônimos são colocados em uma roda de conversa para contar fatos que aconteceram em suas vidas, sem qualquer compromisso. Entre os nomes que passaram pela atração estão Claudia Raia, Regina Casé, Fátima Bernardes, Tiago Abravanel e Miguel Falabella, além de dezenas de anônimos que enviam suas histórias e torcem para serem chamados para o programa.
A primeira temporada termina na próxima terça-feira (17) com um total de 20 episódios e, no ano que vem, entra para a grade fixa do GNT com programas de março a dezembro.
— As pessoas compraram o programa, as histórias viralizaram nas redes sociais. Eu não quero nenhuma polêmica, eu só quero histórias. E, se um convidado já participou do programa, nada impede que ele volte em 2020 contando uma outra história — observa o apresentador, reafirmando que não há um padrão para sua atração.
O improvável Emmy
Sócio e criador do Porta dos Fundos, canal de humor do YouTube, Porchat achava quase impossível ganhar o Emmy Internacional, premiação que consagra o melhor da TV fora dos Estados Unidos. Se Beber, Não Ceie, especial de Natal feito pelo projeto para a Netflix, saiu vencedora da cerimônia na categoria das comédias.
— Eu já tinha falado para todo mundo: "Gente, não tem como, é só um especial de
40 minutos, a gente está concorrendo com programas de temporadas inteiras". Então, quando a gente ouviu nosso nome, ficamos em uma euforia tão grande, uma felicidade, porque coroa o melhor ano do Porta dos Fundos — conta, animado.
O humor que fala de tudo
Para Porchat, não existe nenhum assunto proibido ou sagrado para o humor. Em um momento de polarização das opiniões e discursos de ódio na internet, o apresentador acredita que é bom falar de todo mundo e, ainda, quebrar protocolos.
— Quando a direita acha que o Porta é de esquerda e a esquerda acha que o Porta é de direita, esse é um ótimo sinal — resumiu Porchat, ao mesmo tempo que acredita que o humor precisa mudar e ser mais valorizado no Brasil.
— Mais do que avançar, o humor não pode ser tolhido. Volta e meia alguém vem com um papo de "não pode falar com isso, não pode brincar com aquilo", quando, na verdade, se pode brincar com tudo. O humor tem de estar muito atento, pois ele joga uma luz sobre determinados assuntos e faz com que muita gente pare para pensar, de uma forma leve e descontraída, sobre coisas muito pesadas — opina.
Projetos para 2020
Depois da intensidade de 2019, o apresentador vai aproveitar o fim de ano para descansar, mas promete não ficar parado por muito tempo. Além dos dois programas que comanda no GNT (o Que História é Essa e o Papo de Segunda), sua agenda de 2020 já está lotada.
Entre os projetos confirmados, estão a sexta temporada do Porta Afora, programa de viagens no Multishow, um reality show para descobrir um novo talento para o Porta dos Fundos, a gravação de um filme para a Netflix e a estreia de outro, em parceria com a comediante Dani Calabresa.
—Manter também é um desafio. Inovar, fazer uma coisa diferente, é super difícil, mas e dar continuidade para aquilo que deu certo? Estou cheio de expectativas.
Ouça a entrevista completa com Fábio Porchat: