Uma filha que despreza a própria mãe e foi presa por assassinato, uma ex-noviça interesseira que sai do claustro para virar dona de fábrica, uma popular influencer digital que foi trancafiada dentro de casa e não pode mais fazer postagens. E uma pobre heroína que ficou rica, perdeu tudo e deu a volta por cima. Nenhuma dessas personagens de
A Dona do Pedaço, porém, mostrou tantas oscilações de personalidade quanto Kim, vivida por Monica Iozzi.
Na novela das nove da Globo, Kim é a agente que gerencia a carreira de Vivi Guedes (Paolla Oliveira) e Silvia (Lucy Ramos) e se divide nos romences com o certinho Márcio (Anderson Di Rizzi) e o fanfarrão Paixão (Duda Nagle).
Em entrevista a GaúchaZH, Monica fala sobre o sucesso da personagem e os possíveis rumos de Kim nos últimos capítulos da novela.
Vivendo uma agente de influencers digitais na novela, qual sua avaliação dessa atividade nas redes sociais?
Fiquei surpresa com o nível de profissionalização dessas digitais influencers. A gente tem uma falsa impressão de que qualquer um pode pegar o celular e gravar e, se tudo correr bem, alcançar milhões de seguidores. Mas não é assim que as coisas funcionam.
Eu aprendi que quantidade de seguidores nem sempre é sinônimo de sucesso, que tem muita gente por trás de uma pessoa que está com a carinha ali na frente das câmeras e me fez entender a necessidade de profissionais como a Kim. Não exatamente como ela (risos), mas profissionais que desenvolvem bem essa função.
Você apagou seu perfil no Facebook após discussões. Teve vontade de voltar? As pessoas mudaram de postura?
Não tenho vontade de voltar, eu realmente acho que estar em todas as redes já tomava muito do meu tempo, então estou satisfeita com o diálogo só no Instagram. Acho que depois de um pico de animosidade, nos últimos dois anos, as pessoas estão conseguindo voltar a dialogar de uma maneira um pouco mais racional, mais serena.
Uma hora, a Kim quer o Márcio, em outra, o Paixão. Com que você acha que a Kim vai ficar?
No fundo, a Kim não quer nenhum dos dois especificamente, ela não é apaixonada pelo Márcio e nem pelo Paixão. Acho que a Kim gosta de se divertir, de estar apaixonada, do frio na barriga, da conquista, do jogo amoroso, não importa com quem esteja jogando, contando que esteja com sentimentos à flor da pele. Gosta da adrenalina que as novas relações amorosas trazem para a nossa vida. No fim das contas, a Kim gosta é dela mesma (risos).
O que você ainda espera dela?
A Kim tem muitas características diferentes, coerente é o que ela não é. Apesar de sempre parecer desesperada, sinto a Kim principalmente sendo uma mulher muito independente, segura, autossuficiente. Gostaria de ver esses traços bem acentuados no final, que foi algo que o público gostou de ver nela. Seria interessante se ela terminasse bem profissionalmente, já que é apaixonada por aquilo, e cercada pelas pessoas que gosta.Temos que rever a ideia de que a felicidade está veiculada a uma relação estável. Muita gente é solteira e é feliz assim, por opção. Vejo muito a Kim assim, se divertindo por aí.
Que impressão passam a você os termos em inglês usados por Kim?
Isso não foi criação minha, foi do Walcyr (Carrasco, autor da novela), mas é uma tentativa da Kim de parecer mais refinada, colocar uma palavra aqui e ali em inglês, mostrar sofisticação que eu acho que não funciona (risos). Acho bem brega, na verdade, mas sendo excêntrica e desregulada, ela acha que tem charme, mais status e no fundo fica engraçado.
É impressionante: no aeroporto ou mercado, sempre tem alguém que grita “Kim”, ou “honey” e acho maravilhoso. Esses dias, entrei em um táxi e o homem gritou: “Ah, é a honey!” (risos). Virou uma marca, uma assinatura, que eu acho bem legal.
Como sente a amizade da Kim e da Vivi?
Do meio da novela para cá, ficou claro o quanto as duas vão além da profissão e se importam uma com a outra. A Kim conta com ela e vice-versa. Analisando o que a Vivi está passando, acho que a Kim deveria se intrometer mais na vida dela, alertar para a Vivi sair dali (do confinamento imposto pelo marido) enquanto pode. Em alguns momentos, a Kim até pede, mas na vida real, ela teria que ter uma outra atitude, acionar polícia e a família de forma mais incisiva. Mas estamos falando de ficção e a Kim, apesar de gostar da Vivi, é muito avoada, não sei o quanto é nítido pra ela. Na vida real, existem muitos relacionamentos abusivos e isso é muito sério. Tem que ser denunciado.
No que o papel de Kim a agradou?
A Kim me deu a possibilidade de trabalhar traços de personalidade muito diferentes numa mesma personagem: tem momentos em que ela é caricata e engraçada; em outros, tem um pezinho na loucura ou é dramática; e, de repente, é a mais amorosa do mundo. É uma personagem que nunca foi óbvia, e construir alguém que é tão incoerente e deixar isso crível, que tenha o mínimo de lógica, foi muito difícil. Foi um grande exercício e acho que essa era a vontade do autor, de fazer a personagem, não ser nem bipolar, ela não vai da depressão a euforia, passa por outros mil estágios de pensamentos.