"Tudo na vida é incerto, menos o amor de mãe". O destino, implacável, nos traga para dentro de situações que, na maioria das vezes, não conseguimos evitar. Seja uma doença incurável, a impossibilidade de realizar um sonho ou os dilemas éticos da profissão, há coisas mais cruéis do que os piores vilões de novela.
Manuela Dias deu o pontapé inicial em Amor de Mãe sem pena do telespectador. Afinal, a vida real não nos dá tempo para respirar entre um revés e outro. E se, na trama anterior, a violência gratuita se apresentou diante do público, agora a situação é bem diferente. Tudo o que foi mostrado na estreia da nova novela tinha razão de ser.
Sem didatismo, a autora passeou entre os anos 1990 e os dias atuais naturalmente. Não foi preciso legenda para entendermos que Lurdes (Regina Casé) teve seu filho vendido pelo próprio marido anos atrás. Uma Lucy Alves impecável assumiu o papel da mãe sofredora em flashbacks, um recurso que aqui foi mais do que necessário para explicar a mulher que estava diante do telespectador contando sua história.
Aliás, os recursos encontrados pela direção ao apresentar os personagens caíram como uma luva. Lurdes se postou diante de Vitória (Taís Araujo) para uma entrevista de emprego. A advogada, em busca de uma babá para os filhos que ainda viria a ter, descortinou seu drama de ter perdido um bebê quase no fim da gestação. Nas lágrimas de Vitória, ficou evidente o dilema ético entre a vida pessoal e a questionável atuação profissional.
Mais tarde, Lurdes socorreu Thelma (Adriana Esteves), que em poucos minutos viu sua vida desabar depois de um diagnóstico fatal. A terceira mãe da história tem no único filho, Danilo (Chay Suede) a razão de tudo. Agora, terá que prepará-lo para viver sozinho.
Nem só de dramas e sofrimento se fez o primeiro capítulo. Camila (Jéssica Ellen) emocionou e deu uma lição de esperança em seu discurso de formatura. A grande homenageada não poderia ser outra: Lurdes, a mãe que batalhou para sustentar sozinha seus quatro filhos. E não é esta a realidade de milhões de mulheres como ela?
Que acerto de escalação colocar lado a lado três atrizes viscerais como Regina Casé, Taís Araujo e Adriana Esteves. Como passamos tanto tempo — quase 20 anos — sem ver Regina em novelas? Adriana consegue imprimir um jeito único a cada personagem, sem pistas dos tipos anteriores. Quanto a Taís, será fácil para muitas mulheres se identificarem com ela. O mais interessante é que as heroínas dessa história são falíveis, têm suas características questionáveis, mas estão em busca de acertos. Não é assim a vida?
Da estreia, ficaram algumas certezas. Uma delas é de que o público ainda vai se identificar com muitas das situações ficcionais — mas nem tanto. Na cena que fechou o capítulo, a lição que muitos de nós aprendemos ao longo das adversidades: quando tudo parece perdido, "a mãe tá aqui". Lurdes abraçou Magno (Juliano Cazarré) da mesma forma que o público abraçou essa novela. Com certo sofrimento, é claro, mas com a certeza de que amor de mãe nunca é incerto.