Luís Francisco Wasilewski*
Neste mês em que Fernanda Montenegro completou seus 90 anos, foi reprisada, diversas vezes, a histórica cena do café da manhã dela com Paulo Autran em Guerra dos Sexos, telenovela de Sílvio de Abreu, exibida em 1983, no horário das 19h. O diretor desse grande momento da história da televisão brasileira foi Jorge Fernando, morto neste domingo (27). Essa novela marcou a sua estreia como diretor na TV. O primeiro espetáculo que projetou sua assinatura como encenador aconteceu em 1980. Faço referência a As Mil e Uma Encarnações de Pompeu Loredo, de Mauro Rasi e Vicente Pereira, com músicas de Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes. Essa foi a peça suscitadora da criação do nome Teatro Besteirol, rótulo criado pelo crítico teatral Macksen Luiz em uma crítica para a Revista IstoÉ sobre a montagem dirigida por Jorge Fernando. Anos depois, adaptou a peça de Rasi e Pereira para um especial na TV Globo, no qual Dercy Gonçalves foi a protagonista. Na década de 1970, Jorge já tinha uma carreira profícua como ator, tanto na TV, em novelas como Pai Herói, quanto no teatro, onde foi integrante do grupo Dzi Croquettes.
Ele justamente leva para suas direções televisivas a estética transgressiva e assumidamente escrachada do Dzi e do Besteirol. Para as telenovelas das 19h, criou um padrão que alguns apelidaram de Comédia Rasgada. Citei Guerra dos Sexos; porém, também foram dirigidas por ele Brega & Chique e Que Rei sou Eu?, ambas escritas por Cassiano Gabus Mendes; Vamp, de Antônio Calmon; Caras & Bocas, de Walcyr Carrasco; e, para o horário das 20h, continuou sua parceria bem-sucedida com Sílvio de Abreu em Rainha da Sucata e A Próxima Vítima. Um dos melhores aspectos nas direções televisivas eram as cenas com externas, envolvendo multidões de figurantes. Já faz parte do folclore da televisão brasileira que para exigir a atenção de todos em uma gravação, com muitas pessoas, Jorge baixava as calças.
Também foi um grande diretor de musicais, quando o gênero ainda não tinha tomado de assalto o teatro brasileiro. Dirigiu Claudia Raia em espetáculos teatrais como Nas Raias da Loucura e no programa televisivo Não Fuja da Raia, exibido na TV Globo em 1995.
Em 1999, estreou como ator no monólogo Boom, escrito por Luiz Carlos Góes e dirigido por Marcus Alvisi. Foi um dos grandes sucessos do teatro brasileiro nas últimas décadas. Recentemente, dirigiu Vamp, o Musical, e participou da direção artística da telenovela Verão 90. Mesmo com a saúde debilitada, não parou de trabalhar. Sua morte deixa uma lacuna na comédia brasileira.
* Pesquisador teatral e doutor em Literatura Brasileira pela USP