Comediante celebrada na televisão, no cinema e no teatro, Ingrid Guimarães, 47 anos (e mais de 30 de carreira), é uma das estrelas da novela das sete da Globo, Bom Sucesso. Na trama, ela interpreta Silvana Nolasco, uma atriz hilária e extravagante que faz de tudo para se manter nos holofotes.
– Vive para a fama – afirma Ingrid.
Sempre com muito bom humor, a artista conta quem a inspirou na composição da nova personagem, relata as agruras da vida de comediante e ainda dá spoiler sobre seu próximo projeto nas telonas.
Como você se preparou para viver Silvana Nolasco?
Eu vi vários vídeos. Uma das pessoas em que me inspirei foi a Mariah Carey. Ela fala loucuras com uma “cara de nada”. É uma estrela há não sei quantos milhões de anos, quer matar todo mundo, mas a cara é de quem vai mandar você comprar um pão (risos). Também conversei com a Claudia Raia, que é diva até pegando a ponte aérea. Outro dia, encontrei Susana Vieira e falei que estou fazendo uma atriz cheia de personalidade. Ela falou: “Amor, autoestima. Você tem que se achar a maior atriz do Brasil”. (Silvana) é uma atriz à moda antiga, que gosta de andar com séquito e não tem o menor problema em falar sobre isso, tem milhões de seguidores (nas redes sociais). Ela vive para a carreira, não tem marido nem filhos, vive para a fama.
A personagem se leva tão a sério assim?
Eu acho que ela faz uma personagem dela mesma, mas, de tanto fazer, acabou se transformou nele. Isso acontece muito. Ela veio do interior de Minas (Gerais), era pobre, e os pais não deram força para ser atriz. Então, ela veio para cá (Rio de Janeiro), fez até o “teste do sofá” e assume tudo o que fez para chegar onde chegou.
Você já teve problemas relacionados à autoestima?
Claro. Alguém não? Vim de Goiânia para o Rio, novinha, aos 13 anos, falando “porrrrta” e “porrrrteira”. Então, rolava bullying na escola: “A Ingrid é roceira”. Me sentia muito a menina do Interior. Nunca tive um padrão (de beleza). Sou muito mais bonita hoje. É só olhar meus trabalhos antigos. Hoje, a televisão se abriu para todos os padrões e para as comediantes. Quando uma comediante, na época em que comecei a carreira, faria um papel de musa gostosa? Nunca! É só olhar o Vale a Pena Ver de Novo (que, atualmente, reprisa Por Amor, 1997): eu apareço servindo cafezinho na novela de Manoel Carlos. O mundo deu abertura para outros tipos físicos, nacionalidades, cores, raças. Tudo está muito mais aberto. Graças a Deus, o mundo mudou para melhor. As comediantes, hoje, têm grandes papéis em novelas. Todo mundo tem seu charme, por isso, sempre falo que mais importante do que o corpo e a dieta é a atitude: se você se acha linda, todo mundo vai achar também. Quando vim para cá, não me encaixava, falava que não ia fazer televisão, achava que não tinha lugar para mim. Era a época (década de 1990) em que as modelos estavam entrando nas novelas, e as comediantes todas faziam os papéis de empregadas e de secretárias. Não que não possam ser bons, mas, na época, não eram. Eram papéis menores.
Silvana é boa atriz?
A última personagem que fiz (Elvira, em Novo Mundo, 2017) era atriz também, mas era péssima. Essa não, ela é uma grande atriz, protagonista de novela das nove, porque tem uma novela dentro da novela (Precipício do Amor é a trama fictícia citada em Bom Sucesso), o que é muito legal de fazer, pois acabo tendo dois papéis.
Você aparece em cenas quentes com o Romulo Estrela (Marcos). Algum cuidado especial para esses momentos?
Estou me matando na ginástica e na dieta. Acho que não como um carboidrato há uns três meses! Eu faço dieta acompanhada com exames. Estou malhando dia sim, dia não. É claro que o figurino me protege muito, pois não sou uma garotinha. Mas fazer novela com a Grazi (Massafera, intérprete de Paloma) ajuda muito, porque só de olhar, a gente já se incentiva (risos). Às vezes, malhamos juntas.
Outro parceiro em cena é o comediante Rafael Infante (intérprete de Pablo). Como é a troca com ele?
Que coisa divertida! Tenho dois momentos na novela: um que é mais realista, no triângulo amoroso com Marcos e Paloma, e o outro é o romance fake com o (personagem de) Rafael, com quem eu nunca tinha trabalhado. O personagem dele é ator e famoso como o meu. Contracenar com comediante sempre é um prazer, você sabe que vai ter jogo já de cara. Então, tudo o que eu propus, ele já topou, a gente improvisa.
Como foi a experiência de gravar como rainha de bateria durante o Carnaval (para cenas de Bom Sucesso, em fevereiro)?
Foi incrível! Nunca tinha desfilado. Gosto de ver, mas sempre aproveito para viajar com a minha filha (Clara, nove anos). Eu tanto desfilei em uma escola de samba “real”, que foi a Imperatriz (Leopoldinense, do Rio de Janeiro), quanto fiz uma cena de rainha de bateria antes de começar o desfile. Como tivemos meia hora, foi tudo no improviso. Quando entrei, o público não entendeu que era a novela, achou que eu era a rainha mesmo! Mandei beijos, corações… Aí, falei: “Pronto, já fui rainha de bateria!”. Foi maravilhoso!
Na trama, Silvana vai ter uma biografia. Já pensou em ter sua vida contada em um livro?
Não. Tenho planos de escrever um livro, mas não sobre a minha vida, pois acho que não sou tão importante assim. Mas, tive uma trajetória muito fora da curva, por ser comediante e haver muito preconceito contra mulheres assim. Ser de outra cidade, não ser bonita, não ter o tipo físico que a televisão permitia… E, quando você faz sua própria história, arrebenta, como foi com o Cócegas (espetáculo teatral que protagonizou ao lado de Heloísa Périssé). Eu queria fazer um livro para incentivar jovens atores. Então, seria um livro para incentivar e também para desfazer essa aura de glamour que a profissão tem. Seria um livro para acreditar no sonho.
Como foi a repercussão do filme De Pernas pro Ar 3?
O De Pernas pro Ar 3 foi um grande sucesso, apesar do que a gente viveu, com o massacre das salas apresentando Os Vingadores (Ultimato). Sobrevivemos e tivemos quase 2 milhões de espectadores. Não teremos o De Pernas pro Ar 4, mas haverá o Fala Sério, Mãe 2. Já dei a dica!
Vai continuar se dedicando ao humor?
O humor te escolhe. Você não escolhe fazer, já nasce fazendo, é um dom. Humor não é uma decisão, é um estilo de vida.
*Viajou a convite da Globo.