A novela Bom Sucesso estreou nesta segunda-feira (29) no horário das 19h da Globo. Ambientada no subúrbio do Rio de Janeiro, a trama vai mostrar personagens trabalhadores que lutam pelos seus objetivos e, também, por respeito e dignidade.
Pensando nisso, a equipe de autores e diretores optou por escalar elenco e equipe técnica plural, capaz de levar diversidade, tanto para a tela quanto para fora dela. Na equipe fora de cena há pelo menos um negro e uma mulher em cada setor.
O diretor artístico, Luiz Henrique Rios, afirma que ter várias matizes culturais engrandece a história e o jeito de chegar até ela.
— A gente vive em um país multiétnico. Conseguimos ter elenco muito colorido. Temos atores, assistentes, diretores negros, mulheres, gente com visões étnicas distintas. À medida que temos mais diversidade, a gente constrói uma realidade mais próxima.
E ainda completa:
— Sou branco de 60 anos. Para mim é difícil entender tudo no mundo. Lógico que estudo e abro a cabeça, mas se alguém olha para mim e fala alguma coisa, eu vou parar para pensar. Fazemos isso para dar mais respeito à diversidade da vida atual.
Quando o assunto é atuação, a variedade de cores e raças também acontece. Quase metade do elenco é composto por homens e mulheres negros. Há também uma atriz trans que, na trama, luta por igualdade e sofre bullying. Trata-se de Michelly, vivida por Gabrielle Joie.
Autora da história ao lado de Paulo Halm, Rosane Svartman acredita que um passo foi dado, mas que ainda é preciso ser feito muito mais.
— É tentar se aproximar e trazer a realidade do dia a dia. É um caminho a ser perseguido, estamos nesse caminho — diz. — Vamos lutar para acontecer cada vez mais esse processo. Dá para ir mais além.
Uma das atrizes que ganham oportunidade em Bom Sucesso é Bruna Inocêncio, 24 anos, que vai interpretar a filha mais velha de Paloma (Grazi Massafera). Na pele de Alice, Bruna se sente realizada.
— É importante e é necessário (representatividade) porque a gente precisa que outras pessoas se enxerguem na TV, que vejam sua cor, seu cabelo e sua raça — comenta a jovem, que estreia como atriz.
— Essa menina é um escândalo — elogia o diretor Luiz Henrique Rios.
Para David Junior, que interpreta o jogador de basquete Ramon, noivo de Paloma e pai de Alice, é uma honra fazer parte de uma novela inclusiva.
— (Estamos) Falando de subúrbio, incluindo pessoas que têm a cara do subúrbio. Atores excelentes que são renomados no teatro e que antigamente não tinham tanta oportunidade de ir para a televisão porque tinha que ter aquele estereótipo de beleza. E que têm a sua beleza e seu brilho, mas têm um lugar diferente daquela ideia eurocêntrica que a gente foi doutrinado.
Para o veterano Antonio Fagundes, o ato de pluralizar os atores é mais do que essencial.
— População de 50% de negros e 50% de mulheres. A gente tem que ver todos representados. É bom darmos a eles o espelho que gostariam de ter.
Shirley Cruz diz que estar em uma novela das sete da Globo representando a mulher negra é um ato político. Na trama de Bom Sucesso, ela é Gláucia, diretora comercial da editora de Alberto (Antonio Fagundes).
— Gláucia é lésbica. Então, são duas coisas que mais me interessam. Primeiro é fazer com que meninas negras sintam o que eu senti quando vi a Gloria Maria na TV. Foi aquilo que me abriu a certeza de que poderia chegar lá. E a outra coisa que quero é contribuir para a empatia da mulher lésbica. Gláucia pode ser tudo, inclusive lésbica.
Para ela, a inclusão de elenco negro na trama é um acerto. Porém, a vontade dela é de não ter de falar mais desse assunto daqui algum tempo.
— A ousadia de quem escalou esse elenco é fantástica. Não queria falar disso daqui cinco anos. Precisa virar algo natural — afirma.
Sobre sua personagem, Cruz conta que "vai causar estranheza, mas espero que para o bem".
— Uma mulher negra retinta, bem preta, figurando numa empresa importante com Antonio Fagundes... Minha presença é um ato político de boca fechada. De boca aberta tenho que ter respeito pela mulher negra lésbica.
A TRAMA
Uma troca de exames vira de cabeça para baixo as vidas de Paloma e Alberto. Dono de uma editora de livros, o rabugento empresário sofre de uma grave doença, mas, inicialmente, Paloma é quem pensa estar com a vida por um fio.
Acreditando que tem apenas seis meses de vida, a costureira e passista de escola de samba Paloma resolve fazer tudo o que ela nunca fez: pede demissão do atual trabalho, bebe e canta dentro do ônibus, quebra vidraça na rua e transa com o primeiro homem que cruza seu caminho.
Ela decide ligar para o noivo, Ramon (David Junior), que está nos EUA tentando se consolidar como jogador de basquete. Ao saber da notícia, ele larga tudo e volta ao Brasil para passar os últimos momentos com Paloma. Quando Ramon chega ao país, ela descobre que os exames foram trocados e decide ir atrás do verdadeiro doente.
Apaixonada pela literatura, Paloma nomeia com personagens de fábulas seus três filhos: Alice (Bruna Inocêncio), a mais velha, fruto da relação com Ramon, Gabriela (Giovanna Rodriguez) e Peter (João Bravo). Vem justamente desse ponto, o amor pelos livros, a amizade com Alberto.
Preso a uma cadeira de rodas, o empresário olha a vida com pessimismo. E para piorar seus dias, terá sempre por perto o genro Diogo (Armando Babaioff), um advogado cínico que faz de tudo para levar a editora de Alberto, Padro Monteiro, à falência. Ele só quer saber de dinheiro. Já Paloma terá um triângulo amoroso que envolve Ramon e Marcos (Romulo Estrela), filho de Alberto que ela conheceu enquanto solteira. Os embates dos três prometem ser divertidos.