Foram seis meses de mistérios, viagens no tempo, cenas intensas e muita emoção. O portal de Espelho da Vida se fecha hoje (RBS TV, 18h05min), com Cris (Vitória Strada) de volta ao presente e ao lado de sua alma gêmea de muitas vidas, Daniel (Rafael Cardoso).
Como uma colcha de retalhos, a história foi se descortinando aos poucos diante dos olhos do público. Divididos entre os anos 1930 e a época atual, os atores enfrentaram o desafio de viverem facetas muito diferentes para, assim, mostrarem a evolução – ou não – das almas dos papéis que interpretaram.
Ao fim de uma jornada de resgate dos erros anteriores, alguns personagens terão seus merecidos finais, felizes ou não. Mas tudo é resultado do que plantaram na vida anterior, ou até antes disso. A autora, Elizabeth Jhin, trouxe mais uma história comovente e cheia de lições sobre o mundo material e espiritual – as anteriores foram Escrito nas Estrelas (2010), Amor Eterno Amor (2012) e Além do Tempo (2015). Acreditando ou não em vidas passadas, o telespectador mergulhou nesse espelho e se emocionou a cada capítulo.
Veja o que deu certo na trama e o que poderia ter sido melhor.
Reflexo perfeito
— Vitória Strada confirmou o que todos já sabiam desde Tempo de Amar (2017). A gauchinha, em sua segunda protagonista seguida, mostrou que é uma das melhores atrizes de sua geração, encarando com maturidade o desafio de viver mais de um papel na mesma novela. As nuances de Cris e Julia, da loucura ao sofrimento, das cenas românticas às sequências mais intensas, fizeram a atriz brilhar. Nada mal para quem caiu de paraquedas na trama, ao substituir Isis Valverde, anteriormente cotada para ser a mocinha de Espelho da Vida.
— É difícil destacar alguém em um elenco repleto de acertos. Irene Ravache é unanimidade, fala com o olhar, emociona e impressiona. Foi dela a missão de viver as personagens mais distintas: a rígida e prepotente Hildegard e a doce e encantadora Margot. De uma época à outra, a atriz mudava os trejeitos, e até o tom de voz, com maestria. Inesquecíveis também as atuações de Emiliano Queiroz (André), Felipe Camargo (Eugênio/Américo), Julia Lemmertz (Piedade/Ana), Suzana Faini (Albertina/Guardiã) e Patricya Travassos (Graça/Grace).
— Não é fácil interpretar uma vilã cheia de altos e baixos, com momentos de fragilidade e de frieza, às vezes, na mesma cena. Alinne Moraes gabaritou nesses quesitos e fez de Dora e Isabel os contrapontos perfeitos para Julia e Cris.
— Pequeninas, mas com talento gigantesco, Clara Galinari (Tereza/Priscila) e Maria Luiza Galhano (Florzinha) mostraram em cenas fortes que nasceram para a atuação. O telespectador mal piscava, e as meninas já apareciam chorando com uma facilidade digna de atores veteranos. Fofura extrema e necessária para uma história, por muitas vezes, pesada demais para crianças.
Embaçou
— A equipe de Amor Infinito — filme dirigido por Alain (João Vicente de Castro) que serviu de pano de fundo para a trama — fez figuração de luxo e pouco acrescentou à história. É uma pena, mas atores como Evandro Mesquita (Emiliano), Luciana Vendramini (Solange) e Vera Fischer (Carmo) poderiam ter sido melhor aproveitados. Em alguns momentos, a ação ficava restrita à dupla Mariane (Kéfera Buchmann) e Josi (Thati Lopes). Engraçadas no início, as duas amigas se tornaram cansativas.
— João Vicente de Castro evoluiu ao longo da novela, mas demorou a achar o tom certo de Alain e Gustavo Bruno, seus dois personagens na história. Não mostrou química com Vitória Strada e deixou a desejar nas cenas mais intensas. Enfim, ficou devendo. O ator quase sumiu em cena com a entrada de Rafael Cardoso (Danilo/Daniel) na trama.
— Falando nisso, Elizabeth Jhin poderia ter adiantado as primeiras cenas de Danilo Breton, que levou quase um mês para dar as caras na novela. É complicado segurar a audiência sem o mocinho da história. Alain passou semanas rivalizando com um "fantasma". Do mesmo modo, Daniel, personagem do ator gaúcho no presente, poderia ter aparecido ainda na metade da trama, não apenas no final. Faltou tempo para o verdadeiro romance acontecer.
— A novela só engrenou para valer quando as cenas do passado sobressaíram às do presente. Ao dar mais espaço aos dramas de Julia Castelo (no caso, Cris vivendo sua vida passada), a história se tornou mais atrativa ao público. Faltou, portanto, um "algo mais" nas cenas da atualidade: desde que Cris entrou no espelho, Alain falava sozinho, Margot resignou-se a sonhar com seu amado Vicente (Reginaldo Faria), Isabel não tinha com quem brigar e Ana ficou só esperando a filha voltar do passado. No final das contas, concentrar a ação em épocas diferentes não foi uma questão bem trabalhada.