Amores que não terminam com a morte. Relações de afeto que ultrapassam muitas vidas. Reencontros, resgates e aprendizado. Estes e outros temas perpassam as tramas de Elizabeth Jhin desde 2010. Foi naquele ano que começou o que ela mesma chamava de "trilogia espírita". Com Espelho da Vida já são quatro novelas com abordagem espiritualista, e a autora não descarta continuar escrevendo sobre o assunto. Mas por que esta temática atrai tantos telespectadores? O que faz parte da doutrina espírita e o que não passa de ficção criada pela autora?
Um amor escrito nas estrelas
A primeira história da "quadrilogia" de Elizabeth Jhin, Escrito nas Estrelas (2010), foi sucesso de público e crítica. Nathalia Dill viveu três papéis: Viviane (que fingia ser Vitória) e Valentina, na vida passada. O grande amor dela era Ricardo (Humberto Martins), ou Pedro Cassiano na encarnação anterior.
Jayme Matarazzo interpretou Daniel, filho de Ricardo, que morreu logo no início da trama. Apaixonado por Vitória, o jovem começa a disputá-la com o pai, mesmo sob a forma de espírito. Flashbacks da encarnação anterior começam, aos poucos, a explicar este triângulo amoroso e mostrar que todos precisavam de uma nova chance.
Lembrar do que aconteceu em vidas passadas é raro, mas não impossível, aponta Maria Elisabeth da Silva Barbieri, vice-presidente de Unificação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul (FERGS):
— O esquecimento das vidas passadas é a regra, porque precisamos evoluir sem as culpas, traumas e remorsos que emergem de ações equivocadas do ontem. As lembranças de vidas passadas são exceções que se conectam com necessidades individuais, em poucos casos e são espontâneas.
O espiritismo esteve presente, mas não de forma doutrinária. Foi apenas o pano de fundo para questões mais profundas e realistas, como os avanços da ciência, que permitiriam a geração de um bebê a partir do material genético de uma pessoa morta. Era este o sonho de Ricardo, "trazer de volta" o filho por meio de um neto, que seria gerado por Vitória.
A primeira de muitas
Na época de Escrito nas Estrelas, a autora Elizabeth Jhin revelou planos de escrever uma trilogia. Oito anos depois, ela apresenta a quarta novela com a temática e não descarta continuar abordando o assunto:
— Minha intenção era realmente fazer uma trilogia. Mas o tema me encantou tanto que decidi continuar com ele em minhas novelas seguintes. Não sei como vai ser a minha próxima novela, não estou fechada a novas descobertas. O importante para mim é escrever com o coração, acreditar na história e nos personagens — contou ela, por e-mail.
Se não for eterno, não é amor
Espiritismo, crianças índigo (com habilidades especiais), regressão, clarividência, anjos, mantras e outros elementos esotéricos se mesclavam em Amor Eterno Amor (2012), uma trama cheia de desencontros e, é claro, uma certa maldade bem real, personificada pela terrível Melissa (Cassia Kis). Carlos (Gabriel Braga Nunes) foi sequestrado ainda criança e criado longe da mãe, Verbena (Ana Lúcia Torre). Várias situações - paranormais ou não - levam o rapaz de volta para o seio de sua família.
Elizabeth Jhin trouxe o Espiritismo com mais força em sua segunda trama do gênero. Aqui, tudo girava em torno da doutrina, que explicava as coincidências na vida de cada personagem. Clarinha (Klara Castanho) ajudava na conexão entre os protagonistas e o mundo espiritual, sem dar margem a explicações realistas dos fatos inusitados que ocorriam.
Traços do passado
Na infância, Carlos conheceu Elisa (Júlia Gomes), sua alma gêmea. A menina morreu afogada ainda criança, mas retornou pouco tempo depois, em outra vida. Miriam (Letícia Persiles), reencarnação de Elisa, trazia lembranças e marcas de sua vivência anterior, o que é possível de ocorrer, segundo o espiritismo. A vice-presidente da FERGS explica:
— De acordo com o pesquisador americano Jim B. Tucker, estudioso da reencarnação no Ocidente, 70% das crianças que afirmam lembrar de suas vidas anteriores acreditam ter morrido de causas não naturais. O período médio entre a morte do primeiro indivíduo e o novo nascimento é de cerca de 16 meses. Além disso, grande parte das crianças estudadas por pesquisadores possuem marcas de nascimento que correspondem às feridas que causaram suas mortes na vida passada.
Sem rótulo
A diversidade de temas de Amor Eterno Amor reflete as crenças da autora, que não se considera praticante de nenhuma religião específica.
— Eu fui criada dentro da religião católica, mas não sou praticante há muito tempo. De alguns anos para cá, tenho lido muito sobre Cabala e sobre a doutrina espírita, que preenchem muito de minhas buscas pelo sentido de estar neste mundo. Pratico uma espiritualidade sem rótulo, algo que me traz um conforto e alegria muito grandes.
Além do tempo e da morte
"Há amores que não cabem em uma só vida..." "Há rancores que não cabem em uma só vida..." Com estas chamadas, o público tinha uma prévia de que não seria mais uma simples trama sobre espiritismo. Além do Tempo (2015) inovou ao exibir praticamente duas novelas em uma. A primeira fase mostrou o começo, meio e fim - trágico - do romance de Lívia (Alinne Moraes) e Felipe (Rafael Cardoso). Foram 74 capítulos no século 19, uma história inteira contada, até seu desfecho arrasador. No mesmo capítulo que encerrou a primeira fase, um novo tempo foi apresentado. Os mesmos atores, mas com novas vidas, relações e nos dias atuais.
Quem não aprendeu nada na encarnação anterior teve uma nova chance de acertar. Alguns evoluíram, outros, continuaram sem o menor escrúpulo de destruir vidas, como foi o caso de Melissa (Paolla Oliveira) e Pedro (Emilio Dantas). Para deleite do público, ao menos os mocinhos, desta vez, tiveram seu merecido final feliz.
Os mesmos erros
Porém, no caso dos vilões da trama, esse "resgate" não foi realizado. Melissa e Pedro cometeram os mesmos erros, ou seja, seus espíritos não evoluíram.
— O conserto dos erros dá-se com o arrependimento e a utilização da dor que ele proporciona para reparação do mal. Fazer o bem é a única forma de apagar os erros cometidos, e isto a vida nos oportuniza a todo o momento — ressalta Maria Elisabeth da Silva Barbieri.
A questão da reencarnação ficou bem clara desde o começo. No último capítulo, a forte mensagem doutrinária reforçou a crença de que podemos viver muitas vidas, com novas chances de evoluir espiritualmente.
Ao criar dois personagens diferentes para cada ator, Jhin desafiou a si mesma e ao elenco.
— Mais do que difícil é um desafio fascinante. Considero um exercício de dramaturgia muito interessante, e acredito que para o ator é também uma experiência muito boa.
Através do espelho
Na trama atual de Elizabeth Jhin, Espelho da Vida, os personagens carregam, desde os primeiros capítulos, a crença — ou a falta dela — no espiritualismo. Cris (Vitória Strada) levou algum tempo para acreditar nas teorias de Margot (Irene Ravache), mas depois de fazer vários "mergulhos" em sua vida passada, como Julia Castelo, a mocinha não tem a menor dúvida de que foi a jovem vitimada por um crime passional na década de 30. Em meio a tudo isso, a equipe de Alain (João Vicente de Castro) prepara um filme sobre a vida de Julia. Sendo assim, Vitória Strada vive três papéis na mesma novela — Cris, Julia na vida passada e Julia no filme. Confuso? Talvez. Mas o público tem entrado neste espelho junto com a protagonista e tenta desvendar quais são as relações entre as pessoas do passado de Julia e do presente de Cris. Não há disfarces ou eufemismos, tudo gira, sim, em torno do espiritismo.
Para quem está cada vez mais intrigado com os mistérios da trama, a autora não dá nem uma pista. Quem quiser saber sobre as vidas de Cris e Julia, vai ter que acompanhar cada capítulo.
— O mistério sobre a morte de Julia está muito bem guardado! Pretendo ir revelando os "segredos" durante a novela, mas o final do personagem do passado vai ser preservado enquanto for possível.