Orgulho e Paixão, nova novela das seis exibida diariamente na RBS TV e escrita por Marcos Bernstein, é uma transposição para o interior cafeeiro de São Paulo no início do século 20 de algumas intrigas e personagens dos romances clássicos da escritora inglesa Jane Austen (1775 – 1817) . Embora a trama central se inspire em Orgulho e Preconceito, a novela é, na verdade, um amálgama de outras obras da autora, de onde foram emprestados personagens e eventos. Veja abaixo quem é quem e de que outras encarnações você os conhece – dos livros e do cinema, claro.
Elisabeta Benedito / Elizabeth Bennet
Natalia Dill vive uma jovem de temperamento independente e que, contrariando a moda do tempo e as preocupações dos pais, angustiados com o futuro de cinco filhas, não está interessada em casar rapidamente por conveniência financeira. É a versão nacional de uma das mais conhecida e admiradas heroínas da autora, Elisabeth Bennet, a protagonista da obra-prima Orgulho e Preconceito (1813). Várias vezes adaptada para o cinema, a personagem já foi vivida por Greer Garson, no clássico de 1940, Jennifer Ehle, na série da BBC de 1995, e Lilly James, na paródia de título autoexplicativo Orgulho e Preconceito e Zumbis. Uma de suas versões mais conhecidas é justamente a mais recente, de Keira Knightley, no filme de 2005 dirigido por Joe Wright. Outra é a Bridget Jones do livro de Helen Fielding, interpretada por Renée Zellweger em três filmes para o cinema.
Darcy Williamson / Fitzwilliam Darcy
Bonito, austero e com uma visão tradicional de família e de sociedade, o Darcy Williamson interpretado por Thiago Lacerda é inspirado no mais conhecido herói da autora e preferido das fãs, Fitzwilliam Darcy. Rico, nobre e aparentemente arrogante no início do romance Orgulho e Preconceito, ele vive vários conflitos e mal-entendidos com Elisabeth antes de ficarem juntos no fim. Também já foi mais de uma vez adaptado para o cinema, na pele de Laurence Olivier (em 1940) e de Matthew MacFadyen (em 2005). A versão que provocou o maior impacto, no entanto, foi a da minissérie homônima da BBC realizada em 1995 com Colin Firth no papel. Firth se tornou um ator mundialmente reconhecido e provocou o que a imprensa britânica chamou, na época, de "Darcymania". Mais tarde, Firth interpretaria o interesse amoroso de Bridget Jones, Mark Darcy, um personagem inspirado no Darcy original. A novela resolveu transformar Darcy em prenome, à brasileira, em vez de um sobrenome, como é mais comum na Inglaterra.
Camilo Bittencourt / Charles Bingley
O jovem e romântico Camilo vivido por Camilo Destri é um rapaz bondoso, mas de personalidade fraca e influenciável, dominado pela mãe e apegado como um irmão ao seu melhor amigo, Darcy Williamson (Thiago Lacerda). Ao longo da trama, se apaixonará pela irmã de Elizabeth, Jane. É inspirado no Mr. Bingley de Orgulho e Preconceito, que já foi vivido por Bruce Lester (1940), Crispin Bonham-Carter (1995) e Simon Woods (2005).
Jane Benedito / Jane Benett
Pamela Tomé vive a mais velha das irmãs Benedito, bonita, sonhadora e tímida. É a irmã mais ligada a Elisabeta (Nathalia Dill). Vai se apaixonar intensamente pelo jovem Camilo, e sofrer com as indecisões e recuros do jovem ao longo da trama. Sua personalidade mantém-se fiel à imaginada por Austen para a Jane Bennet de Orgulho e Preconceito. No cinema, ela já teve o rosto da estrela Maureen O'Sullivan, em 1940, que havia se notabilizado por interpretar outra Jane, a do Tarzan; de Susannah Harker (1995); e de Rosamunde Pike (2005), hoje mundialmente conhecida como a protagonista do filme Garota Exemplar (2014).
Ema Cavalcante / Emma Woodhouse
Agatha Moreira vive uma jovem herdeira, neta de um barão do café. Extrovertida e alegre, tem a certeza de seu "olho clínico" para detectar casais "apropriados" e gosta de bancar a casamenteira com as pessoas à sua volta. Na trama global, é a melhor amiga de Elisabeth, mas na obra de Jane Austen as duas nem sem conhecem. A Ema nacional é inspirada na Emma Woodhouse do romance Emma (1815). A personagem também já teve seus momentos no cinema. Foi interpretada por Gwyneth Paltrow em um filme de 1996 dirigido por Douglas McGrath, e por Romola Garay em uma minissérie da BBC de 2009. O romance também foi adaptado para o mundo contemporâneo no filme As Patricinhas de Beverly Hills (1995), em que Alicia Silverstone vivia uma Emma disfarçada como uma it girl de Los Angeles.
Lidia Benedito / Lydia Bennet
Bruna Gryphão vive a mais extrovertida das filhas da família Benedito, e seu temperamento mescla ingenuidade e futilidade, o que pode ser uma garantia de problemas. É a transposição para a TV de Lydia Bennet, a jovem cabeça-de-vento que, em Orgulho e Preconceito, provoca um escândalo capaz de arrasar a reputação da família. Na adaptação de 2005, foi vivida por Jena Malone, mais tarde presente na série Jogos Vorazes.
Mariana Benedito / Marianne Dashwood
Embora seja uma das irmãs Benedito, o que em um primeiro momento pode levá-la a ser confundida com a Mary Bennet de Orgulho e Preconceito, a linha narrativa da personagem vivida por Chandelly Braz é, na verdade, inspirada em Marianne Dashwood, de Razão e Sensibilidade (1811). Franca e apaixonada, ela se enamora do romântico e arrebatado poeta Diogo Uirapuru (Bruno Gissoni), mesmo sendo cortejada pelo coronel Brandão (Malvino Salvador), um homem mais velho e muito sério. É a versão brasileira da segunda das irmãs Dashwood no romance de Austen, jovem que vive um triângulo entre os pretendentes mr. Willoughby e Coronel Brandon. Na adaptação cinematográfica de Razão e Sensibilidade dirigida por Ang Lee em 1995, a personagem foi interpretada por Kate Winslet. Em uma minissérie inglesa de 2008, foi vivida por Charity Wakefield.
Cecília Benedito / Catherine Moreland
Outro caso de inspiração cruzada enxertado no quadro maior de Orgulho e Preconceito. Embora tenha um nome que poderia remeter à Kitty Bennet irmã de Elisabeth, a personagem de Anaju Dorigon é, na verdade, inspirada em Catherine Moreland, a protagonista de A Abadia de Northanger, publicado postumamente, em 1818. Na novela global, Cecília é uma jovem impressionável com paixão pela leitura de histórias góticas e românticas. Intrigada com a morte de Josephine (Christine Fernandes), mulher do Almirante Tibúrcio (Oscar Magrini), na misteriosa Mansão do Parque, ela se aproxima da família e se vê interessada no filho do casal, Rômulo (Marcos Pitombo). A história segue de forma próxima a trajetória de Catherine, que, em A Abadia de Northanger, se apaixona pelo jovem Henry Tinney (o personagem de Pitombo) e é apresentada a sua família, na cidade de Bath. O General Tinney do livro virou o almirante Tibúrcio na novela. Fascinada pela propriedade dos Tinney, com a mesma atmosfera dos romances góticos que devorava na juventude, Catherine começa a imaginar tramas semelhantes no lugar em que está hospedada. Em uma adaptação cinematográfica de 2007, ela foi interpetada por Felicity Jones, a Jyn Erso de Rogue One.
Susana / Susan Vernon
A grande vilã da novela, a interesseira Susana vivida por Alessandra Negrini, vem das páginas de uma das obras menos conhecidas de Austen, o romance epistolar Lady Susan (1871). Na novela, Susana, expulsa de casa e com seu casamento anulado após um caso extra-conjugal, volta suas atenções para Darcy Williamson (Thiago Lacerda), um partido em condições de ajudá-la a "arrumar a vida". Na obra original de Jane Austen, Lady Susan é uma viúva, amante de um homem casado, que se apresenta de surpresa na casa de seus cunhados, Charles e Catherine. Na ciranda de reviravoltas que se segue, Lady Susan se torna objeto da paixão do irmão de sua cunhada, um rapaz bem mais jovem que também é alvo do interesse da filha adolescente de Susan, Frederica. Na novela, a personagem da filha, aparentemente, foi suprimida. Na adaptação cinematográfica Amor e Amizade, de 2016, Susan foi interpretada pela atriz Kate Beckinsale (a vampira Selene da série Anjos da Noite).
Ofélia Benedito e Felisberto Benedito / Senhor e Senhora Bennet
Vera Holtz e Tato Gabus Mendes vivem os pais das cinco moças Benedito. Ela, uma mulher cujo único foco parece ser arranjar um bom marido para suas filhas. Ele, um homem tranquilo e bonachão que pretende que suas filhas realizem seus sonhos. É um decalque aproximado dos personagens Senhor e Senhora Bennet em Orgulho e Preconceito. Como informa o narrador do romance sobre a senhora Bennet, "a ocupação de sua vida era casar as filhas; seu consolo eram as visitas e novidades". Isso torna a senhora Bennet uma personagem muitas vezes considerada, pelos demais personagens à sua volta, vulgar, interesseira e com pouca noção de decoro. O truque da ironia narrativa de Austen é que, na Inglaterra vitoriana em que ela ambienta suas narrativas, o desespero da senhora Bennet tem razão de ser, já que uma mulher solteira não tinha direito a herança de uma propriedade, e não poucos foram os casos de jovens solteiras desamparadas após as casasa e fazendas paternas irem parar na mão de primos distantes. Já o bonachão Sr. Bennet é um personagem muitas vezes favorecido pela simpatia dos leitores e dos próprios personagens, mas claramente ele usufrui das vantagens de ser o dono da propriedade sem ter deixado a situação financeira da família muito boa - sendo, portanto, parcialmente responsável pelo futuro incerto das filhas. No filme de 2005, os personagens foram retratados em cores vivas pelos veteranos Donald Sutherland e Brenda Brethlyn.