Nas ruas, Lázaro Ramos se propôs a ouvir o outro. O ator percorreu Rio de Janeiro, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo para escutar as opiniões dos brasileiros e entrar de cabeça na vida de quem cruzava seu caminho. Na internet, a atitude não foi diferente. Desde agosto, vem trabalhando lado a lado com o público em uma plataforma digital. Lazinho com Você é troca de ideias e criatividade na TV e na internet, mas, se precisar resumir, a palavra-chave do projeto é colaboração. O novo programa comandado pelo artista estreia neste domingo na RBS TV, às 14h30min, reunindo humor, esquetes, música, realização de sonhos e trajetórias inspiradoras. Por e-mail, Ramos respondeu a perguntas de Zero Hora sobre o desafio de estar à frente da nova atração dos finais de semana na Globo.
Como está sendo a experiência com a plataforma on-line do Lazinho com Você?
A gente recebeu material de 26 Estados e Distrito Federal. Fomos provocadores, mas também fomos provocados. Temos quadros, como o Caravana com Lazinho e Segue o Sonho, que foram pensados previamente. Mas temos também o Clipa Aí, que surgiu pela quantidade de música boa que recebemos no site. O SitCom de Todo Mundo também foi uma maneira de a gente interagir com os criadores de dramaturgia que conhecemos ali. No começo, fiquei como um maníaco acompanhando tudo. Mas, com o tempo, para a minha saúde mental e física, tive que deixar que alguém filtrasse primeiro. Chegava a acordar no meio da madrugada e dar aquela olhada no celular.
Como foram as gravações do programa nas ruas? Sentiu que o público abraçou a ideia?
Foram oito semanas viajando para gravar os cinco programas. Tem algo de solitário, é diferente de série ou novela com um elenco grande, mas está sendo muito prazeroso fazer. O maior aprendizado nesse programa foi encontrar as pessoas, conseguir ser uma escuta e dialogar com o que viesse. A rua fala o que ela quer, não temos como controlar. A gente tinha que conversar de verdade, se envolver, rir e chorar junto. As pessoas estão precisando muito ser escutadas. Me senti muito honrado e com muita responsabilidade. Quando uma pessoa divide uma coisa da vida dela com você, ela te faz um convite a fazer parte daquela história.
Quais os desafios de trabalhar com um programa altamente colaborativo?
Nosso desafio é escutar de verdade as pessoas. É um programa de escuta, que tenta gerar conversas. Mas todos eles são costurados pelo desejo de conversar com o máximo de pessoas possível. Uma conversa leve, bem-humorada e emocionante para ser uma companhia agradável nas tardes de domingo. Nosso projeto está focando no melhor da internet, que é a criatividade das pessoas, a possibilidade de criar conexões e pontes, regionalizar o diálogo. Mas é importante destacar que não é um programa sobre internet, é um programa sobre gente. O que é de internet tem linguagem de internet, e o que é de TV tem linguagem de TV. Cada programa é guiado por uma pergunta, mas a gente batalhou para que fossem perguntas que gerassem conversas, que não têm certo nem errado.
Você pode adiantar algo do primeiro programa?
No primeiro programa, vamos ter o Caravana com Lazinho em São Paulo, com um homenageado que criou um time de futebol na região onde mora e foi escolhido pela comunidade. Foi bem emocionante. E também teremos o Segue o Sonho, que foi no Rio de Janeiro. Mas, se eu contar tudo aqui, perde a surpresa.
E como está sendo a experiência de apresentador? Está à vontade nessa função?
Adoro apresentar. Esse programa me deu um prazer enorme, foi totalmente inusitado. A gente saía achando que ia encontrar uma coisa e acabava sendo outra. A gente sabia como ia começar uma gravação, mas nunca como terminaria. Uma situação que parecia triste acaba divertida ou uma situação que parecia cômica acaba se tornando emocionante.
Há comparações do perfil do programa com as atrações comandadas pela Regina Casé, como o Brasil Legal. Você acha que são propostas parecidas?
Não vi comparações desse tipo, mas, se houve, e se for o fato de identificar o desejo de mostrar a pluralidade na TV, para mim isso é algo positivo. Pluralidade, afetividade e conversa são, sim, palavras que fazem parte do Lazinho, mas o programa tem suas características próprias.
Programas apresentados por negros são raros na TV aberta. Ao mesmo tempo, você é a estrela de Mister Brau e, agora, ganhou um programa só seu. Como você enxerga a questão da representatividade na TV?
Há mudanças vindas da TV e do público que expressa seu desejo. Estamos em construção e precisamos estar atentos para escutar o desejo do público e fazer sempre mais para não ser uma fase, mas o reconhecimento de uma potência. É importante a TV refletir o que é a nossa sociedade.
Você e sua família são referência quando se fala em atores engajados com as lutas do povo negro. Como você lida com essa responsabilidade?
É, ao mesmo tempo, um lugar de alegria, mas também de exceção, e por isso é um convite à responsabilidade de saber que esse é um papel importante a ser cumprido. Mas é um processo em construção, é mais um estímulo do que uma certeza. Um estímulo de que estou no caminho certo e um convite a continuar tentando me fazer útil.