Em O Outro Lado do Paraíso, Walcyr Carrasco esfrega na cara do público, sem dó, temas espinhosos como racismo, violência contra a mulher, homofobia, entre outros. Não há sutileza ou meias palavras no texto da trama.
A perua Nádia (Eliane Giardini), por exemplo, deixa bem claro o que pensa sobre o romance entre o filho Bruno (Caio Paduan) e a empregada doméstica Raquel (Erika Januza):
— Não quero meu filho namorando uma preta! Deus me livre de ter netos "torradinhos".
É por aí, pra pior, o nível dos comentários da maioria dos personagens. O que incomoda é que, na vida real, o preconceito não é tão escancarado. Os diálogos de Walcyr passam longe da hipocrisia que costuma rodear esses assuntos. É tudo direto, na lata, sem rodeios.
Preconceito materno
O mesmo acontece com o drama de Estela (Juliana Caldas), filha caçula da vilã Sophia (Marieta Severo). A mãe megera fala para quem quiser ouvir que tem horror à menina, a chama de "monstrengo", "aberração". Pra piorar, Sophia se recusa a adaptar a casa às necessidades de Estela e não vê a hora de "despachar" a moça de volta para a Europa. Outra situação bizarra envolvendo essa questão foi o comentário de Lorena (Sandra Corveloni) ao encontrar a família da amiga. Dirigindo-se a Sophia, perguntou sobre Estela:
— Essa é a sua filha de baixa estatura?
Não estou dizendo que o preconceito, em todas as suas formas, não exista. Só que geralmente é velado, sutil, fica mais nos olhares e nas piadinhas menos diretas. Talvez Walcyr Carrasco, na ânsia de tocar em diversas feridas ao mesmo tempo, esteja pesando a mão. Ou será que é preciso exagerar mesmo, para mostrar o que muitos não conseguem ver?