Foi ao ar na noite desta segunda-feira (25) o último capítulo de Novo Mundo, novela da faixa das 18h da RBS TV que destacou-se por devolver ao horário os altos índices de audiência. No que diz respeito à trama, poucas coisas foram deixadas para ser resolvidas apenas no episódio final. A cena de maior apreensão, na verdade, ocorreu logo nos primeiros minutos do episódio. O confronto entre Joaquim e Thomas – que mantinha Anna, desacordada, e Dom Pedro na mira de sua arma –, que encerrou a edição no último sábado (23), acabou sem muito mistério. Enquanto o oficial inglês obrigava o mocinho a optar pela vida da amada ou do irmão, Anna despertou, desatou os nós de suas mãos e conseguiu desarmar o vilão.
Mas, afinal, o que foi ficção e o que foi um retrato da realidade em Novo Mundo? A cena de Dom Pedro sendo coroado Imperador do Brasil em uma igreja com a presença de índios, por exemplo, não está de acordo com os registros históricos. Segundo o historiador Felipe Pimentel, a única imagem que temos é do pintor francês Jean-Baptiste Debret e mostra Dom Pedro cercado apenas por nobres durante a cerimônia.
O confronto descrito no início do texto, aliás, fica bem distante da realidade. Primeiro porque não há indícios de que Dom Pedro tenha tido um irmão chamado Joaquim Martinho, como a novela apresentou. Como não houve Joaquim, os outros envolvidos na confusão também precisaram ser criados pelos autores. O que mais se aproxima da realidade é Thomas. Na história, houve um corsário inglês chamado Thomas Johnstone (e não Johnson, como em Novo Mundo), mas a época em que viveu não foi a mesma do período retratado na novela, explica Pimentel.
A marcante cena da morte de Thomas, sendo pego tentando fugir da prisão após conseguir subornar o guarda que o transportava, pode ter servido para acalentar os corações dos telespectadores sedentos por justiça, mas não passou de ficção. Assim como Sebastião, marcado ao longo da trama pelo seu racismo, que acabou com negros despejando baldes de fezes em sua cabeça sob os olhares da população branca que não fez nada a respeito. É impossível afirmar com certeza que uma cena desse tipo seria possível, mas dado o momento histórico, é algo bem difícil de se imaginar.
Declarada uma "obra aberta", ou seja, passível de modificações de acordo com a recepção do público, Novo Mundo despediu-se deixando claro seu discurso de combate ao preconceito e à desigualdade social. Ainda que de forma sutil, os autores lançaram luz sobre o tema em momentos como o último diálogo de Leopoldina com Dom Pedro. "Vamos mostrar que todos podem ter orgulho de pertencer a este país", disse.