O ator e comediante Gregorio Duvivier, conhecido por suas participações nos vídeos do canal Porta dos Fundos, estreia nesta sexta-feira, às 22h, na HBO, o programa Greg News. Com 20 episódios de meia hora, a atração semanal funcionará no modelo de "comedy news", com Gregorio em uma bancada falando sobre as notícias mais relevantes da semana ou temas em evidência na atualidade. Segundo o apresentador, o objetivo é tratar assuntos que "falamos muito, mas não entendemos". Gregorio Duvivier conversou com Zero Hora por telefone e falou sobre seu novo projeto. Confira a entrevista:
O programa chegou a ser anunciado como um talk show, mas nos últimos dias vimos que não vai ser assim. Qual vai ser o formato?
O pessoal chama de talk show porque esse formato com auditório e fundo de cidade parece um pouco, mas é mais um late show. Não é um formato de conversa, mas de monólogo. Mais um esquema John Oliver (Last Week Tonight) e Jon Stewart (The Daily Show – 1999-2015) do que Jimmy Fallon (The Tonight Show).
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E dentro desse formato, há espaço para convidados ou a ideia é levar sempre com o monólogo?
Eventualmente, tem. Tem liberdade para ter. Vai depender do formato, do tema do programa. São em geral dois seguimentos principais trabalhados a fundo, mais do que uma revista da semana, são grandes temas da semana. Tem uma equipe grande pesquisando os temas tratados, temas que estão em evidência. Sistema prisional, guerra às drogas, reforma trabalhista. A gente tem uma equipe que corre atrás. Por que é ruim? É ruim para quem? Qual seria a alternativa possível? Vamos atrás das histórias que em geral não estão sendo ditas pela polarização, fica tudo "é horrível, é ótimo". Os debates que têm não chegam para as pessoas. Debates entre economistas, se você for ver, são muito áridos, muito chatos, porque são feitos para quem entende de economia. Você passa o pressuposto que a pessoa já sabe um monte de coisas. A gente vai tornar o debate mais acessível e democrático, sem vulgarizar, porque é um debate que precisa ser tratado com seriedade.
Você acha que a sua ligação com o humor pode aproximar as pessoas do debate?
A gente precisa democratizar esse debate, porque é muito interessante para as pessoas que votam a reforma trabalhista, por exemplo, que ele não chegue na população. Então nesse caso a desinformação não é um acidente de percurso, ela é um projeto, sabe? É um projeto muito bem sucedido. A quem interessa ou não uma pessoa bem informada sobre o debate que está acontecendo? Então a gente têm que trabalhar para que a informação chegue e que as pessoas possam participar do debate e a partir daí formar uma opinião.
Como foi a recepção da HBO para abrir esse espaço que, mais que um programa de entretenimento, acaba se tornando também um espaço para reflexão? Tem alguma restrição de tema ou pode tratar do que você e sua equipe decidirem?
(liberdade) Total. Nos primeiros programas são temas bem espinhosos. Escola sem partido, Odebrecht e delações. Dois temas difíceis, com muitas armadilhas que se pode cair. A gente cita muitos nomes, muitas empresas, totalmente livre. E eles têm essa tradição, né? John Oliver e Bill Maher (Time With Bill Maher) são dois programas muito livres, sem papas na língua. Então a HBO é um lugar perfeito para estar.
Politicamente, você sempre se posicionou como de esquerda. Acha que dentro desse espaço conseguiria entrevistar ou até mesmo debater com alguém identificado com a direita?
Com certeza, essa é uma das ideias. Na verdade, uma das coisas do programa é mostrar como a gente discorda em pouco, de modo geral. Por exemplo, o Temer tem aprovação de 9%, que polarização é essa? A gente concorda com muito mais coisas que a gente pensa. Eu acho que volta e meia nós estamos falando as mesmas coisas com palavras diferentes, então não é que a gente acha que vai agradar todo mundo, e nem é essa a ideia do programa.
Provavelmente acabe até desagradando todo mundo em algum ponto.
Claro, o que é um pouco o lugar do humor. O lugar do humor é esse, do outro, é a forma de você pensar muitas vezes através do choque, sendo algo oposto do que você acredita. O humor não é aquela vontade de agradar todo mundo, o nome disso é carência. O humor não pode ter essa pretensão, porque se não você acaba não fazendo humor nenhum. Mais do que convencer as pessoas que a gente tá certo, nós queremos contar boas histórias, a história por trás. Qual a história dessa reforma trabalhista que está aí hoje? Por que a população está enfurecida? Qual a história do sistema prisional? Por que o Brasil tem tanta gente presa e segue sendo o país da impunidade?
Desde os tempos de "Porta dos Fundos" a religião e a igreja como instituição são temas bem frequentes no seu trabalho. Você já teve até uma discussão com o Marco Feliciano, acha que haveria a possibilidade de entrar em um debate nomes como o dele e Silas Malafaia?
Pra conversar, eu tenho a impressão que você têm que concordar o mínimo. Por exemplo, quando um sujeito como os que você citou nega o direito ao casamento igualitário, ele está em outro lugar de discussão, tão distante do meu, porque ele está negando a humanidade de certas pessoas. Ele está dizendo que essas pessoas não têm direitos iguais a nós. Quando uma pessoa diz uma coisa dessas, eu não sei por onde começar, então essas pessoas eu não pretendo ganhar na discussão. Tem certas coisas que eu não vou abrir mão, não vou dizer "ah, mas é verdade que gays de repente não têm o mesmo direito". Esse tipo de divergente não (debate). Agora, pessoas que têm uma visão mais liberal de mercado, por exemplo, eu acho que a gente tem que conversar ou tem que entender. Pessoas que são super anti-petistas ou, por outro lado, super anti-liberais, também a gente tem que conversar. Esse tipo de discordância, que é mais do ponto de vista do mercado, de qual deve ser o tamanho do papel do estado, eu acho que é muito saudável porque tudo isso está em debate. Agora sobre gays não merecerem direitos iguais, é algo que não tem por onde começar, pra mim é um crime humanitário.
E sobre debater com Marco Feliciano?
Eu nunca me dispus a debater porque sabia que ia acontecer exatamente isso (sobre a discussão dos dois no Pânico). É igual jogar xadrez com um pombo, ele fica por cima, falando por cima, falando mentira. Ele tem estratégias que são muito infantis e muito baixas para reduzir a qualidade do debate. Ficar discutindo com um sujeito limítrofe, fronteiriço da humanidade, que parece um elo perdido entre espécimes anteriores ao homo sapiens eu acho muito difícil. Um cara que diz que religiões africanas são coisas do demônio, e por isso a África é subdesenvolvida, um sujeito com esse nível de racismo e primarismo de pensamento, não tem muito por onde começar, então só me resta torcer para ele se iluminar um dia, mas eu não vou fazer esse trabalho insalubre.