Recurso já recorrente em produções brasileiras que passam pelos cinemas e depois chegam à televisão fatiadas como minisséries – o longa-metragem Neruda (2016), dirigido pelo chileno Pablo Larraín, estreia nesta sexta-feira, dia 12, às 22h, no canal por assinatura FOX Premium 1, com quatro episódios. Todos os capítulos serão disponibilizados na plataforma de streaming da FOX.
O canal informa que essa nova versão de Neruda terá no total cerca de quatro horas de duração – o filme exibido nos cinemas no ano passado tinha 1h47min. A trama mostra a jornada que o poeta chileno Pablo Neruda (1904 – 1973) empreendeu para escapar da perseguição política em seu país, no ano de 1948. A adaptação não foi previamente divulgada à imprensa, mas é informado que, entre as cenas extras, estão arcos narrativos com maior destaque a personagens, no longa, secundários.
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Entre esses personagens está o do pintor espanhol Pablo Picasso. Neruda foi indicado pelo Chile a concorrer a uma vaga na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Ficou de fora da seleção – Larráin concorreu à estatueta com No (2012), filme que o projetou como um dos mais destacados cineastas latino-americanos em atividade.
O diretor dos elogiados e premiados Tony Manero (2008) e O Clube (2015) ficou em evidência no ano passado também com outra cinebiografia, Jackie. O papel da ex-primeira-dama norte-americana Jacqueline Kennedy (1929 – 1994) valeu à atriz Natalie Portman as indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar de melhor atriz.
Apresentado na seção Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, Neruda sublinha o talento de Larraín não apenas por se mostrar um projeto cinematograficamente muito superior à cinebiografia homônima do poeta lançada em 2014. A proposta do diretor dribla o tom hagiográfico recorrente para iluminar a trajetória íntima e pública de Neruda realçando-o tanto em seu inquestionável talento literário e na sua visão humanista quanto na sua vaidade e no seu egocentrismo.
O recorte histórico mostra o ano de 1948 como epicentro das turbulências na vida de Neruda (vivido por Luis Gnecco). Ocupando o cargo de senador, o intelectual projetava-se à época como um das principais vozes da esquerda chilena. Após o presidente Gabriel González Videla (Alfredo Castro, protagonista de Tony Manero) aprovar uma lei que autoriza a perseguição aos comunistas, Neruda e seus apoiadores passam a ser caçados pela cidade de Santiago.
Com o cerco se fechando, o poeta e sua mulher, a artista plástica argentina Delia del Carril (Mercedes Morán), passam a circular também pelo interior do país, enquanto seus companheiros planejam uma rota de fuga para a Europa. Em Paris, Pablo Picasso (Emilio Gutiérrez Caba) encarrega-se de denunciar ao mundo à perseguição em curso e recepcionar o amigo no exílio.
É na clandestinidade que Neruda começa a escrever o volume de poemas Canto Geral, para muitos a sua obra-prima. Com ajuda do roteirista Guillermo Calderón, Larraín dá vida a um personagem fictício de grande relevo na narrativa: Óscar Peluchonneau (papel do ator mexicano Gael García Bernal, que trabalhou com o diretor em No), policial encarregado de caçar Neruda. Ao mesmo tempo em que se mostra obcecado pela missão, Peluchonneau não esconde sua admiração pelo artista.
As contradições que perpassam o jogo de gato e rato, com o perseguido divertindo-se em estar sempre um passo a frente de seu inflamado perseguidor com arrojadas e criativas provocações, imprime ao projeto uma tanto de graça e fantasia.