Sete episódios foram suficientes para fazer de Big Little Lies uma das melhores produções da temporada. Adaptada do livro homônimo de Liane Moriarty, a série da HBO retratou como a violência está introjetada na vida das mulheres com diferentes nuances e impactos. Do entrosamento entre o trio de protagonistas, Nicole Kidman (Celeste), Reese Whiterspoon (Madeleine) e Shailene Woodley (Jane), à direção de Jean-Marc Vallée, passando pelo roteiro criado por David E. Kelley, tudo foi excepcional.
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A história parte de um assassinato durante a festa de uma escola primária de uma pequena cidade americana para exibir uma trama de traumas, intrigas e disputas. O roteiro mescla depoimentos de testemunhas à polícia com recursos de flashback para contextualizar tudo o que aconteceu antes do crime, exposto já no episódio de estreia sem revelar as identidades de vítima e assassino.
Até o sexto capítulo, vamos conhecendo mais sobre essas mulheres que parecem ter vidas perfeitas, mas que escondem dos outros o que realmente vivem ou sentem. Madeleine é aquela que precisa saber de tudo o que se passa em seu entorno social. É expansiva e carece de atenção. Por trás disso, esconde seus problemas de relacionamentos com o ex-marido – e o fato de não conseguir lidar bem com a atual mulher dele, Chloé (Zoë Kravitz) –, com a filha adolescente e com o atual marido. Jane é uma jovem mãe recém-chegada a Monterrey que precisa enfrentar as acusações de que seu filho estaria fazendo bullying com uma das coleguinhas, esta filha da competitiva Renata (Laura Dern), enquanto reluta em falar sobre o pai dele. E Celeste é a mãe dos gêmeos e esposa dedicada que esconde a violência que sofre do marido, Perry (Alexander Skarsgård).
As lindas e ensolaradas paisagens de Monterrey são sobrepostas pelas imagens com fotografia mais escura para fazer a combinação do que há dentro e fora das casas dessas famílias. Reese é quem entrega a interpretação mais surpreendente e coesa, num misto da histriônica Elle Woods, de Legalmente Loira (2001), com a dramática e melancólica June Carter, de Johnny e June (2005), que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz. Mas Nicole não fica muito atrás, com um trabalho que cresce a cada episódio e rende cenas de muita entrega física e emocional com Skarsgård.
A trilha sonora dita o ritmo de tudo. Muitas das músicas aparecem como escolhas da filha mais nova de Madeleine, a pequena Chloe (Darby Camp), de apenas seis anos. É uma pegada soul pop, que também tem muito rock, com nomes como Elvis Presley, Rolling Stones, Alabama Shakes, Charles Bradley, Otis Redding e Fleetwood Mac, e vale muito conferir.
Mas foi o episódio final o mais surpreendente – se você perdeu, pode recuperar tudo pelo serviço de streaming HBO GO. As mulheres que durante toda a série se detestaram, acabaram unidas num episódio que revelou para todas elas a violência sofrida por Celeste. A sequência que revela a identidade do pai do filho de Jane é uma das mais tocantes, porque sem que nehuma palavra seja dita, somos levados a viver a mesma dor que ela, Celeste e Madeleine. Sem entrar em mais spoilers, fica a dica para quem gosta de grandes histórias.