CHUPA!
Assim, com caixa alta (o jeito jornalista de dizer letras maiúsculas) e o imperativo ponto de exclamação, um querido leitor, no momento em que terminou o episódio desta terça-feira, publicou um comentário no post de Zero Hora no Facebook que tinha o link para o meu texto "Os jurados do MasterChef Brasil erraram ao não eliminar Gleice". Nesse texto, de 4 de maio, lamentei a permanência da estudante paulista – motivada, talvez, por um sentimento de pena dos chefs Fogaça, Paola e Jacquin – e a despedida da engenheira química Gabriella, que, na famosa e polêmica prova dos macarons, descumpriu uma regra, embora tenha entregue um doce não apenas comível, mas gostoso, ao contrário de sua adversária, cuja iguaria foi definida como "horrível". Desde então, fiquei contando os dias para que Gleice fosse embora e para que, na repescagem, Gabriella voltasse.
Pois bem, meu caro leitor que ficou quase um mês esperando esse momento para me espinafrar. Ponho o rabo entre as pernas e te digo: a repescagem me fez engolir minhas palavras.
Leia mais:
"MasterChef": Maçã verde, ovo frito e outros destaques da repescagem
Ticiano Osório: "Torci para a Gleice sair do 'MasterChef' e, mesmo com todo o chororô, não me arrependo"
"Masterchef": cabeça de porco gera debate sobre direitos animais
O belo episódio desta terça-feira reforçou, para o bem e para o mal, as características dramatúrgicas do MasterChef, seu misto de imprevisibilidade e inevitabilidade. Foi interessante desde partida, com a formação das duplas entre os candidatos a uma segunda chance e os personagens que já estavam na disputa. Achei bacana a Gleice, a mais amadora, ter como parceira a Raquel, provavelmente a mais habilidosa; o português Nuno chamou o outro estrangeiro da turma, Lee, que nasceu em Taiwan; o humilde Tenente convocou o arrogante Fábio; o aparentemente atrapalhado Fernando trouxe para sua bancada Aluísio, que vem se atrapalhando sozinho; a certinha Gabriella ficou com a mais certinha ainda Bruna.
Nessa primeira prova, as duplas tinham de reproduzir uma entrada do Fogaça (brioche com creme de queijo, ovo frito e aspargos), um prato principal de Jacquin (ravióli de lagostim com emulsão de sauterne) e uma sobremesa de Paola (tabletón de doce de leite com chantilly). Os quatro melhores seguiam para a segunda fase. Por um lado, mostrou-se imprevisível o desfecho. Por outro, era inevitável que, mais uma vez, os três jurados dariam uma torcidinha – no duplo sentido – nas regras.
Vejam bem: na apresentação da prova, tudo levava a crer que avançariam os quatro melhores no conjunto da obra. Foi só depois de os jurados provarem os pratos e deliberarem que ficamos sabendo dos critérios: um candidato seria classificado pelo conjunto da obra, e os outros três, pela excelência em um prato individual. Creio que foi o jeito encontrado por Fogaça, Paola e Jacquin de manter na briga Gabriella. Afinal, ela serviu uma entrada apetitosa, mas seu ravióli parecia um pastel (e eu não vi a emulsão, mas pode ser que meus olhos já estivessem cansados dado o adiantado da hora), e a sobremesa ficou medonha (o chantilly em cima só piorou a cena). Errou dois pratos de três. Aproveitamento de 33,3% – se fosse no futebol, era digno de rebaixamento. Na minha avaliação, já estaria eliminada.
Aí veio a prova decisiva, com Gabriella, Gleice, Fernando e Hellen. Se, por um lado, a maçã verde trazida por Hellen deu um tempero de imprevisibilidade (o que fazer para harmonizar com camarão, cuscuz e cebola roxa, entre outros ingredientes?), por outro me pareceu inevitável o descarte da publicitária paulista – na trama do MasterChef, geralmente a autoconfiança é castigada com uma avaliação ruim ou algo mais grave. Gleice, nessa prova, arrasou. Mostrou-se refinada e segura ao cozinhar camarão com creme de cenoura e cuscuz de cebola roxa e maçã verde. Estava lindo seu prato, lindo de encher os olhos. E enchi os olhos de lágrimas: foi bonito ver a estudante paulista, tão criticada por mim (e por tantos outros de vocês, leitores, né?) pela falta de repertório técnico e até pela falta de paixão, retornar ao MasterChef por mérito. Gleice volta mais forte. Sigo achando que ela não chegará ao top 5. Mas depois do seu tabletón e do seu camarão, não duvido de mais nada.
P.S. 1: Fernando foi mais consistente do que Gabriella e ficou com a segunda vaga. Mas podia ter voltado só para injetar mais humor ao programa. Teve boas tiradas, como quando, no depoimento, devolveu para Paola o "Você é um amorzinho" que ouviu da chef argentina.
P.S. 2: Ana Paula Padrão estava em seu melhor papel ontem – o de coadjuvante que fica ao fundo do quadro, rindo da dinâmica veloz e engraçada entre Jacquin e Fernando.
P.S. 3: Lívia chorou.