Acho deliciosos os episódios do MasterChef Brasilcom prova de equipe. Não apenas porque são a oportunidade de babarmos – numa visão otimista, é claro – com um serviço completo: entrada, esporros do Jacquin, prato principal, desespero da Paola, sobremesa, mais esporros do Jacquin. Mas também porque permitem uma visão mais ampla de cada concorrente. Eles precisam interagir e colaborar com os rivais, eles precisam mostrar capacidade de liderança e organização, e, depois da derrota, os eliminados, cada um em sua bancada, precisam dar a volta por cima e, aí sim, apostar unicamente no seu talento individual. É um atraente e cruel microcosmo dos ambientes de trabalho.
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Os chefs erraram ao não eliminar Gleice
O episódio desta terça-feira foi um dos melhores desta terceira temporada. O cenário ajudou: a cozinha do restaurante Dalva e Dito, do Alex Atala, comida caseira preparada com requinte. Outro ponto a favor foi a participação do chef executivo Elton Júnior, bastante sincero na sua avaliação dos pratos servidos (aliás, que vontade de experimentar o vinagrete de polvo, o macarrão com linguiça e feijão, o pirarucu e, minha mãe diria "eu não tinha dúvida!", o pudim de leite). E a edição do programa caprichou na tensão, no suspense, nas cenas de alívio cômico (a combinação Lee + panelas e utensílios costuma render). Fez o espectador acreditar que havia sido parelha a disputa entre o time azul, comandado pelo Pedro, e o vermelho, da Vanessa. Mas a decisão, como se viu, foi praticamente unânime: os azuis ganharam o voto do chef Elton, a grande maioria dos votos dos clientes e o voto dos jurados.
Aí veio o prato principal, a prova de eliminação. Uma prova que também foi interessante: assar o próprio pão para um sanduíche gourmet. Eu, como um devorador de sanduíches, não necessariamente gourmet, devo dizer que o cardápio, no geral, não me animou muito. Pães massudos, recheios econômicos demais, como os jurados apontaram. Mas o sanduíche vencedor, o do Leo, estava realmente bonito e apetitoso. O curioso dessa prova foi que ela pareceu uma continuação da prova de equipe: do mezanino, os vencedores ajudaram bastante os perdedores. Se, por um lado, falta carisma a grande parte do elenco, por outro, essa ausência de personalidades mais marcantes fortalece o senso de equipe, vital em qualquer cozinha e em qualquer trabalho.
Bom: enrolei, enrolei e ainda não fiz jus ao título deste comentário. Sequer citei a estrela da noite. Pedra cantada: Gleice ficou entre os piores. Sobrinha de padeiros _ o que não quer dizer nada, como ela própria, sensatamente, falou ("Se alguém da sua família é médico, não significa que você também saiba de medicina", foi o que mais ou menos disse) _, a garota levou aos jurados uma "bola de futebol com um franguinho dentro". Seu inimigo na hora final foi o Aluísio, que errou a mão na consistência do pão e no tempero de seu hambúrguer. O cabeludo não conteve o choro _ um choro que traduzia seu desencanto com si mesmo (ele deu uma caída legal ao longo dos episódios: sua criatividade acabou suplantada por equívocos e atrapalhações); um choro que também parecia dizer: "Puxa vida, é lógico que tô fora! Como é que vão tirar o xodó do programa?".
Mas a justiça foi feita. Fogaça, Paola e Jacquin decidiram encerrar a jornada da estudante paulista de 20 anos que comoveu jurados e audiência ao revelar um drama pessoal, o assassinato de seu irmão. Como era de se esperar, a despedida da menina de origem humilde foi pontuada por discursos emocionados e muitas lágrimas.
Eu sou humano e também fiquei arrepiado. Mas não me arrependo de ter torcido contra a Gleice – MasterChef, que eu saiba, ainda é uma competição culinária. Gleice cumpriu seu papel, digamos, social, semelhante àquele desempenhado pela cozinheira Iranete na temporada anterior. Lembram? O slogan criado pelo programa era algo na linha "Iranete quer deixar de ter patroa para virar chef". As duas personagens _ podemos chamar assim _ apelavam para nossa consciência filantrópica (só que a Iranete tinha muito mais repertório do que a Gleice, vale frisar). Agora que o MasterChef vai afunilando, os jurados precisam olhar menos para quem faz os pratos e mais para como faz e o que faz. É agora que a cozinha deve começar a pegar fogo – no bom sentido, claro.
P.S. 1: semana que vem tem repescagem. Como prova de que a seleção dos concorrentes desta temporada não foi tão feliz, há pouca gente por quem torcer. Gostaria que a Gabriella voltasse, para que tivesse sua chance de vingar a controversa eliminação na prova dos macarons.
P.S. 2: por falar em injustiça, sigo achando estranho o impedimento do Guilherme, que precisou abandonar o programa por causa de uma crise de labirintite. Ok, faz parte das regras, a Ana Paula Padrão o alertou. Mas não faz sentido, para mim.
P.S. 3: a Paula chorando é mais simpática do que a Paula fazendo piada.