Considerado um dos principais historiadores da atualidade, o britânico Simon Sebag Montefiore foi o último convidado do Fronteiras do Pensamento 2024. Na noite desta quarta-feira (30), no Teatro Unisinos, em Porto Alegre, ele refletiu sobre a história, os governos, a democracia e como as famílias ajudaram a formar e a contar o mundo, tema que é centro de seu último livro, O Mundo — Uma História Através das Famílias (Companhia das Letras, 2024).
Ele ainda discorreu a respeito do processo que transforma os fatos em história, ou seja, o processo historiográfico, que somente pode se dar olhando para trás.
— A vida só pode ser entendida de trás para frente, mas só pode ser vivida para frente — sentenciou, no início de sua fala, parafraseando o filósofo dinamarquês Kierkegaard.
Simon disse que a profissão de historiador pode ser perigosa em alguns países, e citou uma experiência própria. O primeiro livro que escreveu foi sobre Catherina A Grande, imperatriz que modernizou a Rússia e conquistou terras ucranianas, e seu relacionamento com Potemkin.
Para o trabalho, ele foi à Rússia e acessou arquivos históricos do governo. O próprio presidente Putin adorou o livro e o convidou a acessar arquivos inéditos sobre Stálin, que governou a União Soviética e perseguiu centenas de opositores e críticos ao regime.
Contudo, Putin não gostou do primeiro livro sobre Stálin, e, depois disso, Simon foi tratado com hostilidade pelos arquivistas quando precisou retornar para seguir a pesquisa. A obra foi separada em dois tomos, publicados no Brasil como O Jovem Stálin e Stálin, ambos pela Companhia das Letras.
— Depois disso, pouco antes da invasão da Ucrânia, Putin começou a fazer falas sobre Catharina A Grande e suas conquistas, e como a Rússia conquistou a Ucrânia e a Crimeia. Meus amigos perguntaram: "O que ele está querendo dizer?" Eu disse: "Significa que ele vai invadir a Ucrânia, que ele se acha dono da Ucrânia" — contou.
Sobre as famílias, Simon refletiu que, embora trata-se de uma forma de organização social antiquíssima, regida por vários dogmas, ainda persiste no século 21.
— As famílias são, literalmente, a forma de governo mais bem-sucedida. E ainda são agora no século 21. Quando pensamos em nós mesmos como tão seculares, tão modernos, tão democráticos, e as famílias podem representar uma religião, um império, um reino, elas representam a economia.