Em 2014, quando tinha 21 anos, Nadia Murad Basee Taha viu sua aldeia no Iraque ser invadida pelo Estado Islâmico, os homens, incluindo seis de seus irmãos, serem executados, e as mulheres mais velhas, incluindo sua mãe, serem mortas e jogadas em vala comum. Já as mais jovens, como ela, tornaram-se escravas sexuais dos terroristas.
Passados nove anos da maior tragédia de sua vida, Nadia sobe ao palco do Teatro Unisinos (Av. Nilo Peçanha, 1.600), em Porto Alegre, às 20h desta quarta-feira (21) como segunda conferencista do Fronteiras do Pensamento. Ainda é possível garantir lugar para o encontro inscrevendo-se pelo site, o que dá acesso também aos demais eventos presenciais da temporada e aos conteúdos online da plataforma. Hoje com 30 anos, a iraquiana vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2018 é uma voz contra os abusos sexuais de mulheres que se tornam reféns em conflitos armados.
Nadia vivia na aldeia Kocho, no Monte Sinjar, no norte do Iraque, próximo à fronteira com a Síria. É pertencente à minoria yazidi, um grupo étnico-religioso que, na visão do Estado Islâmico, é composto por "adoradores do diabo" que devem ser exterminados. Quando os terroristas invadiram sua comunidade, massacrando centenas de homens e mulheres, a jovem passou a ser usada como escrava sexual. Tentou fugir, mas foi capturada e sofreu estupro coletivo como castigo.
— Nós, escravas sexuais, não pertencíamos a eles como indivíduos. Sempre nos diziam que éramos propriedade do Estado Islâmico. Depois de nos sequestrar e estuprar, eles nos passavam para outra pessoa — contou ela em uma entrevista concedida à revista Marie Claire, em outubro de 2018.
Após três meses em cárcere, conseguiu escapar, com sucesso, para um campo de refugiados no Iraque. Posteriormente, conseguiu abrigo político na Alemanha. Passou a contar à comunidade internacional os abusos que havia sofrido, na esperança de que isso levasse seus agressores a responder pelos crimes na Justiça. Em 2017, lançou o livro Que Eu Seja a Última: Minha História de Cárcere e Luta Contra o Estado Islâmico (publicado no Brasil pela editora Novo Século), em que relata as atrocidades das quais foi vítima.
Em 2016, Nadia foi nomeada a primeira embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano. Dois anos depois, ganhou o Prêmio Nobel da Paz com o Dr. Denis Mukwege. Juntos, eles fundaram o Global Survivors Fund. Em 2019, Nadia foi nomeada Advogada dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
— Se decapitações, escravização sexual, estupro de crianças e o deslocamento de milhões de pessoas não fazem vocês tomar uma atitude, quando vocês tomarão alguma atitude? A vida não é somente para vocês e suas famílias. Nós também queremos a vida e merecemos vivê-las — defendeu Nadia durante seu discurso na ONU, em setembro de 2016, ao ser nomeada embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano.
A primeira convidada do Fronteiras do Pensamento neste ano foi a escritora espanhola Rosa Montero, que veio a Porto Alegre no dia 31 de maio (inscritos podem assistir à gravação da palestra na plataforma do ciclo de conferências). Os próximos convidados serão o neurocientista espanhol Rafael Yuste, tido como um dos cientistas mais influentes do mundo (5 de julho), o filósofo político americano Michael Sandel (9 de agosto), o teórico da mídia norte-americano Douglas Rushkoff (13 de setembro) e o arqueólogo britânico David Wengrow (4 de outubro).
O Fronteiras do Pensamento tem o patrocínio de Hospital Moinhos de Vento, Sulgás e CMPC, parceria cultural da Casa da Memória Unimed Federação/RS, parceria acadêmica da Unisinos, parceria educacional do Colégio Bertoni Med, parceria institucional da Prefeitura de Porto Alegre e do Instituto Unicred, serviço médico Unimed Porto Alegre, promoção do Grupo RBS e realização da Delos Bureau, uma empresa do Grupo DC Set especializada em entretenimento cultural.