Foi suando no forro quente de uma casa, enquanto instalava internet para um cliente da empresa para a qual trabalhava, que Cassiano Garcia (@eocassi) decidiu que não queria mais aquela vida. Desde pequeno, ele sonhava em ser famoso. Também desde muito cedo, o jovem mostrava que tinha uma veia cômica, uma vez que era da turma do fundão e adorava fazer graça na escola. Juntando a vontade e o talento, ele decidiu apostar todas as suas fichas no humor. E está dando certo.
O Cassi, como é mais conhecido nas redes sociais, vê o número de seguidores subindo a cada nova tirada ácida e sem muito filtro que posta da Tia do Chesterfield, ou um vídeo do quadro Dia de Grêmio, uma nova aventura do Nego Aranha, o super-herói da vila, ou, ainda, de cara limpa, fazendo esquetes. Atualmente, ele conta com mais de 400 mil seguidores entre Facebook, Instagram e TikTok — nesta última, ele acumula mais de 3 milhões de curtidas.
E não são apenas números. O talento dele vem sendo reconhecido pelos meios de comunicação, por onde ele vem fazendo participações divertidamente especiais. Recentemente, por exemplo, ele deu as caras na bancada do programa Bola nas Costas, da Atlântida. Este foi um dos pontos altos na carreira de Cassi, uma vez que um dos vídeos dele, dois anos atrás, foi comentado na atração, marcando o começo da ascensão do comediante.
Aos 26 anos, o humorista gaúcho teve a sua formação fortemente influenciada pelo YouTube e pelos jovens que começavam a despontar na plataforma em 2012, como Whindersson Nunes e Júlio Cocielo — a dupla inspirou tanto Cassiano que ele até fazia vídeos imitando ambos.
— Os meus primeiros vídeos foram imitando eles. Eram uns vídeos horríveis, porque era o começo, mas foi importante para eu aprender a editar um vídeo, fazer as coisas. Mas o negócio só começou a andar mais ou menos para mim quando eu comecei a me encontrar e botar a minha cara, a ser eu mesmo nos vídeos — explica o humorista.
Porém, a falta de frequência na publicação dos vídeos não ajudou com o algoritmo e, assim, Cassi não encontrou, na década passada, formas de viver de produção de conteúdo para a internet — restou ter uma vida que não tinha tanta graça, em seu ponto de vista: seguir com os estudos para se aperfeiçoar em alguma área que não tinha o seu coração e trabalhar em um call center.
— Mas, mesmo assim, nesse meio tempo, fui sempre fazendo um videozinho ali e outro aqui — salienta.
Quase
O agora humorista já tentou de tudo um pouco na vida, arriscando ser desde pagodeiro a dançarino de funk. Apesar de não emplacar no mundo musical, ele pôde usar os seus conhecimentos para os trabalhos na internet — e até hoje as influências estão lá.
Um dos exemplos foi em 2018, quando Cassiano viu um vídeo seu dançando uma música do grupo Os Hawaianos estourar no Facebook: bateu 4 milhões de visualizações. Quando viu os números, ele pensou na hora: "Agora já era. Fiquei famoso". Mas, segundo ele próprio, foi uma mera ilusão — apenas o vídeo recebeu os louros do sucesso, ele não.
Cassi voltou a conciliar emprego e estudo com alguns vídeos esporádicos. Logo em seguida, trocou de emprego e passou a instalar internet para uma empresa de telefonia, até que ocorreu o episódio no forro de uma casa, onde fazia "uns 70 graus". Com o suor escorrendo dentro daquele "forno", Cassiano decidiu que não dava mais:
— Veio na minha cabeça: "O que eu estou fazendo aqui? Não é isso o que eu quero para o resto da minha vida, meu Deus". Eu estava passando mal lá em cima daquele forro.
Foi então que os amigos Nicolas Fernandes e Brenda Fraga o aconselharam a produzir vídeos para o Instagram — e não focar mais apenas no Facebook. A sugestão da dupla foi certeira, tanto é que ambos viraram assessores de Cassiano. Foi com uma camiseta do Grêmio falsificada — "aquelas da Tailândia" — e imitando o ex-jogador do Tricolor Jean Pyerre que o humorista começou a ganhar espaço, abraçado, principalmente, pelos perfis gremistas.
Porém, quando o atleta começou a ir mal nos jogos, Cassi decidiu mudar o rumo de seu conteúdo. Assim, surgiu o quadro Dia de Grêmio, no qual ele toca tambor, simula que está soltando foguetes, toma cerveja debaixo do chuveiro, entre outras farras, como uma preparação para o jogo do Tricolor. Tal inciativa rendeu até trabalhos com o clube, motivo de muito orgulho para Cassi. Mas, ainda assim, ele queria ter mais conteúdo, sem ficar estagnado. Eis que surgiu a Tia do Chesterfield.
Mudança
Com a personagem, Cassiano diz que conseguiu atingir os 100 mil seguidores no Instagram rapidinho. A Tia, que está sempre de roupão, uma toalha enrolada na cabeça, óculos escuros e um cigarro Chestefield — apagado — nos dedos é, de acordo com o humorista, o reflexo de algum parente que todo mundo tem — no caso do próprio, ele se inspirou em uma tia, a Maia, já falecida. A personagem não tem muita paciência e está sempre debochando ou xingando alguém, com a sua voz rouca, como a de alguém que fuma há muitos anos.
— A Tia estourou sem pretensão nenhuma, porque ela surgiu em uma publi que eu estava fazendo para uma loja de bebidas e eu comecei a rir das coisas que eu falei, porque foi um negócio muito espontâneo. Então, não foi bem eu que escolheu o personagem, o personagem que me escolheu. Já estava comigo a vida toda — explica.
Com o passar do tempo, a Tia ganhou a companhia da Nega Laura, que é vivida por um vizinho de Cassiano, o Kayky Alexsander. Juntas, as duas personagens se metem em confusões e "frequentam" casas de religiões de matriz africana (por meio de montagens), fazendo humor em cima de situações consideradas estranhas em uma curimba — como festas com ostentação, instrumentos musicais que não são convencionais, festas apenas com pessoas brancas e, até mesmo, entidades usando revólver, em uma distorção do que é valorizado nestes espaços.
— O pessoal do axé do Rio Grande do Sul abraçou a gente e isso ajudou a crescer muito. Era uma coisa que ninguém fazia comédia. Geralmente, as pessoas até escondem que são de religião. A gente foi destravando isso e o pessoal começou a mandar vídeos para a gente se inserir naquela história. Deu bom — comemora.
Futuro
Cassiano chegou a tentar algumas inserções no mundo do stand-up — uns cinco ou seis shows, de 20 minutos, recorda —, mas ainda está descobrindo este mundo novo — apesar de, nas redes sociais, já ter feito algumas apresentações, em seu quarto, com uma cortina vermelha de fundo, simulando um palco. Agora, ele está escrevendo um show para levar a Tia do Chesterfield e a Nega Laura para o teatro, buscando conquistar ainda mais espaço.
— Eu nem tenho noção do que está acontecendo comigo, na realidade. Tipo, a gente grava aqui em casa, não temos noção da proporção que a gente tem. Onde eu moro, é tudo normal, todo mundo conhece a gente, mas a gente vê quando saímos para fora e as pessoas pedem para tirar foto. É aí que o cara entende: "Nossa, que loucura, as pessoas gostam de mim".
De origem humilde, criado na Vila Esmeralda, em Viamão, filho de Isabela Cristina, faxineira de uma creche, e Luciano Garcia, vigilante, Cassiano, para o futuro, pretende retribuir todo o apoio que recebeu. Entre os seus principais objetivos, que vai traçando enquanto vê o seu nome crescendo, está dar uma casa própria para a sua mãe e colocar a sua comunidade "no mapa".
— Se eu ficar maior, quero poder dar para as crianças daqui o que eu não tive, como uma oficina de música, escolinha de futebol, dar dois turnos para a criançada se entreter. Quero trazer a escola de samba de volta, também. Formar mais cidadãos, dar oportunidades para as pessoas que são do lugar onde eu moro — idealiza.