Embora simbolizem um novo começo, a atualização dos protocolos contra covid-19 no Rio Grande do Sul foi recebida com ressalvas por empresários do setor de casas noturnas. Para quem trabalha com cinema, o decreto é encarado com preocupação. O anúncio das novas flexibilizações para o setor de eventos foi realizado pelo governador Eduardo Leite na noite de quinta-feira (30).
A partir desta sexta-feira (1º), as casas noturnas estão autorizadas a funcionarem com a pista de dança. Em locais com público de 401 até 800 pessoas, será necessária também a apresentação de teste negativo de antígeno realizado no prazo de até 72 horas antes do evento.
Para o público voltar à pista, será obrigatório comprovar a vacinação contra a covid-19. Pode ser pelo app Conecte SUS, caderneta ou cartão de vacinação recebido no dia, de acordo com calendário de vacinação estadual para público e trabalhadores.
Na pista de dança, será obrigatório o uso de máscaras e distanciamento interpessoal mínimo de um metro. Está vedada a permanência de clientes em pé durante o consumo de alimentos ou bebidas.
Um dos primeiros locais a promoverem evento com pista de dança liberada será o Bar Opinião, com a festa Tropa, nesta sexta, sem permissão de cobertura da imprensa. Para Cláudio Favero, sócio-diretor da Opinião Produtora e um dos fundadores do bar, a flexibilização é um primeiro passo, mas está muito aquém das expectativas do estabelecimento.
— Não enxergamos uma isonomia na história. Tu pegas uma casa que tem a capacidade de 800 pessoas e limita para 400. É diferente de um Pepsi On Stage (espaço administrado pela produtora), com 7,2 mil pessoas, um Opinião, com 1,7 mil, e tu botar as mesmas 400 como limite sem teste — pondera o empresário.
Segundo Favero, a capacidade de público deveria ser atribuída pelo PPCI da casa. Ele ressalta que o Opinião não deve realizar eventos para mais de 400 pessoas neste momento, pois argumenta que o teste de antígeno é restritivo.
— Não consigo vislumbrar uma pessoa ir a um show ou festa tendo se testado 72 duas horas antes. Depois do teste, tu podes se contaminar, ainda estando em um ambiente que as pessoas acham que você estará seguro. O que garante é o passaporte vacinal, isso sim — diz.
Para Favero, o passaporte vacinal deveria ser obrigatório desde o início. Conforme o empresário, o sistema seria mais simples de controlar através Conecte Sus, podendo ser incluso, por exemplo, na plataforma da compra de ingresso.
O empresário Marcos Paulo Magalhães, sócio-proprietário da Provocateur e de outros estabelecimentos pelo Estado, vê o passaporte vacinal como um caminho para a retomada.
— Se ajudará as pessoas para conscientizar na vacinação, é positivo também. Da nossa parte, vamos cumprir sem problema nenhum — afirma.
Provocateur tem uma reabertura prevista para 15 de outubro, exigindo o comprovante de vacinação. Para o empresário, o decreto anunciado na quinta foi a primeira luz para o setor voltar.
Magalhães participa há meses das conversas com o governo e a Vigilância Sanitária para a liberação das casas noturnas. Chegou a produzir um evento-teste na Casa NTX, que inclusive serviu de espelho para esse novo protocolo. Ele vê a liberação de forma positiva, embora classifique-a como conservadora.
— Que seja um começo, um caminho para mais liberações conforme formos avançando na vacinação. Apesar de deixar o setor trabalhar, ainda está muito longe do que se precisa — ressalta. — Já estamos vendo a volta da vida normal em diversos lugares. Os próprios restaurantes em Porto Alegre já têm 100% da capacidade permitida. Acho que cabe aos proprietários fiscalizar e que peçam às pessoas que cumpram as regras.
Por outro lado, a empresária Thais Gomes opta pela cautela. Entre outros empreendimentos, ela é sócia-proprietária da Cucko. Criada em 2013, a casa noturna da Cidade Baixa se estabeleceu promovendo festas para público jovem (18 a 25 anos) e focando na diversidade. Em agosto, o local reabriu como pub. Ao lado, em seu estacionamento, há o Brita, bar a céu aberto.
Assim que saiu o anúncio do decreto, ela consultou os produtores que realizam festas no Cucko, e eles se mostraram divididos. Ela optou por não ativar a pista de dança da casa.
— Como empresária, fico feliz. É uma luz no fim do túnel. Ao mesmo tempo, fico preocupada porque 400 pessoas sem máscara são 400 pessoas. Tenho um pouco medo — admite.
Seu pai, Antônio Carlos Souza Gomes, está entubado com covid-19. Ele ajudou a abrir o Cucko e sempre apoiou o projeto.
— Não vamos aderir, por enquanto, até pela questão do meu pai. É meio estranho liberar (a pista de dança) com ele internado. Sei que ele não se importaria, mas não me sinto confortável para abrir e colocar mais pessoas em risco, apesar do passaporte vacinal. Vamos aguardar e, se puder, abriremos devagarinho — explica.
Preocupação para os cinemas
O decreto também trouxe atualizações nos protocolos de cinema. As salas poderão ter até 80% das cadeiras ocupadas. Agora, também será necessária a apresentação de comprovante de vacinação oficial (app Conecte SUS, caderneta ou cartão de vacinação recebido no dia) de acordo com calendário de vacinação estadual para público e trabalhadores. Contudo, o passaporte vacinal não está sendo visto com bons olhos pelos exibidores.
Ricardo Difini Leite, sócio-diretor do GNC, explica que a rede aderiu ao sistema nesta tarde. Ele recebeu a notícia da exigência com surpresa e preocupação.
— É um setor que está combalido e que recebe mais uma exigência que, com certeza, vai criar uma burocracia que vai atrapalhar a frequência de público. A média das sessões é muito menor que lotações de ônibus. Não entendi porque outros setores, como igrejas, bares e academia, não entraram nessa exigência. Me pareceu uma atitude inócua, que não vai ter um efeito prático, que vai prejudicar o setor — reclama Difini, também presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec).
Outro cinema que passou a solicitar o comprovante de vacinação foi Cineflix do Shopping Total. O gerente do cinema da rede em Porto Alegre, Alexandre Oliveira, também crê que o passaporte seja prejudicial para o setor, afastando ainda mais os clientes.
Oliveira conta que o cinema não pretende mudar a capacidade de público, seguindo nos 50%. Ele explica que não vê necessidade, por enquanto, de ir além disso pela falta de demanda.
— Tem dias que abro a sessão para uma pessoa só. Tem dias que cancelamos a sessão porque não vem ninguém. Está complicada a situação. Então, não vejo o porquê de aumentar.
Cronograma para o esquema vacinal:
- 40 anos ou mais: esquema vacinal completo a partir de 1º de outubro.
- 30 a 39 anos: primeira dose ou dose única de 1º a 31 de outubro e esquema vacinal completo a partir de 1º de novembro.
- 18 a 29 anos: primeira dose ou dose única de 1º outubro a 30 novembro e esquema vacinal completo a partir de 1º de dezembro.