Meia luz, som ambiente, mesas distantes e pista fechada. O cenário do Bar Ocidente mudou drasticamente se comparado ao início do ano. Fechado por sete meses, o estabelecimento reabriu nesta quinta-feira (8), em um movimento ainda incerto em meio à pandemia. Embora batizado como um projeto "experimental" pelo proprietário, Fiapo Barth, assim que caiu a noite, diversos clientes fiéis chegaram para desanuviar do distanciamento social e, até mesmo, prestigiar o local.
Em uma das mesas estavam a empresária Letícia Costa, 50 anos, a dentista Denise Golder, 47, e a consultora imobiliária Maria Rita Bevilacqua, 51. Elas contaram que fazem parte de um grupo de amigos maior, que costumava ir o local todos os sábados. Por conta da restrição do número de pessoas, porém, a reunião acabou sendo apenas entre três.
— Para mim, é um apoio ao Fiapo, que é dono do Ocidente. A gente ficou numa expectativa muito grande, torcendo para que desse certo, que ele conseguisse ultrapassar essa crise toda, e para mim o que me motivou realmente foi: ele tá reabrindo, vamos prestigiar — disse Denise, que relatou frequentar o bar há cerca de três anos.
Além disso, a reabertura se tornou uma oportunidade para quem sentia falta das conversas presenciais. O "olho no olho", disse Letícia, foi algo que a motivou a ir ao local e encontrar suas amigas. Maria Rita, por outro lado, fez um desabafo, citando os diversos problemas que enfrentam durante chamadas de vídeo, como a conexão caindo:
— A gente não aguenta mais a realidade virtual.
Prestes a completar quatro décadas de existência, em 3 dezembro, o Ocidente planeja comemorar publicamente a data só em 2021, em um aniversário de “40+1” anos. Não descarta, porém, uma reunião menor. Marco da vida boêmia e da produção cultural em Porto Alegre, a necessidade, neste momento, é se readaptar.
— Nós vamos aprender tudo de novo. O Ocidente se baseava muito nas noites de festa, sendo que as outras noites eram mais uma contribuição cultural do que um negócio. Então eu não me preocupava com a rentabilidade dessas noites. Agora estamos em outra realidade. Agora sou só um bar. Cada noite tem que se resolver dentro de si mesma — afirmou Fiapo.
Para reabrir, Fiapo teve de adotar diversos protocolos para evitar a disseminação do coronavírus. Seu plano é, assim que houver vacina disponível, imunizar toda a equipe. Enquanto isso, dedica-se a outras medidas, como a obrigatoriedade de máscaras para circular no local, copos descartáveis, proibição para beber em pé e capacidade máxima reduzida a cerca de 96 pessoas — sendo que o Ocidente comporta 700.
— Dá pra ver que o distanciamento das mesas está suficiente e os seguranças estão girando, então acredito que não vai dar aglomeração — afirmou a empresária Carolina Disegma, 30, aprovando os protocolos tomados pelo proprietário.
De acordo com Fiapo, a ideia era colocar o bar em funcionamento no momento em que ele percebesse que o vaivém da legislação em meio à pandemia se estabilizasse um pouco, reduzindo o risco de ter de fechar as portas logo em seguida. Agora, frequentadores do local torcem junto ao dono para que seja possível manter desta forma, pois pretendem voltar.
— Acredito que foi um passo importante porque a gente vai ter que reaprender a viver algumas coisas, então não vamos saber de imediato. Tem que começar e ir se adaptando aos poucos — argumentou o analista de sistemas Maurício Mendes, 39.
— Que fique aberto, e que o Fiapo consiga comemorar esses 40 anos — finalizou a empresária Diovana Gheller, 44.
Por enquanto, só é possível pedir bebidas no local à noite, mas, na próxima semana, já deve haver pratos disponíveis para os frequentadores. O horário de funcionamento do bar também foi alterado: agora, só abre das quintas-feiras aos sábados entre 18h e 22h, podendo permanecer no local até as 23h. Durante o dia, o estabelecimento funciona como restaurante.