A iniciativa de um casal da zona sul de Porto Alegre levou crianças indígenas, da comunidade guarani da tekoá Pindó Poty, no Lami, para o espetáculo drive-in do Circo Belucci no feriado desta segunda-feira (12). Por meio de uma vaquinha, a pedagoga Angela Ribas e o turismólogo Osni Lima conseguiram arrecadar R$ 1.115 — quase 160% da meta original, fixada em R$700. De dentro de uma van, 20 pessoas assistiram ao espetáculo às 15h, na parada 13 da Lomba do Pinheiro — dentre elas 10 crianças entre um e oito anos e duas gestantes da aldeia.
— Eles adoraram. No domingo passado fomos na aldeia para avisar que iríamos lá e estavam todos esperando quando a van encostou. Foram correndo pegar a máscara. Ficaram muito felizes, mesmo. Durante o espetáculo, pulavam, aplaudiam, tiravam fotos — afirmou.
A ideia surgiu quando o casal decidiu sair, em 18 de abril, para distribuir marmitas. Sem nunca ter pisado na aldeia antes, Angela decidiu acatar à sugestão de Osni e parar ali para entregar as doações.
— A situação das crianças começou a nos tocar porque temos uma filha de quatro anos e meio. Então a gente começou a levar bolacha, bolo para eles — disse. — Como a gente sabia que o circo era em formato drive-in e nossa filha queria muito ir também, a gente pensou: "porque não levá-los também?" — disse a pedagoga.
Para que a ação pudesse ser realizada, foi necessário conversar com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), uma vez que eventos do tipo estão restritos por conta da pandemia do coronavírus. Os protocolos de segurança foram considerados adequados, uma vez que as crianças não desceriam da van, e a realização foi liberada.
A oportunidade, porém, não deixou felizes apenas as crianças. Conhecido como Palhaço Marmita, Marcelo Fagundes contou à reportagem que a experiência foi gratificante. Acostumado a envolver-se em ações beneficentes, ele ficou sem trabalhar por muitos meses por conta da pandemia. No entanto, explicou, foi a alegria dos pequenos que o deixou feliz.
— De março para cá eu não desejo para ninguém o que eu passei. Passei meses sem ganhar um mísero real — disse. — Mas, hoje, dinheiro é um papel para mim. Esses seis meses que eu estou remando foi um aprendizado. Eu já fui rico e pobre 30 vezes na minha vida. Na pandemia eu aprendi que dinheiro é um papel que você tem que ter para viver, mas não pode ser escravo dele. O que vale à pena é o que eu vi à tarde. O sorriso de uma criança é muito gratificante — afirmou.
Originalmente, a ideia era fazer a vaquinha para conseguir dinheiro para alugar uma van e comprar ingressos e ingredientes para o lanche, além de contar com doações de brinquedos usados em bom estado para repassar às crianças. Com o excedente, porém, foi possível inclusive comprar novos brinquedos para elas, doados já quando estavam de volta na aldeia.
— A gente foi lá domingo passado e pegou o nome de todos e a idade. Quando abrimos o porta-malas e chamamos eles, eles ficavam surpresos, não esperavam um presente empacotado com o nome deles. Foi bem legal. Aí saíram correndo, abrindo eles (os pacotes) — contou.
Depois do show, resta a lembrança deste Dia das Crianças, e o laço criado entre Angela, Osni e a aldeia.
— Consegui contato com um professor da PUCRS que estuda os povos indígenas e ele falou "ó, agora vocês tem uma família" (...) O programa que a gente fez hoje, foi o programa que tínhamos planejado para a nossa filha. A gente só ampliou para mais crianças, e queríamos ter levado mais e mais, pois todo mundo merece. Por que a nossa merece e o outro não? — questionou Angela, finalizando.