Mesmo em momentos de pandemia de coronavírus, como os que estamos vivendo, é possível tirar boas lições e criar projetos que podem se tornar concretos e grandes novidades, depois que a pandemia passar. Foi pensando desta maneira que Edson Dutra e Gildinho, líderes, respectivamente, de Os Serranos e Os Monarcas, dois dos grupos mais representativos da cultura gaúcha em todos os tempos, embarcaram no projeto O Grande Baile do Rio Grande, ideia inicial de Edson, que terá uma live inédita, na noite deste sábado (25), transmitida pelas redes sociais dos dois grupos, com cerca de quatro horas de duração.
Além de assistir a uma apresentação rara, já que, em mais de 40 anos de história dos dois conjuntos, eles estiveram juntos poucas vezes, os fãs poderão conferir o começo de um projeto que pode virar uma pequena turnê conjunta de Serranos e Monarcas, se as agendas forem conciliadas, claro, quando os shows presenciais forem autorizados novamente. Neste fim de semana, Retratos da Fama esmiuça os detalhes desta apresentação histórica, que acontecerá em Santa Catarina, adianta alguns detalhes que os fãs verão e ainda passa em revista um pouco da história de sucesso dos dois grupos. Sábado de luxo para a gauchada!
Encontro histórico
Neste sábado, a partir das 21h, fãs da música nativista poderão conferir um momento histórico da música gaúcha, na live batizada de O Grande Baile do Rio Grande. Transmitida pelos canais do YouTube e pelas páginas do Facebook dos grupos Os Serranos e Os Monarcas, direto do Centro de Eventos Sítio Novo, em Joinville, a apresentação trará dois dos mais longevos grupos da história da música gaúcha, ainda em atividade: Os Monarcas, com 48 anos de estrada e Os Serranos, com 52 anos.
Respeitando todos os protocolos de distanciamento social, por conta da pandemia de coronavírus, os grupos farão um baile de cerca de quatro horas, com início às 21h e término já na madrugada de domingo, por volta da 1h, lembrando uma velha tradição de bailes gaúchos, que duravam horas a fio - no começo de suas trajetórias, os grupos faziam bailes de até oito horas, praticamente, sem intervalo.
Noite de sucessos
Durante o espetáculo, cada grupo, inicialmente, se apresentará por uma hora. Depois das primeiras duas horas de música, o público verá uma alternância de Serranos e Monarcas, com cada grupo tocando meia hora.
- Considerando que o salão é muito grande, contaremos com dois equipamentos, independentes e similares. Um grupo estará de um lado e o outro, do lado oposto - explica Edson.
Como o local tem somente um palco, e por conta das protocolos de distanciamento social, o palco não será usado. De acordo com Edson, serão montados dois equipamentos na pista do clube, que é ampla. Para os fãs que aguardam por algumas canções dos Monarcas e dos Serranos de maneira conjunta, Edson explica que a possibilidade é remota.
- Atuaremos independentemente, mesmo porque é quase impossível atuar conjuntamente. Por mais experientes que sejamos, daria um desacerto grande (risos). Ademais, são repertórios diferentes - explica Edson.
Expectativa
Como os dois grupos estão há mais de 120 dias sem fazer um show presencial, a expectativa das turmas lideradas por Edson Dutra e Gildinho é grande. Entre as canções mais aguardadas dos Monarcas, que há mais 40 anos toca em boa parte do país, já que o grupo de Erechim, além de fazer shows na Região Sul, é figura constante em bailes nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, estão faixas como A Saudade Pega, Todo Mundo Na Vanera, Para Os Meus Braços e Vaneira Grossa.
- Será "a" live do ano na música gaúcha. Os Serranos são referência no que fazem, e os Monarcas referência em fandango. Quem estiver em casa, assistirá a um baile com muita música boa. Estamos preparando um repertório com as músicas mais fortes dos nossos 48 anos - adianta Gildinho.
Já Edson, que define o local como um dos mais lindos palcos da Região Sul, lembra que Os Serranos fez a inauguração do Centro de Eventos há alguns anos, e acredita que a apresentação proporcionará muitas emoções para os fãs. No repertório, devem estar sucessos como Nos Varzedos da Fronteira, De Chão Batido, Tordilho Negro, Lembranças e Mercedita.
- Imagino que, com essa apresentação, a gente proporcione muitas emoções para as pessoas que gostariam de estar ali e conferir a atuação dos dois grupos que, juntos, somam 100 anos de música gaúcha. É uma iniciativa que antevejo vitoriosa - afirma Edson.
Parceria para os palcos pós-pandemia?
"Provocados" pela reportagem, os dois líderes dos grupos não descartam que a parceria siga para os palcos, quando os shows presenciais voltem a acontecer. Na história de décadas dos Serranos e Monarcas, os integrantes já se apresentaram juntos apenas "quatro ou cinco vezes", como afirma Edson Dutra.
- É uma parceria que se desenha pós-pandemia. Já atuamos juntos algumas vezes, ao longo desse tempo todo, mas faz muito tempo que não atuamos conjuntamente. Pretendemos, dentro do que for possível, num futuro, ter como uma opção de show nesse estilo, mantendo esse nome: O Grande Baile do Rio Grande, que foi uma criação minha - acredita Edson.
Gildinho, que afirma nunca ter passado por uma dificuldade tão grande como a atual, já que o grupo vive somente de música, afirma que já recebeu sondagens de contratantes interessados em promover shows dos grupos, no futuro.
- Existem questões de agenda, mas a gente torce que seja viável. Estamos ansiosos para que tudo volte ao normal. Quando voltar, queremos "tocar baile" todos os dias - afirma Gildinho.
Um pouco da história de cada grupo
Os Serranos:
Em 1968, os jovens Edson Dutra (direita na foto), aos 16 anos, e o amigo Frutuoso (esquerda na foto), 18, sem ter ideia do que estaria por vir, encerravam, em Bom Jesus, na serra gaúcha, o primeiro baile de Os Serranos. Na época, o "grupo" ainda era somente uma dupla de acordeonistas e tinha a companhia de uma espécie de banda de apoio, formada por Francisco de Assis Dutra Becker (bateria), primo de Edson, o Chicão e José Gentil de Jesus (pandeiro). Dali em diante, o grupo ganhou corpo e se tornou um dos expoentes da música gaúcha, vendendo mais de dois milhões de discos, conseguindo duas indicações ao Grammy Latino: em 2009, na categoria de melhor álbum de música de Raízes Brasileiras - com o disco Os Serranos - 40 anos - Sempre Gaúchos! e em 2013, na mesma categoria, pelo disco Os Serranos Interpretam Sucessos Gaúchos Vol. 3.
Outros momentos importantes do grupo foram duas turnês que o grupo fez pelos Estados Unidos, em 2003 e 2005, passando por cidades como Miami e Boston e a participação na Califórnia da Canção Nativa de 1980, quando faturou a Calhandra de Ouro, prêmio máximo do evento, por conta da música Veterano.
Os Monarcas:
A história de sucesso dos Monarcas é tão marcantes para a cultura gaúcha que daria um filme, sempre disseram seus fãs. Pois, em 2013, o sonho se tornou realidade. Naquele ano, o grupo, fundado em 1972, por Gildinho e Chiquito, seu irmão caçula, chegava nas telas de cinema, com a obra Os Monarcas - A Lenda, que teve uma seção especial de apresentação, no Palco Central do Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre. Entre os grandes momentos do grupo, que já faturou 10 discos de ouro, fez turnês por todo o país e na América do Sul, estão o Prêmio Açorianos de Música, vencido pelos gaudérios em 2002, além de 45 álbuns lançados e mais de 500 mil cópias vendidas.