O One World: Together at Home foi um festival bacana de se ver. Uma oportunidade de ver um monte de gente querida em sequência, mas que teve alguns problemas óbvios. O primeiro foi a clara falta de transmissões realmente ao vivo, apesar de esta ser um dos eixos da ideia e ter sido anunciado assim. Talvez a palavra "live" (ao vivo) tenha sido usada com a definição de apresentação de artistas na internet, mas parece que houve engodo aí.
A outra foi o tamanho extremamente diminuto dos shows: resumiam-se a uma única música e pronto — pelo menos da segunda e mais nobre parte do festival, entre 21h e 23h do sábado (18), pelo horário de Brasília. Também houve certa monotonia pela falta de criatividade instrumental: em sua maioria, eram cantores tocando teclados e só.
Os Rolling Stones, que marcaram a metade do evento, às 22h, foram uma das exceções e dá para cravar que fizeram o melhor microshow da noite. Cada um em sua casa, com a tela da TV dividida em quatro, a banda executou You Can't Always Get What You Want, de 1968. Mick Jagger começou sozinho ao violão. Em seguida, entraram os guitarristas Keith Richards e, depois, Ron Wood. Por último, o baterista Charlie Watts. Não houve baixista. Mas ficou um estranhamento: apesar de haver um baterista, não havia bateria ao redor de Watts. Ele parecia tocar as baquetas nos joelhos e em caixotes à sua frente. Só que, olha o mistério, dava para ouvir uma bateria completa, com pratos e bumbos. Será que Charlie Watts mandou um playback na cara dura? Sim, Charlie Watts mandou um playback na cara dura.
As superestrelas Paul McCartney, Elton John e Stevie Wonder também escolheram clássicos de suas carreiras: McCartney foi de Lady Madonna, hit dos Beatles de 1968, em uma versão mais lenta e tocada em órgão. Estava vestido de camisa branca e colete preto, figurino com o qual costuma se apresentar nos shows, e, como outros, homenageou profissionais de saúde.
Sozinho e ao piano, Stevie Wonder prestou homengem ao amigo Bill Whiters, que morreu recentemente, com Lean on Me, e mandou Love's in Need of Love Today, de seu disco clássico Songs in th Key of Life, de 1976. E Elton John, apareceu ao ar livre, talvez no jardim de sua casa, com a ótima I'm Still Standing (eu ainda estou de pé), canção de 1983 que tem um dos clipes mais ridículos do artista. De óculos com lente cor de rosa, fez uma boa interpretação.
Antes de todos, para abrir essa parte nobre, Lady Gaga, a força motriz por trás de todo o evento, tocou e cantou Smile, de Charles Chaplin, que aparece (só que em versão instrumental) no final do filme Tempos Modernos (1936).
Essa foi uma estratégia dos artistas mais novos, a de recorrer a músicas mais facilmente identificáveis. Billie Eilish, última vencedora do Grammy, foi de Sunny, clássico do rhythm and blues de 1963, por Bobby Hebb. A cantora Lizzo veio com A Change Is Gonna Come, de 1964, do grande Sam Cooke. Essa também foi sucesso na voz de Aretha Franklin em 1967, a grande ídolo de Lizzo
John Legend e Sam Smith escolheram Stand By Me, de Ben E. King, de 1961. Já o casal de namorados Shawn Mendes e Camila Cabello fez um dueto em What a Wonderful World, standard inesquecível na voz de Louis Armstrong em 1967.
De camisa e bonés pretos, Eddie Vedder não decepcionou quem curte seu estilo deprê: tocou e cantou Cross River, uma homenagem ao cantor e seu amigo Chris Cornell, morto em 2017. O instrumento escolhido foi um órgão com som bem sombrio. De gorro e também ao piano, Chris Martin atacou com Yellow, a música que lançou o Coldplay em 2000 — vídeo que já havia corrido pelsa redes sociais no começo dessa onde de lives musicais.
Outros artistas também tiveram sua vez. E muitas reportagens sobre como voluntários estão atuando para ajudar no combate ao novo coronavírus. Atores e autoridades sanitárias, como o secretário-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também aparecem para agradecer.
Transmitido simultaneamente pelas três grandes emissoras dos EUA, cada uma delas escalou um apresentador para alternar chamar os artistas: Jimmy Fallon, da NBC, Jimmy Kimmel, da ABC, e Stephen Colbert, da CBS. Aparentemente, apenas esses três estavam realmente ao vivo no One World: Together at Home.