A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) informou à reportagem que o Palácio do Planalto não comentará o vídeo em que o Secretário de Cultura, Roberto Alvim, parafraseia um discurso de Joseph Goebbels, que foi ministro da Propaganda da Alemanha nazista, sobre arte.
— O próprio (Alvim) já se manifestou oficialmente. O Planalto não comentará — disse a assessoria de imprensa da Presidência, por escrito, em resposta a questionamento sobre o caso.
A reportagem questionou o posicionamento do governo sobre o vídeo, se o presidente Jair Bolsonaro teve conhecimento de seu conteúdo antes da divulgação, qual a posição dele sobre a gravação e se pedirá explicações ao secretário de Cultura.
A publicação de Alvim nas redes sociais é alvo de uma série de críticas por exaltar o nazismo, regime responsável por crimes contra a humanidade e que resultou no assassinato de milhares de judeus.
Depois de uma série de ataques à imprensa na quinta-feira (16), Bolsonaro não falou com jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta sexta (17), como costuma fazer. Ao sair de casa para o Palácio do Planalto, cumprimentou apoiadores e disse apenas "obrigado, imprensa".
Bolsonaro se elegeu em 2018 com apoio da comunidade judaica e com discurso pró-Israel, do qual se aproximou ao longo de seu primeiro ano de governo. Entre as reações contrárias a Alvim está a do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que pediu a saída do secretário.
A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada
ROBERTO ALVIM
Secretário da Cultura do governo Bolsonaro
O vídeo que gerou toda a polêmica foi publicado na noite de quinta-feira (16) pela Secretaria Especial da Cultura do governo Bolsonaro para divulgar o Prêmio Nacional das Artes. Nele, Alvim repete frases de um discurso de Goebbels ao som da ópera Lohengrin, de Richard Wagner, obra que Hitler afirmou ter sido decisiva em sua vida.
— A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada — diz o secretário.
A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada
JOSEPH GOEBBELS
Ministro de Cultura e Comunicação de Hitler
De acordo com o livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich, a fala do nazista foi a seguinte:
— A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.
Alvim, no entanto, afirmou que as similaridades entre as falas foram uma "coincidência retórica" e que os ataques ao seu discurso são parte de uma "falácia da esquerda". Sobre a fala do nazista, no entanto, ele afirmou que "a frase é perfeita".