Nesta quinta-feira (7), a Secretaria Especial de Cultura foi transferida do Ministério da Cidadania para o Turismo e foi anunciado que a subpasta será comandada por Roberto Alvim. As duas decisões foram publicadas no Diário Oficial da União por Jair Bolsonaro e surpreenderam o meio cultural. Em entrevista a GaúchaZH, a secretária estadual da Cultura, Beatriz Araújo disse não conseguir avaliar a intenção do governo federal com a anexação do setor ao Turismo.
Assim como ela, Henrique Pires, gaúcho que foi secretário especial da Cultura até agosto, caracteriza a mudança ministerial como "surpreendente".
Veja abaixo a entrevista com Beatriz Araújo sobre as alterações na subpasta:
Como a senhora recebeu a indicação do dramaturgo Roberto Alvim para a Secretaria Especial de Cultura?
Tentaremos manter contato visando fortalecer e ampliar as políticas públicas e relações com o novo secretário.
E qual sua avaliação sobre a transferência da secretaria do Ministério da Cidadania para o Ministério do Turismo?
Nós temos um fórum nacional do secretários da Cultura e, desde o primeiro momento, nossa avaliação era de que a extinção do Ministério da Cultura não deveria ter ocorrido. Seja na Cidadania, no Turismo, no Esporte ou na Saúde, para qualquer lugar que vá a Cultura, nós estamos muito preocupados. Considerando a situação atual, não temos Ministério da Cultura, passa da Cidadania para o Turismo, o mínimo que se espera é que os dirigentes máximos dessa pasta sejam pessoas que tenham capacidade e qualificação para atuarem na área. Pessoas que tenham histórico importante e que possam corresponder à expectativa do cidadão brasileiro. A preocupação agora é que tenhamos no mínimo pessoas preparadas para atuar à frente de instituições tão relevantes, tão caras para nós trabalhadores da cultura.
A senhora consegue perceber alguma vantagem para a secretaria estar atrelada ao Ministério do Turismo?
Eu me sinto incapaz de avaliar esses espaços que são dados pelo governo federal. Para mim tem sido bastante difícil entender o funcionamento do governo federal. Eu não tenho condições de te responder essa pergunta. Infelizmente, nós ficamos atônitos. Tenho feito contatos diretos com os demais secretários. Nós tentamos hoje fazer um documento que seria divulgado em todos os Estados brasileiros, mas as nossas posições são bem claras. Infelizmente, as surpresas vão acontecendo a cada dia. É difícil avaliar qual a intenção do governo federal quando faz essa anexação da Cultura ao Turismo.
Por que seria importante a Cultura ter o seu próprio ministério?
A cultura é um ativo dos municípios, dos Estados, do país, e que move a economia.
A cultura transforma, preserva a identidade. No momento em que a gente cuida da cultura, as pessoas se apropriam de suas vidas, de sua história. Nós vemos a cultura como uma possibilidade de transformação social e econômica tanto dos municípios como do Estado. A cultura deve ter, sim, a sua pasta exclusiva e ser protagonista, pois cria muito mais empregos do que muitas pastas. Percebemos muitos incentivos que os governos oferecem para outras áreas, mas que não dão o retorno tão positivo como a economia criativa tem dado.