No Rio Grande do Sul, o presidente do funk, como MC Jean Paul é conhecido, arrasta fãs por onde passa. Já são mais de 3 mil shows em 17 anos de carreira. Até aí, nada tão incomum. Afinal, nosso Estado é pródigo em revelar talentos da música. Porém, nem tão comum assim é ver um artista local com tantas fãs tatuadas em sua homenagem.
Jean Paul não tem só seguidoras apaixonadas. Ele coleciona mais de 200 fãs que tatuaram o nome ou o rosto do ídolo em alguma parte do seu corpo. Na casa do próprio funkeiro, reunimos nove destas fãs, incluindo a primeira que eternizou o nome do MC, em 2002, e a de número de 200, que registrou na pele seu carinho pelo cantor em outubro. Mas, afinal, o que Jean Paul tem? E todo esse amor, de onde vem?
Mais do que o Rei...
Desde sempre, Jean Paul Tyba, 39 anos, tem como sua marca registrada o romantismo e assim foi chamando a atenção de fãs. No começo da carreira, no princípio dos anos 2000, era atração frequente nas festas de aniversário da Rádio Farroupilha (680 AM) e do Diário Gaúcho, que reuniam multidões na Capital.
Em 2005, estourou o seu primeiro hit, Meu Grande Amor. E até hoje, nos shows, distribui flores quando canta essa música.
— Mas não é igual ao Roberto Carlos (risos). Eu dou flor na mão de cada uma, é o ápice do show – faz questão de explicar o ídolo gaúcho.
Com a canção Meu Grande Amor, o músico inaugurou uma era no Rio Grande do Sul: a do funk com letras românticas, sem apelação, que foram conquistando milhares de fãs, atraídos por seu estilo nas apresentações.
Compromisso na vida de honrar o nome
Em 2002, quando a carreira engatinhava, Jean Paul foi surpreendido por Rosane Oliveira, hoje com 47 anos, presidente do fã-clube Super Poderosa. À época, ela tatuou no braço esquerdo o nome do cantor. Quando ele completou 15 anos de palcos, Rosane fez a segunda tatoo, desta vez no braço direito. Em sua casa, na zona sul da Capital, cercado de fãs, Jean lembra da primeira tatuagem em sua homenagem e reflete sobre a responsabilidade que carrega ao ter o seu nome marcado no corpo de mais de 200 mulheres.
O que sentiste quando rolou a primeira tatoo?
Primeiro, fiquei com medo. Depois, me acostumei quando apareceram mais meninas. Mas, cada vez que eu via uma (tatuagem em fã), ficava impressionado. E, naquela época, tatuagem remetia a algo para sempre. Hoje, é possível remover. Mas sei que o sentimento delas é pra vida toda. Vi aumentada a minha responsabilidade.
Em que sentido?
De honrar o nome que está colocado na pele de cada uma. Fico com a responsabilidade de honrar o que elas fizeram por mim e tentar levar uma vida digna. Imagina se eu faço qualquer coisa de errado, e elas estão com o meu nome? Isso poderia envergonhá-las. Eu preciso me policiar todo os dias, para errar menos.
O que te diferencia para que fãs tatuem teu nome?
Boa pergunta. Algumas músicas marcaram a vida delas, junto com o meu propósito, de passar alguma coisa por meio da música. Eu marquei a vida delas de tal maneira que quiseram retribuir dessa forma. É o que fica.
Nunca te envolveste em polêmicas. Isso ajudou?
Sem dúvida. Nunca fui para o funk ostentação ou para o mais ousado. Essa essência, por mais difícil que seja, eu mantive. Recebi propostas para mudar, poderia ganhar mais dinheiro, mas nunca me vendi, tenho orgulho disso. Nunca me vendi porque eu pensava nas meninas que fizeram a tatuagem. Tem uma frase que repito: “Não sou o MC mais estourado no mundo, mas tenho uma legião de fãs que chamo de fiéis escudeiras, que valem muito mais do que qualquer tesouro”.
E são de várias gerações.
Exato. Às vezes, pergunto: “Um dia, vocês não vão parar de me seguir?”. Acho que, daqui a um tempo, tu terás outra matéria com as que colocaram o meu nome nos filhos delas (risos).
Como foi saber da fã tatuada de número 200?
No meu íntimo, peço para que elas não façam mais (tatoo). Mas parece que, quanto mais peço, mais fazem (risos). Encontrei o Chorão (falecido em 2013) na Festa Nacional da Música, em Canela, mostrei umas fotos de fãs, e ele me disse: "Também tenho fãs que tatuaram meu nome ou rosto, mas não sabia que tu tinhas tantas assim. Ainda mais no Rio Grande do Sul."
Da número 1 a... 200!
Jean Paul anota em um caderno, em um local batizado de Sala dos Tesouros (que tentamos entrar, mas o músico disse que estava bagunçada), em sua casa, os nomes das mais de 200 que o tatuaram.
— Ele sempre foi exemplo para nós – diz a presidente do fã-clube, Rosane Oliveira, de Sapucaia do Sul, pioneira no "movimento".
Dezessete anos depois da primeira, veio a fã com tatoo de número 200. Em outubro, Iolanda Nunes, 34 anos, de Nova Santa Rita, tatuou o rosto do MC na perna esquerda:
— Tinha feito uma, mas apaguei, pois ele usava trança. Depois, mudou o cabelo. Me ajudou bastante para fazer essa.
Do baile de debutantes a papos em linha direta
Natural de São Paulo, mas em Porto Alegre desde os seus 14 anos, Jean subiu ao palco do Theatro São Pedro em 2007, em um show de funk com orquestra, algo inédito no local. Participou de oito edições do Planeta Atlântida e cantou no Japão, em 2008.
Seu baile de debutantes surgiu em 2010, da vontade de ajudar fãs, cujos pais não tinham condições de proporcionar uma festa de 15 anos. As meninas mandavam cartas, e ele fazia a seleção. A noite de princesa tinha todos os custos bancados e valsa com o ídolo. A iniciativa durou três anos. Amanda Carvalho, 24 anos, de Guaíba, ajuda a entender esse amor pelo artista:
— Ele fez um show, mas chegou o dia e não consegui ir. Chorei a noite inteira, liguei para ele, pedi desculpa e ele me disse: “Fica tranquila, estaremos sempre juntos”. Resolvi tatuar o nome dele (em setembro) em japonês. O Jean é o amor da minha vida.
Bárbara Ellen, 26 anos, do Partenon, tatuou parte da letra de Eu Menti, do músico:
— Para homenagear o jeito com que trata a gente, com carinho. Mesmo cansado, dá atenção, tira foto. É o diferencial dele.
Cada tatuagem, uma história
— Amanda Carvalho, 24 anos, de Guaíba, fã de Jean há oito anos, tatuou o nome do cantor em japonês, em setembro:
— Vou levar ele sempre comigo.
— Rosane Oliveira, 47 anos, de Sapucaia do Sul, acompanha o ídolo desde o seu começo de carreira:
— Tenho duas, uma em cada braço. A primeira, em 2002, e a outra, quando ele fechou 15 lindos anos de carreira.
— Luana Ostter, 21 anos, do bairro Bom Jesus, é fã do cantor há nove anos. Em 2012, tatuou a frase "Você é meu grande amor" no ombro direito e o nome do funkeiro no braço esquerdo:
— Fiz para tentar demonstrar um pouco do que sinto por ele.
— Iolanda Nunes, 34 anos, de Nova Santa Rita, é fã há mais de 15 anos. Tem o rosto do cantor na panturrilha:
— Tatuei, pois gosto dele (risos).
— Mariana Caroline, 26 anos, de Viamão, curte o músico há 13 anos. Tem duas tatuagens: uma próxima do ombro, que diz "Jean Paul, Amor Eterno", e outra perto da cintura, com o nome do MC:
— Fiz a tatuagem, pois foi amor à primeira vista. Antes, eu não era fã dele, era fã de outro grupo. Mas, quando eu o vi, foi amor à primeira vista, queria tatuar.
— Paula Gorski, 21 anos, do bairro Tristeza, tatuou o nome de Jean no braço esquerdo quando completou 18 anos. Ela o acompanha há oito anos:
— Meus pais não reclamaram, eles gostam dele. Vejo o Jean como ídolo, ele segue no funk com o mesmo ritmo, sem palavrão (nas letras). Acho que é isso que conquista o pessoal. A tatuagem é uma forma de agradecimento a ele, de gratidão.
— Karoline Barbosa, 24 anos, de Guaíba, tatuou o nome do cantor no braço direito, em 2010:
— Fiz depois que fui uma das debutantes do primeiro baile. Já tinha imaginado que, se fosse uma das escolhidas, eu ia tatuar (risos).
— Fã há cerca de 11 anos, Bárbara Ellen, 26, do bairro Partenon, tatuou na cintura parte da letra de Eu Menti:
– É uma música que me marcou muito, eu sempre ouvia na rádio, me tocava demais.
— Larissa Azevedo, 22 anos, do bairro Medianeira, acompanha o MC há cerca de 10 anos:
— Fiz a tatuagem após a festa de debutantes de que participei, em 2011. Com Jean, é assim. JP na pele, JP no coração!